Governo e oposição fazem últimas investidas por votos
16 de abril de 2016Após dois dias de debates na Câmara, a votação do processo de impeachment pelo plenário começa neste domingo (17/4) sem que nenhum dos dois lados tenha assegurado uma maioria confortável que permita prever o desfecho da disputa com segurança.
Placares com as intenções de votos elaborados pelos principais jornais do país apontam que a oposição conquistou ao longo da semana uma maioria para dar continuidade ao processo, mas por pouca margem – as sondagens não iam além de cinco votos acima do número de 342 deputados necessários para remeter o processo ao Senado.
A horas do início da votação, prosseguiam negociações de ambos os lados para atrair um grupo de 35 deputados considerados “flutuantes”, que ainda estão indecisos ou não declararam publicamente o voto. A maioria dos levantamentos dos jornais aponta que o governo está abaixo da meta de 172 votos necessários para barrar o processo – ela teria entre 126 e 134.
Só que no caso de Dilma, eventuais ausências a beneficiam, já que na prática contam como um voto a favor do Planalto – e na última semana o governo tem tentado convencer vários deputados indecisos a boicotar a votação. Já é certo que pelo menos dois deputados que entraram de licença vão faltar a sessão – um deles é Clarissa Garotinho (PR-RJ), que estava sendo computada no campo da oposição.
Estratégias
Nos últimos dias, os adversários de Dilma foram tomados por um clima de “já ganhou” causado por uma debandada na quinta e sexta-feira entre aliados do governo, que acabou engordando o placar pró-impeachment poucos dias antes da votação. A oposição também dominou os fatos políticos da semana, ao anunciar praticamente todos os dias o desembarque de um partido da base de apoio da presidente e ao acusar o governo de “comprar” deputados em troca de apoio.
Só que ao mesmo tempo os opositores também têm manifestado preocupação com os últimos movimentos do Planalto, que arregimentou governadores aliados para tentar convencer as bancadas dos seus estados a aderirem ao governo.
O governo também tem apostado em uma estratégia de tentar solidificar a imagem de Dilma como uma chefe de Estado com reputação honesta que está sendo vítima de um golpe orquestrado por adversários de ficha suja. Com isso, o governo pretende atrair deputados que não gostam muito da ideia de se associar com figuras como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de não ter legitimidade para conduzir o processo.
A oferta de cargos para atrair apoios também não parou. O governo publicou na sexta-feira de noite um número extra do Diário Oficial para nomear e exonerar mais de uma centena de cargos de comissão do governo federal.
Na noite de sexta-feira, Dilma lançou um dos seus últimos apelos ao público. Em um vídeo publicado na internet, ela voltou a afirmar que está sendo vítima de um golpe, chamou os deputados pró-impeachment de “traidores da democracia” e reciclou a estratégia do “medo” já usada contra seus adversários na campanha de 2014.
Só que desta vez o alvo foi seu vice, Michel Temer, a quem ela acusou de pretender cortar programas sociais, caso assuma a Presidência. Temer rebateu a presidente em sua conta no Twitter e disse que as declarações são uma “mentira rasteira”.
Mas o governo também tem mandando sinais contraditórios. Alguns ministros falam que permanecem otimistas, mas outras figuras já especulam como deve ser a batalha no Senado e uma eventual oposição a um governo Temer, apostando que o PT deve abraçar a tese da necessidade de novas eleições gerais.
Outros fatores, como a ordem de votação estabelecida por Cunha, que prevê intercalar inicialmente a votação com as bancadas do Sul e do Sudeste, também devem influenciar a contagem. O Planalto teme que as bancadas sulistas, mais numerosas e hostis ao governo, inflem os números iniciais e acabem provocando pressão sobre deputados pouco convictos de votar a favor do governo ou que vão decidir seu voto na hora, seguindo a tendência que conseguir uma vantagem na largada.
Protestos
Se no interior da Câmara o desfecho ainda permanece incerto, do lado de fora o clima também deve ser de tensão. A Esplanada dos Ministérios vai contar com a presença de 3 mil policiais militares e 500 bombeiros. Um muro de contenção foi levantado para separar os grupos pró e contra o impeachment que vão se reunir em frente ao Congresso para acompanhar a votação. A expectativa é que 300 mil pessoas acompanhem a votação no gramado da Esplanada.
As autoridades do Distrito Federal também resolveram proibir que os manifestantes usem balões aéreos de identificação dos movimentos e bonecos considerados ofensivos e provocativos para grupos adversários, como forma de conter os ânimos. Portanto, peças como o "Pixuleco" e o pato inflável da Fiesp não devem ser vistos em locais próximos do Congresso neste domingo.
Também são esperadas manifestações em outras capitais. Em São Paulo, grupos opositores devem se reunir na Avenida Paulista. Serão montados dois telões para acompanhar a votação. Já os manifestantes pró-governo vão se reunir no Vale do Anhangabaú, no centro.