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Governo da Itália mescla novos rostos com velhos conhecidos

Kirstin Hausen (md/afp) 29 de abril de 2013

Pela primeira vez desde 1947, a Itália é dirigida por uma aliança reunindo políticos de esquerda e de direita. Porém, pastas decisivas, como Finanças e Trabalho, ficaram nas mãos de tecnocratas.

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Foto: Reuters

O mandato deles já começou com um choque: enquanto o novo primeiro-ministro italiano Enrico Letta e seus ministros faziam o juramento à Constituição, no último domingo (28/04), tiros foram ouvidos diante do Palácio Chigi, sede do governo em Roma.

O atirador seria, de acordo com relatos iniciais, um homem psiquicamente doente, vestindo terno e gravata. Feriu dois policiais e uma transeunte. Tentou fugir, mas foi capturado e ferido. A cerimônia de posse continuou conforme o planejado, apesar do grave incidente. Os novos ministros se mostraram chocados com o tiroteio.

Italien Schüsse vor dem Amtssitz des designierten italienischen Ministerpräsidenten Enrico Letta
Polícia interditou rua após tiroteio que ofuscou posseFoto: picture-alliance/AP Photo

Os tiros remeteram aos chamados "anos de chumbo" da Itália (décadas de 1970 e 1980), marcadas pelos atentados da extrema esquerda (Brigada Vermelha) e da extrema-direita.

Velha guarda e caras novas

Em tempo recorde, o primeiro-ministro italiano montou uma equipe combinando velhos e novos rostos. O gabinete de 21 membros de Letta traz rostos desconhecidos, incluindo sete mulheres, como a médica e ativista dos direitos humanos Cécile Kyenge, nativa da República Democrática do Congo. Responsável pela pasta de Integração, ela é a primeira ministra negra da Itália. Outra novidade é a ex-atleta alemã naturalizada italiana Josefa Idem, que assume a pasta de Igualdade de Oportunidades.

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Cécile Kyenge, nascida no Congo Democrático, é a primeira ministra negra italianaFoto: VINCENZO PINTO/AFP/Getty Images

Mas há também representantes da velha guarda da política italiana, que ocuparam os postos ministeriais mais importantes. O Ministério da Infraestrutura será chefiado por Maurizio Lupi, do Povo da Liberdade (PDL), partido do ex-premiê Silvio Berlusconi. O Ministério do Interior é presidido por Angelino Alfano, primeiro-secretário do PDL e íntimo de Berlusconi, em cujo governo foi ministro da Justiça.

Alfano também é o vice-primeiro-ministro, uma posição de destaque que serve como consolo ao ex-premiê, por ele não ter conseguido nomear um responsável para o Ministério da Justiça. Anna Maria Cancellieri, chefe da pasta do Interior do governo de Mario Monti, é que vai assumir a Justiça.

Isso levanta a questão sobre se a reforma judiciária, considerada urgente por Berlusconi, está realmente entre as prioridades do novo governo. Letta já avisou que colocará em primeiro plano a luta contra o desemprego e a crise econômica. "As pequenas e médias empresas são o coração da nossa economia; os jovens recém-formados que migram para o exterior porque não encontram trabalho aqui: esses são casos de emergência, que devemos resolver", afirmou.

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Presidente Giorgio Napolitano e Enrico Letta, durante cerimônia de posseFoto: VINCENZO PINTO/AFP/Getty Images

Outro nome conhecido é o da ex-comissária europeia Emma Bonino, integrante do pequeno Partido Radical, que ficou com o Ministério do Exterior.

Otimismo cauteloso

Os principais ministérios, do Trabalho e das Finanças, foram atribuídos por Letta a especialistas apartidários. O diretor do Banco da Itália (Banco Central), Fabrizio Saccomanni, assumirá o Ministério da Economia e Finanças. O do Trabalho ficará nas mãos de Enrico Giovannini.

"Felizmente", festeja Anselmo Soffri, que vive em Brianza, uma das áreas mais produtivas na Lombardia. "Finalmente eles vão fazer algo pela economia, por todas as fábricas que estão a um passo de fechar e que não recebem ajuda. Aqui, já houve empresários que cometeram suicídio porque não queriam despedir seus funcionários, mas não tinham mais como pagá-los." Soffri diz não acreditar que os políticos consigam resolver os graves problemas econômicos do país.

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Novo gabinete, com políticos de linhas distintas, dá a italianos motivos para esperança comedidaFoto: Reuters

Já a dona de casa Rodolfa Pannetti tem mais confiança no novo primeiro-ministro e em seu gabinete. "Letta disse que seu governo vai cuidar especialmente das necessidades dos cidadãos, da população, do país. Deveria ser sempre assim. Afinal, é para isso que existe um governo", suspira. "Esperemos que este governo dure, pois a rivalidade interna salta aos olhos."

O governo reúne integrantes que diferem muito em suas crenças políticas. Um ministro de esquerda da pasta de Desenvolvimento Econômico precisa cooperar com o ministro conservador da Infraestrutura para criar as condições para uma maior produtividade e maior competitividade. Esta não será uma tarefa fácil. Mas a Itália precisa urgentemente de medidas para se recuperar economicamente.

Italien Wahlen Silvio Berlusconi
Berlusconi garantiu forte influência no novo governoFoto: Olivier Morin/AFP/Getty Images

Partido de Berlusconi festeja

Berlusconi está satisfeito com a equipe. Ele conseguiu muita influência no novo governo, embora apenas um quarto dos italianos tenha votado em sua aliança partidária. Seu partido ocupa cinco ministérios. "Apresentamos a Enrico Letta oito pontos para o programa de governo e ele aceitou todos. Assim, tivemos uma importante vitória", comentou o porta-voz para assuntos econômicos do PDL, Renato Brunetta, ao término das negociações de coalizão.

Já o Partido Democrático (PD) apresenta o atual governo como "o único possível" e engole os comentários irônicos dos meios de comunicação controlados por Berlusconi. O PD, que saiu vencedor das eleições parlamentares, está representado por nove ministros no novo governo.