Gazprom reduz ainda mais fornecimento de gás à Alemanha
15 de junho de 2022Um dia após cortar em 40% o fornecimento de gás natural para Alemanha através do gasoduto Nord Stream 1, no Mar Báltico, a estatal russa Gazprom anunciou nesta quarta-feira (15/06) que vai reduzir o envio do combustível fóssil em mais um terço.
A Gazprom alega problemas com equipamentos fornecidos pela empresa alemã Siemens, mas Berlim afirma tratar-se de uma "decisão política" do Kremlin, perante as sanções dos países Ocidentais face à invasão da Ucrânia pela Rússia.
"A Gazprom interrompe a operação de mais uma turbina a gás da Siemens na estação de compressão de Portovaia [onde o Nord Stream 1 é abastecido]", indicou a empresa.
A partir da 1h30 desta quinta-feira, a entrega diária de gás cairá de 100 milhões para 67 milhões de metros cúbicos. Na terça-feira, a Gazprom já havia anunciado uma redução de 167 milhões para 100 milhões de metros cúbicos diários, justificando problemas em uma turbina da Siemens.
A Gazprom alega que uma turbina da Siemens no ponto de partida do gasoduto teve que ser retirada de serviço. Os compressores são usados em gasodutos para levar o gás natural à pressão necessária para o transporte de longa distância.
Na terça-feira, a Gazprom já havia culpado a Siemens pelos problemas, devido a atrasos na devolução de uma turbina que foi para manutenção. Na ocasião, a Siemens Energy respondeu que o atraso ocorreu porque o equipamento foi levado ao Canadá para uma revisão programada e não foi devolvido devido às sanções à Moscou.
Alemanha contradiz empresa
Para o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, a justificativa para o corte no fornecimento de gás é "uma farsa". "Obviamente é a estratégia para desestabilizar e elevar os preços", afirmou. Ele espera que a Rússia restrinja ainda mais as entregas. "Ainda não acabou", disse. "Pode estar apenas começando".
Habeck salientou que, apesar da redução, não haverá "problemas de abastecimento" na Alemanha. A Europa vive o verão, quando menos gás é necessário, por exemplo, para aquecimento. E os fornecedores sempre conseguiram importar gás de outras fontes.
Nos próximos meses, no entanto, a questão será até que ponto as instalações de armazenamento de gás alemãs poderão ser preenchidas antes do início dos meses frios.
De acordo com o governo, 56% dos estoques estão cheios. Mesmo assim, mais uma vez, Habeck pediu economia de energia. "E é claro que também tomaremos medidas governamentais, se necessário", destacou.
Redução em outros países
As exportações de gás russo para os países de fora da Comunidade dos Estados Independentes, um grupo de nove ex-repúblicas soviéticas, caíram 28,9% desde o início do ano em comparação com o mesmo período do ano passado.
Nas últimas semanas, a Gazprom interrompeu as entregas de gás a vários clientes europeus que se recusaram a fazer pagamentos em rublos, a moeda russa, como Finlândia, Dinamarca e Holanda.
Além disso, o gás já havia parado de ser bombeado pelo gasoduto Yamal-Europa, pela Polônia. O trânsito de gás russo pela Ucrânia também está reduzido.
Soma-se a isso o fato de o gasoduto Nord Stream 2, embora concluído, ainda não estar em operação, em parte por pressão de vários países à Alemanha, como uma espécie de "sanção" à Rússia.
Na Itália, segundo país da Europa que mais exporta gás russo – atrás apenas da Alemanha –, a redução será de 15%. Segundo a empresa de energia italiana Eni, nenhum motivo foi justificado pela Gazprom para a redução.
A oferta mais baixa de gás da Rússia e a busca por outros fornecedores deixam os preços do gás mais caros, o que pode impactar os consumidores. Outra razão para o forte aumento dos preços é uma explosão em uma instalação de produção de gás natural liquefeito (GNL) no Texas, na semana passada, dificultando a entrega dos EUA para a Europa.
O gasoduto Nord Stream 1 é o de maior capacidade entre a Rússia e a Alemanha. Segundo a empresa operadora, 59,2 bilhões de metros cúbicos de gás natural foram exportados da Rússia para a Europa através dele em 2021.
Do lado alemão, o projeto foi impulsionado pelo ex-chanceler federal Gerhard Schröder, que governou até 2005 e é muito próximo ao presidente russo, Vladimir Putin.
le (AFP, AP, DPA, Reuters, Lusa, ots)