G20 em Seul
12 de novembro de 2010Foi uma noite longa para os negociadores das 20 maiores economias do planeta, afinal a pressão era enorme para que os líderes tivessem em mãos, na manhã desta sexta-feira (12/11), uma declaração final digna de ser assinada.
E pontos de discordância havia de sobra: como regular o desequilíbrio no comércio mundial? Como evitar a corrida pela desvalorização das moedas nacionais? Essas questões haviam sido colocadas principalmente pelo presidente Barack Obama e direcionadas às duas maiores nações exportadoras, Alemanha e China.
Negociações difíceis
A frente formada por Berlim e Pequim segurou a pressão e, ao final, Obama teve que ceder e se contentar com uma solução intermediária. Um limite claro para superávits e déficits na balança comercial, como os EUA queriam, foi descartado.
Em vez disso, os países buscarão mecanismos, no âmbito do Fundo Monetário Internacional (FMI), para solucionar o problema do desequilíbrio no comércio entre as nações. Uma solução com a qual a chanceler federal alemã, Angela Merkel, concordou, ainda que não seja a ideal para a Alemanha.
Segundo ela, as negociações foram difíceis, mas ao final todos concordaram que um crescimento sustentável da economia e desequilíbrios no comércio exterior "não podem ser atrelados a um indicador, mas que para isso são necessários uma série de fatores. Estes necessitam agora ser discutidos e isso seria feito no próximo ano pelos ministros da Economia" do G20.
Críticas aos EUA
Assim, a chamada guerra cambial ficou sem solução e o problema foi empurrado para a presidência francesa do G20, que começa em 2011. Mas o encontro em Seul conseguiu ao menos amenizar o confronto, que envolve principalmente os Estados Unidos e a China.
Por um lado, a China voltou a valorizar o yuan nos últimos dias, demonstrando boa-vontade e flexibilidade. Por outro lado, os Estados Unidos tiveram que ouvir muitas críticas dos outros países à sua política monetária. Afinal, a enxurrada de dinheiro novo no mercado anunciada pelo Fed (Banco Central dos EUA) também é uma medida com consequências negativas para outros países.
A ideia agora é construir um sistema de alerta que permita vigiar melhor fluxos de capital. No documento final, os países se comprometeram a renunciar a uma desvalorização das moedas com o objetivo de fortalecer a competitividade da própria economia. O câmbio deve refletir apenas a força da economia nacional em comparação com as de outras nações.
Rodada de Doha
A melhor receita para um crescimento equilibrado é a finalização da Rodada de Doha, dada por fracassada há cerca de dois anos. Essa formulação costuma estar em todos os documentos finais do G20, mas desta vez a vontade conjunta era perceptível.
O protecionismo, afirmou Merkel, pode seriamente pôr em risco o crescimento mundial. O comércio livre, ao contrário, seria um sinal claro para continuar no caminho do crescimento. Segundo ela, houve concordância geral de que "finalmente" seja iniciada a fase final nas negociações da Rodada de Doha. Para Merkel, agora haveria um intervalo de tempo para que isso acontecesse.
Reforma do FMI
O G20 definiu também a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI). Com isso, China, Índia, Brasil e outras nações emergentes passam a ter mais influência na mais importante instituição financeira do mundo e, também, mais responsabilidades, por exemplo em fases de crise.
Para o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, trata-se de um grande sucesso, pois as mudanças dão mais poder de decisão ao FMI. "Ao mesmo tempo contribui para que os países em desenvolvimento e emergentes possam ver que há disposição das nações industrializadas em colaborar para que exista um equilíbrio maior na representação de interesses num mundo cada vez mais globalizado."
Uma outra decisão da cúpula de Seul também não foi mais nenhuma surpresa. Os líderes do G20 aprovaram por unanimidade as regras de capital próprio dos bancos conhecidos como Basileia 3.
Com isso, foi dada a largada para a reforma do sistema financeiro mundial, dois anos depois da primeira cúpula para tratar da crise, em Washington. Ainda há muito por fazer, mas o encontro de Seul fez por merecer o qualificativo de "histórico".
Autor: Henrik Böhme, de Seul (as)
Revisão: Carlos Albuquerque