Governos de países ocidentais expulsam diplomatas sírios
29 de maio de 2012Em protesto contra o massacre na localidade de Hula, diversos países ocidentais pediram nesta terça-feira (29/05) que embaixadores e diplomatas sírios se retirassem de seus territórios. Segundo o primeiro-ministro britânico, William Hague, a lista desses países inclui a Alemanha, Austrália, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Itália e Reino Unido, e outros governos da União Europeia pretendem seguir seu exemplo. Assim, a comunidade internacional procura aumentar a pressão para que Bashar al Assad renuncie à presidência da Síria.
Mulheres e crianças
Entre os mortos do massacre da última sexta-feira encontram-se 49 crianças e 34 mulheres. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, menos de 20 das 108 vítimas fatais (até o momento) sucumbiram devido a disparos de artilharia ou de tanques de combate. "A maioria das outras vítimas sofreu execução coletiva, em dois episódios separados", declarou o porta-voz Rupert Colville em Genebra.
Damasco rechaçou qualquer responsabilidade pelo ato, acusando "terroristas armados". O vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Faisal Mekdad, argumentou à imprensa: "Seria irracional um partido que pretende apoiar o sucesso da missão de Kofi Annan perpetrar tal massacre".
No entanto, testemunhas oculares responsabilizaram a Shabiha pelos ataques em Hula. Aliada do governo Assad, essa milícia costuma operar de comum acordo com as tropas governamentais.
Punição máxima
A expulsão de um embaixador é uma das medidas punitivas mais severas que uma nação pode adotar, no contexto da diplomacia. Sua aplicação está prevista no Artigo 9 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas.
O embaixador da Síria na Alemanha, Radwan Lutfi, foi pessoalmente informado sobre seu afastamento às 14h desta terça-feira, no Ministério das Relações Exteriores em Berlim. Declarado persona non grata, o diplomata de 52 anos recebeu 72 horas para deixar o país, juntamente com sua família. Lutfi é casado e tem seis filhos.
Nas últimas semanas, ele fora repetidamente convocado ao Ministério do Exterior alemão para escutar os protestos de Berlim diante do procedimento brutal de Assad contra o movimento de oposição. Em fevereiro, quatro funcionários da embaixada da Síria foram expulsos do país, sob acusação de espionar e intimidar oposicionistas sírios. Há meses a embaixada alemã em Damasco encontra-se fechada, devido às tensões entre os dois países.
Sem futuro sob Assad
O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, responsabilizou diretamente o ditador pelo massacre de 26 de maio. "Quem emprega armamentos pesados contra o próprio povo, desrespeitando as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, deve esperar consequências políticas e diplomáticas sérias", comentou.
"Contamos que nossa mensagem inequívoca a Damasco não irá encontrar ouvidos moucos", prosseguiu o ministro liberal-democrático, concluindo: "A Síria não tem futuro sob Assad. Ele tem que liberar o caminho para uma mudança pacífica no país".
O Reino Unido também convidou o encarregado de negócios e mais dois diplomatas sírios a deixarem o país. O embaixador da Síria já se fora de Londres há meses. O presidente francês, François Hollande, anunciou para o início de julho um novo encontro do grupo "Amigos da Síria", formado por cerca de 60 Estados e organizações internacionais, visando a reforma democrática no país.
Em Bruxelas, a União Europeia anunciou novas medidas de pressão diplomática. Todavia, um porta-voz de Catherine Ashton, chefe da diplomacia europeia, ressalvou: "Tudo precisa ter base em resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas". A UE já impôs 16 sanções contra o regime Assad, entre as quais interdição de entrada de pessoas nos países do bloco, congelamento de contas bancárias, embargo de petróleo e a proibição de exportar diversas mercadorias.
Mais seis mortos
Na qualidade da mais importante liga oposicionista do país, o Conselho Nacional Sírio saudou as expulsões pelos governos ocidentais dos diplomatas ligados ao governo Assad. Ao mesmo tempo, o grupo conclamou a comunidade internacional a suspender "todos os laços diplomáticos" com o governo em Damasco.
O enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan, encontra-se em Damasco nesta terça-feira com o presidente Assad, e estão previstas reuniões com outros representantes do governo, assim como da oposição e da sociedade civil.
Apesar de todos os esforços internacionais pela paz, a violência na Síria perdura. Segundo a Agência de Observação Síria para os Direitos Humanos, sediada em Londres, pelos menos outros seis civis foram mortos nesta terça-feira.
AV/dpa/dapd/afp
Revisão: Carlos Albuquerque