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Fuga de capital estrangeiro derruba moeda de países emergentes

Rolf Wenkel (ca)1 de setembro de 2013

Aumento da taxa básica de juros nos EUA desvaloriza moeda em países como Brasil, Rússia e Índia. Especialistas garantem, porém, que situação está sob controle e afastam risco de grave crise entre os emergentes.

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Foto: picture-alliance/dpa

Da Indonésia até a Índia, da Rússia ao Brasil – atualmente são grandes as reclamações provenientes de quase todos os países emergentes. A economia está enfraquecendo, as previsões de crescimento são corrigidas para baixo, há fuga de capital estrangeiro, as moedas nacionais estão sob pressão, as importações se mostram impagáveis, paira a ameaça de inflação e de recessão.

Isso não é nenhuma surpresa, diz Volker Treier, chefe do Departamento de Comércio Exterior da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK): "Nos EUA, o Federal Reserve anunciou que vai elevar a taxa básica de juros, levando ao fim a era do dinheiro barato – e, com ela, também o financiamento barato dos mercados emergentes. Por esse motivo, caem as cotações das moedas", explica.

Emergentes na moda

Em 2008, quando a crise financeira ameaçou mergulhar a economia mundial numa gigante recessão, os Bancos Centrais das nações industrializadas responderam de maneira uníssona: eles baixaram as taxas de juros para quase zero e o dinheiro, praticamente, jorrou ao redor. E como nos países industrializados não havia mais juros e investimentos rentáveis, os emergentes se tornaram moda entre os investidores. Tais países atraíam por suas altas taxas de crescimento e juros relativamente altos.

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Guido Mantega durante cúpula dos BRICS com ministro chinês de Finanças, Lou Jiwei.Foto: Reuters

Há cerca de um ano e meio, essa enorme entrada de capital levou, por exemplo, o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, a falar de uma "guerra cambial". Na época, Mantega costumava reclamar em encontros do G20 que a política monetária bastante frouxa, com seus juros baixos, inundava o Brasil com capital especulativo, fazendo com que os juros subissem no país e ameaçando criar uma perigosa bolha de preços e, finalmente, embaralhando toda a economia brasileira.

Retorno à normalidade

Agora se nota o retorno de algo como uma normalidade, e isso não agrada muitos políticos nos países emergentes. De fato, a queda do câmbio de algumas moedas parece assustadora. O real brasileiro atingiu a sua menor cotação em cinco anos. A cotação da rúpia indiana alcançou uma baixa histórica. Também em queda estão o rublo russo, a rúpia da Indonésia, o baht tailandês, o ringgit da Malásia, a lira turca ou o rand sul-africano – as cotações de todas as moedas estão despencando ou já se encontram muito baixas.

Isso evoca más lembranças. Há 16 anos, o baht tailandês foi o ponto de partida da crise asiática. Na ocasião, os investidores retiraram maciçamente capital da Tailândia. A crise financeira se espalhou por todo o continente – e rapidamente se transformou também numa crise da economia real. Faltavam dinheiro e crédito. Consumo e Investimentos despencaram.

Desvalorização sob controle

No entanto, segundo os especialistas, isso não está sendo esperado desta vez: "Muitas dessas moedas vinham tendo uma forte valorização até o final do ano passado, ou começo deste ano. Assim, embora tenha sido registrada uma desvalorização nos últimos 12 meses, a médio prazo isso ainda está sob controle", avalia Nicolas Schlotthauer, especialista em mercados emergentes da Deutsche Asset & Wealth Management, empresa de investimentos pertencente ao Deutsche Bank.

E ele ainda lembra que, hoje, os países emergentes estão mais bem preparados para a crise do que antes: "As moedas de alguns países não desvalorizaram muito, por exemplo os do Leste Europeu. Por outro lado, os países têm uma situação muito melhor do que há 10 ou 15 anos. Por esse motivo, não se trata principalmente de manter o status quo, mas de saber se os desafios estruturais estão sendo enfrentados."

Crescimento com falhas

Münzen und Scheine der brasilianischen Währung Real #40907640 © Comugnero Silvana - Fotolia.com
Moeda brasileira atingiu menor cotação em cinco anosFoto: Comugnero Silvana/Fotolia

De fato, os países emergentes tiveram na última década um enorme crescimento econômico. Nos últimos dez anos, os países do BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China – quintuplicaram seu Produto Interno Bruto (PIB). Houve, porém, uma pequena falha, avalia Volker Treier: "Infelizmente, a época do boom econômico não foi aproveitada para realizar reformas importantes."

A Índia é um dos exemplos mais conhecidos, disse Treier em entrevista à Deutsche Welle. "Grande quantidade de recursos foi utilizada para aumentar o consumo e também para o orçamento público. Agora vem a conta, e o caminho vai ser difícil." No entanto, o especialista do DIHK também não acredita que haverá um pânico como há 16 anos: "Haverá uma fase de crescimento mais lento, mas certamente não será uma queda numa recessão de verdade."

Desvalorização ajuda exportação

Muitos países emergentes não utilizaram os anos de "vacas gordas" para reformas estruturais. Agora, eles estão lutando não somente contra a queda da valorização de sua moeda e as baixas taxas de crescimento. Eles também precisam lidar com os velhos problemas, como a falta de infraestrutura, a burocracia e a corrupção – o que também espanta investidores.

Agora só resta um consolo: uma moeda desvalorizada faz com que o país em questão se torne mais competitivo no mercado mundial, as exportações são favorecidas, ressalta Nicolas Schlotthauer. "Com a desvalorização da moeda, a competitividade da economia local nos mercados internacionais aumenta em médio prazo, porque os produtos podem ser vendidos mais baratos no exterior", explica.