G7 se reúne com agenda cheia, mas sob pouca expectativa
6 de junho de 2015Picos cobertos de neve, campos verdes e rios azuis. Em meio ao turístico panorama alpino está o Castelo Elmau, um hotel cinco estrelas na Baviera. A partir de domingo (07/06), ele será palco do encontro de dois dias dos chefes de Estado e governo de Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido – o G7.
"Queremos mostrar aos nossos convidados uma parte linda da Alemanha e nos reunir neste ambiente numa forma que seja importante para os resultados da cúpula", justificou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, a escolha do local.
Uma escolha cara: a cúpula do G7 vai custar aproximadamente 360 milhões de euros, inclusive os gastos com a mobilização de 19 mil policiais, responsáveis pela segurança do castelo e seus arredores.
Conversa franca em pequena roda
Tematicamente, o encontro está marcado pelas atuais crises e catástrofes humanitárias. A re-escalada do conflito na Ucrânia, o arrefecimento das relações com a Rússia, a luta contra a organização terrorista "Estado Islâmico", as cerca de 2 bilhões de pessoas desnutridas e famintas – a lista é longa.
"Para mim, o mais importante é que os sete chefes de governo e de Estado abordem os temas importantes", disse Merkel em entrevista à DW. "São Estados que compartilham os mesmos valores. O G7 tem um intercâmbio livre e intenso, determinado por sistemas estatais democráticos."
De fato, os encontros de cúpula do G7 proporcionam um fórum único, onde se pode discutir francamente numa roda confidencial. Nesse ponto, a rodada manteve-se fiel à antiga ideia dos "bate-papos ao pé da lareira", de proporcionar uma verdadeira troca de opiniões numa atmosfera íntima.
Para Merkel, no entanto, o encontro é mais do que somente uma cúpula diplomática para a discussão de crises. Para a chanceler federal, o G7 deve enviar sinais e estímulos para reflexão.
De economi a mudanças climáticas
Após a expulsão da Rússia do G8, o G7 se vê cada vez mais como uma comunidade de valores, que tem de assumir um papel de pioneiro. Segundo Merkel, o grupo se propõe a melhorar as condições de vida no planeta e possibilitar o acesso ao bem-estar social à maior quantidade possível de pessoas.
Por esse motivo, na programação do encontro, estão as mudanças climáticas e também temas tão distintos como a proteção do meio ambiente marinho, resistência aos antibióticos e a luta contra epidemias como ebola.
Segundo Merkel, o G7 deveria assumir a responsabilidade de eliminar a fome e a pobreza absoluta até 2030. Somente se a alimentação de uma população mundial em constante crescimento for assegurada, outros estágios de desenvolvimento terão uma chance, explicou.
Na segunda-feira, segundo dia da cúpula, os presidentes da Nigéria e da Tunísia, assim como o primeiro-ministro do Iraque, vão sentar-se à mesa de reuniões. As conversas deverão girar em torno do combate ao terrorismo, mas também sobre como o G7 pode apoiar a inclusão de todos os segmentos da população na definição do futuro político.
Segurança do trabalho
Merkel também garantiu que os pontos educação, perspectivas profissionais de jovens e mulheres e segurança do trabalho subissem de prioridade na agenda. Concretamente, o G7 vai discutir o cumprimento de padrões sociais e ambientais globais na produção e distribuição de roupas, alimentos e outros produtos. Isso é uma reação aos incêndios e grandes acidentes em fábricas têxteis em Bangladesh, mas também é um exemplo de uma iniciativa que se baseia em valores comuns do G7.
A cúpula deverá promover a implementação de um fundo global de prevenção, destinado ao financiamento da proteção contra incêndios, inspetores de trabalho e seguro contra acidentes laborais. No encontro na Baviera, porém, não será decidido nem o tamanho nem a origem do financiamento.
Para os opositores do G7, esse exemplo mostra de forma sintomática que, na cúpula, vai-se falar muito, mas sobre coisa pouco importante. Segundo a bancada do partido A Esquerda no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), sem que regras vinculativas para as empresas de atuação global sejam aprovadas, incluindo diretrizes de indenização para as vítimas e um direito penal empresarial também na Alemanha, o fundo vai continuar um "tigre sem dentes".
Em sua página de internet, o grupo de ativistas Stop G7 Elmau 2015 escreveu: "Os representantes dos mais ricos e poderosos países do mundo reivindicam decidir o destino de todo o mundo, sem ter qualquer legitimidade para tal. A política do G7 significa políticas econômicas neoliberais, guerra e militarização, exploração, pobreza e fome, degradação ambiental e bloqueio a refugiados."
Num gramado na cidade de Garmisch-Partenkirchen, os ativistas montaram um acampamento para cerca de mil opositores do encontro. A princípio, a prefeitura da cidade proibiu o acampamento, mas um tribunal de Munique revogou a decisão: eles têm o direito de protestar.
Pouca expectativa
No domingo, pouco antes do início da reunião, Merkel deverá se encontrar com o presidente americano, Barack Obama, para um café da manhã no vilarejo de Krün. A foto de abertura do encontro deverá ser então os dois diante de um cenário pitoresco. Mas a chanceler federal sabe que somente fotos bonitas não serão suficientes para tornar a cúpula um sucesso. Ela vai insistir para que algo concreto saia dali.
Quanto ao tema da proteção climática, ainda não se sabe se será adotado o objetivo de limitar o aquecimento global a 2°C. Para tal, a emissão de gases do efeito estufa teria que ser reduzida drasticamente. A Alemanha pretende diminuir as suas emissões de CO2 em 40% até 2020, tendo como referência o ano de 1990. Para os outros países, isso parece um objetivo ambicioso demais. Mesmo assim, a chanceler federal espera dos países industrializados um papel de precursor e um sinal positivo com vista à conferência sobre o clima no fim do ano em Paris.
Segundo Claudia Schmucker, do instituto alemão DGAP, somente se forem alcançados objetivos concretos pode-se justificar o grande esforço feito a cada ano para que os chefes de governo e Estado dos países do G7 se encontrem oficialmente.
Desde a crise econômica e financeira mundial, o grupo das 20 principais economias do planeta, com potências econômicas emergentes como China, Índia e Brasil, tem ganhado cada vez mais importância. "O G7 ainda é importante", afirmou Schmucker. "Mas somente resultados com base em valores comuns podem poupar a cúpula de se tornar insignificante."