Futuro da Escócia está nas mãos dos eleitores indecisos
12 de setembro de 2014"Vote 'sim' por um future melhor", diz uma nota escrita com um marcador preto numa etiqueta de presente suspensa entre um par de arbustos na Buchanan Street, a rua comercial mais importante de Glasgow. Esta é uma "árvore de desejos", um elemento cada vez mais comum na campanha de independência da Escócia.
"Nós estamos pedindo às pessoas que escrevam os seus desejos para a Escócia", afirmou Aileen McKay, formada em literatura comparada e que criou a árvore de desejos na Buchanan Street. Cerca de 50 etiquetas estão penduradas no fino barbante: ali se pode ler também "Mudança para melhor", "A Escócia é linda, mantenha-a assim", "Outra Escócia é possível" e até mesmo "Vote 'não'."
"Eu quero provocar uma mudança na minha vida. Eu não vejo nenhuma transformação a partir das estruturas existentes, então nós precisamos da independência", disse McKay, que também é ativista dos esquerdistas da Campanha de Independência Radical. Ela usa um crachá "sim" azul e, enquanto falava, um casal de adolescentes parou para incluir seus desejos à árvore. Uma das garotas escreveu simplesmente: "Sim".
As pesquisas de opinião pública apontam que os jovens são a favor de a Escócia abdicar da união de mais de 300 anos com a Inglaterra. A independência tem uma vantagem de 19 pontos entre os jovens de 16 a 24 anos, de acordo com pesquisa publicada na semana passada.
Pesquisas prometem contagem acirrada
Nas últimas semanas, houve uma virada dramática em torno da campanha do referendo na Escócia. No início de agosto, o "não" possuía uma grande vantagem de 22 pontos percentuais, mas agora a disputa está acirrada demais para se ter uma previsão conclusiva. Cada voto conta e ambos os lados estão trabalhando dia e noite para convencer o eleitorado escocês.
Na esquina da árvore dos desejos da Buchanan Street, do lado de fora da Galeria de Arte Moderna, o ex-secretário de Estado da Escócia, Jim Murphy, fazia campanha em prol da união com Londres, diante de uma multidão de 80 pessoas.
"A independência é para sempre. Não existem garantias. Não existe volta", bradava Murphy, parlamentar do Partido Trabalhista por East Renfrewshire, distrito não muito longe de Glasgow. O político discursava de pé sobre dois engradados de plástico, que antes carregavam garrafas de Irn Bru, o refrigerante favorito da Escócia.
Uma semana antes, Murphy interrompeu a sua turnê de 100 dias pela Escócia, quando um apoiador do "sim" jogou um ovo em sua direção durante um de seus discursos públicos – o maior debate civil secessionista da Escócia evoluiu para a violência.
Eleitores do Partido Trabalhista podem decidir referendo
Alguns na multidão acenavam bandeiras azuis e vermelhas com os dizeres "Não, obrigado". Houve ovações quando Murphy atacou reivindicações nacionalistas de que eles continuariam a compartilhar a moeda com o resto do Reino Unido e que a Escócia estaria em melhor situação por contra própria. "Você não precisa votar a favor do desmembramento do nosso país para provar que é escocês. Fazer parte do Reino Unido pode nos tornar mais prósperos", disse o político.
Em seu caminho para casa, o assentador de piso e eleitor indeciso Craig Hazlett, 29 anos, parou para escutar a fala de Murphy. Ele se deixou influenciar pelo carismático político. "Escutamos os mesmos argumentos de ambos os lados. Não existe uma opinião imparcial. A coisa mais importante é a economia. Como serão financiados os custos iniciais? Não existiu nenhuma opinião mostrando estatísticas confiáveis", disse Hazlett.
Apesar de faltar menos de uma semana para a votação, a se realizar em 18 de setembro, Hazlett disse que "não vai se apressar na decisão".
Helen, artista de Glasgow, disse estar "tendendo mais para o não", o que não é nada "maneiro" entre os seus amigos. Uma série de importantes escritores, artistas e músicos escoceses se pronunciaram, todos, a favor da independência. No último fim de semana, 1.300 deles assinaram uma carta aberta apoiando o "sim".
"Eu me sinto tão confusa, por ambos os lados, que no final eu vou acabar confiando na minha intuição", disse Helen. "Temo pela geração dos meus pais e pelas pessoas que estão se aposentando."
Numa tentativa de angariar apoio para a sua causa, políticos pró-Reino Unido disseram que iriam delegar mais poderes para o Parlamento escocês em Edimburgo. No início da semana, o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown declarou que um "não" levaria rapidamente a um maior controle local sobre a tributação, seguridade social e finanças.
Nem todos os escoceses estão convencidos com esta oferta súbita de mais poderes parlamentares, já que ela vem muito tarde na longa campanha de dois anos do referendo.
"Vou votar 'sim', porque não acho que teremos uma distribuição mais justa da riqueza a partir de Westminster", afirmou Morgan Carthy, de 59 anos, de Drumchapel nos arredores de Glasgow. "Não acredito que eles vão seriamente redistribuir a riqueza."
A justiça social surgiu como um dos principais temas do debate em torno do referendo. Escoceses nacionalistas afirmam que somente a independência pode proporcionar uma Escócia justa. Segundo as pesquisas, essa é a mensagem direcionada à principal parcela do eleitorado ainda indecisa: eleitores do Partido Trabalhista em áreas urbanas, como Glasgow.
"Eu votei no Partido Trabalhista na década de 1970, 80 e 90. Então desisti. Há muita gente como eu", disse Carthy.
A pergunta na Escócia é se existe um número suficiente de escoceses desiludidos para satisfazer o desejo de longa data dos nacionalistas: a independência.