Garotas são excluídas de volta às aulas no Afeganistão
18 de setembro de 2021Alunas da escola secundária foram excluídas do retorno às aulas no Afeganistão neste sábado (18/09), depois que o novo governo liderado pelo Talibã ordenou que apenas meninos e professores homens voltassem às salas de aula.
"Todos os professores e alunos do sexo masculino devem comparecer às suas instituições de ensino", afirmou um comunicado do Ministério da Educação afegão, pouco antes do início das aulas neste sábado. A nota, divulgada na sexta-feira, não faz qualquer menção a professoras e alunas.
As escolas secundárias, frequentadas geralmente por estudantes de 13 a 18 anos, costumam ser segregadas por sexo no Afeganistão. Ao longo da pandemia de covid-19, as instituições enfrentaram repetidos fechamentos, e as aulas estavam totalmente suspensas desde que o Talibã tomou o poder em agosto.
O grupo fundamentalista islâmico havia prometido um governo mais brando que seu regime repressivo na década de 1990, quando mulheres eram em grande parte proibidas de estudar e trabalhar. Mas agora, o mais recente comunicado sobre a reabertura das escolas secundárias elevou os temores sobre as ameaças aos direitos das mulheres no país.
Desde que uma invasão liderada pelos Estados Unidos derrubou o regime talibã em 2001, um progresso significativo foi feito na educação de meninas e mulheres, com o número de escolas triplicando e a alfabetização feminina quase dobrando para 30% – embora essa mudança tenha sido amplamente limitada às cidades, excluindo as zonas rurais.
As Nações Unidas disseram estar "profundamente preocupadas" com o futuro da escolaridade feminina no Afeganistão.
"É fundamental que todas as meninas, incluindo as mais velhas, possam retomar sua educação sem mais atrasos. Para isso, precisamos de professoras para retomar o ensino", afirmou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
As escolas primárias já foram reabertas no país, com meninos e meninas frequentando classes separadas e algumas professoras retornando ao trabalho.
"As meninas estudam de manhã, e os meninos estudam à tarde", contou à agência de notícias Reuters uma professora de uma escola particular em Cabul, que antes do Talibã tinha classes mistas. "Professores homens lecionam aos meninos, e professoras, às meninas."
O novo regime talibã também permitiu que as mulheres frequentem universidades privadas, embora com fortes restrições às suas roupas e movimentos.
Fim do Ministério da Mulher
Em mais um sinal de que a abordagem do Talibã em relação às mulheres não abrandou, o prédio que abrigava o ministério para assuntos femininos deu lugar a uma controversa pasta conhecida por impor doutrinas religiosas rígidas durante o regime talibã de 1996 a 2001.
Na sexta-feira, trabalhadores foram vistos erguendo uma placa para o chamado Ministério para Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, no lugar do antigo Ministério da Mulher em Cabul.
Vídeos publicados nas redes sociais mostraram funcionárias do antigo ministério protestando do lado de fora do edifício após perderem seus empregos.
Embora ainda marginalizadas, as mulheres afegãs lutaram e conquistaram direitos básicos nos últimos 20 anos, tornando-se legisladoras, juízas, pilotas e policiais.
Centenas de milhares entraram no mercado de trabalho – por necessidade em alguns casos, já que muitas mulheres ficaram viúvas ou agora sustentam maridos impossibilitados de trabalhar como resultado de décadas de conflito.
O Talibã tem mostrado pouca inclinação para honrar esses direitos – nenhuma mulher foi incluída no governo interino anunciado recentemente, e muitas foram impedidas de voltar ao trabalho.
ek (AFP, Reuters, ots)