Prêmio
7 de dezembro de 2008O longa italiano Gomorra, dirigido por Matteo Garrone, levou as estatuetas de melhor filme, melhor diretor, melhor ator (Toni Servillo), melhor roteiro (Maurizio Braucci, Ugo Chiti, Gianni de Gregorio, Matteo Garrone, Massimo Gaudioso e Roberto Saviano) e melhor fotografia (Marco Onorato) na cerimônia de entrega do Prêmio Europeu do Cinema em Copenhague, na noite do último sábado (6/12).
O filme de Garrone tem como cenário as intrincadas estruturas da Camorra, a máfia napolitana. O roteiro foi construído a partir do livro homônimo de Roberto Saviano, que se tornou bestseller na Itália. Saviano não pôde comparecer à cerimônia em Copenhague "por questões de segurança". O escritor, que é também um dos roteiristas do filme, vem sendo ameaçado de morte depois das denúncias feitas em seu livro.
"Poderia ser no Brasil"
Falado no dialeto local, o filme narra como os jovens da região de Nápoles são atraídos pelo crime organizado e como a máfia exerce seu poder sobre diversos âmbitos da sociedade. E não só da sociedade italiana.
Em entrevista à rede de TV alemã Bayerischer Rundfunk, quando o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no último Festival de Cinema de Cannes, Garrone afirmou: "Eu não relacionaria essa situação praticamente insolúvel apenas com a Itália. A história poderia acontecer de forma semelhante também no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Em todo lugar há garotos que sonham em se tornar jogadores de futebol, há mulheres obrigadas a cuidar sozinhas de seus filhos e jovens que acreditam em Deus, mas nem assim recusam a brutalidade".
Zona de guerra
Garrone lembra que as ações da máfia não se limitam a Nápoles e seus arredores, mas possuem ramificações em vários países do mundo, inclusive na Alemanha. As organizações mafiosas movimentam ao ano em torno de 150 bilhões de euros. "Como uma multinacional", lembra o diretor à TV alemã.
Além da premiação em Cannes e dos cinco prêmios recebidos em Copenhague, Gomorra é um dos filmes indicados para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Durante a cerimônia na capital dinamarquesa, o diretor afirmou que divide o prêmio "com a população de Nápoles, que é obrigada a viver numa zona de guerra". Concentrado na linha tênue que separa o bem do mal e a legalidade da ilegalidade, Gomorra obteve enorme sucesso de público na Itália.
Homenagem ao "Dogma"
Max Richter, alemão radicado no Reino Unido, foi premiado em Copenhague na categoria de melhor trilha sonora por seu trabalho no elogiado documentário-animação Waltz with Bashir. Richter foi o único alemão a levar um prêmio este ano.
A Academia Européia de Cinema, sediada em Berlim, premia anualmente em 15 categorias os melhores filmes europeus desde 1988. O cineasta alemão Wim Wenders, presidente da Academia, conduziu a cerimônia de entrega dos prêmios.
Pelo conjunto da obra, o Prêmio Europeu do Cinema foi para a atriz britânica Judi Dench e para os diretores Lars von Trier, Thomas Vinterberg, Søren Krag Jacobsen e Kristina Levring, autores do Manifesto Dogma, lançado em 1995 contra a "hegemonia crescente da manipulação tecnológica" no cinema de ficção.