Governo argentino sofre derrota e perde controle do Senado
15 de novembro de 2021A coalizão peronista Frente de Todos, do presidente Alberto Fernández, perdeu a maioria no Senado argentino nas eleições legislativas de meio de mandato realizadas neste domingo (14/11) e, assim, não terá mais o controle do Congresso pela primeira vez desde a redemocratização, em 1983.
Após a apuração de mais de 98% dos votos, o governo peronista de centro-esquerda deverá obter apenas 35 de 72 cadeiras no Senado. Até a eleição, a coalizão eleita em 2019 e construída por uma mescla de políticos moderados aliados de Fernández, bem como por uma fração de esquerda considerada mais radical em torno da vice-presidente Cristina Kirchner, detinha 41 cadeiras.
O movimento conservador Juntos pela Mudança ganhou quase 42% dos votos. Segundo o jornal "La Nación", foi surpreendente que na populosa província de Buenos Aires, tradicional reduto peronista, a diferença nos votos obtidos pelos dois blocos foi de apenas 2%.
Mais de 70% dos cerca de 34 milhões de eleitores compareceram às urnas para eleger 127 deputados e 24 senadores.
A votação para metade das cadeiras da Câmara Baixa e um terço das cadeiras do Senado também foi vista como um teste sobre a aprovação do governo argentino. As próximas eleições presidenciais no país sul-americano deverão ser realizadas em 2023.
Derrota dificulta governabilidade
Analistas esperam que a perda iminente da maioria absoluta no Senado torne o restante do mandato de Fernández e da vice-presidente Cristina Kirchner, que também é presidente do Senado, mais complicado. Embora o revés tenha sido menor do que após as eleições primárias de setembro, a Frente de Todos precisa agora buscar aliados para governar.
Nas primárias, a coalizão governista já perdera para a oposição do ex-presidente Mauricio Macri e perdeu a maioria na Câmara dos Deputados.
"Devemos priorizar acordos nacionais se quisermos resolver os desafios que enfrentamos", disse o presidente em discurso no domingo.
"Assim que possível, vou me dirigir aos representantes da vontade do povo e das forças políticas que eles representam, para chegar a um acordo sobre uma agenda que seja o mais compartilhada possível. Uma oposição responsável e aberta ao diálogo é uma oposição patriótica. Nosso povo precisa desse patriotismo", disse ele em tom conciliatório.
Negociações para refinanciar dívida externa
O país de 45 milhões de habitantes está em meio a uma grave crise econômica e financeira. A taxa de inflação está em torno de 50%; a moeda nacional, o peso, está enfraquecendo cada vez mais em relação ao dólar. Enquanto isso, 42% da população da Argentina vive abaixo da linha de pobreza. Problemas com a aquisição da vacina contra covid-19 e celebrações privadas no palácio presidencial, apesar das regulamentações de quarentena, desgastaram a imagem do governo.
Após a pesada derrota nas eleições primárias de setembro, eclodiu abertamente o conflito entre apoiadores de Fernández e seguidores da vice-presidente Kirchner. Sob pressão da ex-presidente, Fernández remodelou seu gabinete de governo. O país está diante de negociações da dívida externa junto ao Fundo Monetário Internacional. A Argentina deve bilhões ao FMI e espera um novo acordo de refinanciamento.
rw (dw, dpa, afp, Reuters, ots)