Frutas e legumes de laboratório
10 de novembro de 2003Pode estar chegando ao fim a moratória de cinco anos proibindo transgênicos na Europa. Uma comissão da União Européia começou a discutir sobre a liberação de um tipo de milho manipulado geneticamente, o NK 603, nesta segunda-feira (10). Espera-se uma decisão no início de dezembro e tudo aponta para a liberação do seu cultivo, apesar da resistência dos consumidores em muitos países. Na Alemanha, três de cada quatro pessoas não consumiria organismos geneticamente manipulados, OGMs.
Rótulos e riscos
Os ministros da Agricultura da UE abriram caminho para isso em julho, ao aprovarem duas leis, determinando a obrigatoriedade de especificação no rótulo para todos os produtos e rações que contenham a partir de 0,9% de OGMs. Essa legislação entrou em vigor na última sexta-feira (07). Ela estende a obrigatoriedade também aos produtos nos quais os OGMs não são mais comprováveis, como é o caso do óleo produzido a partir de milho ou farinha de milho modificados.
Na Alemanha discute-se principalmente o risco das sementes se misturarem, o que é visto como uma ameaça existencial para a agricultura orgânica. A coalizão de governo, integrada por social-democratas e verdes, prometeu para dentro em breve um projeto de lei a respeito.
Testes no Reino Unido provaram danos a animais
Nesse meio tempo, aumentam estudos e indícios de que os organismos geneticamente manipulados, OGMs, afetam a biodiversidade e o meio ambiente. O semanário Der Spiegel traz, em sua última edição, uma entrevista com o ex-ministro britânico do Meio Ambiente, Michael Meacher, que iniciou pesquisas abrangentes sobre transgênicos em 1999.
Os testes foram realizados com milho, colza e beterraba para a produção de açúcar. Foram comparadas duas plantações, uma de OGMs, outra de plantas tradicionais. Usaram-se os respectivos pesticidas, isto é, o tradicional na lavoura de produtos naturais, e um pesticida de múltipla ação que matava tudo menos a planta manipulada, a ele resistente. O resultado foi que a plantação de transgênicos causou mais danos a minhocas, besouros, borboletas e pássaros, do que o cultivo tradicional.
O estudo da Bayer
Perguntado sobre um outro estudo, verificando que o milho transgênico era até benéfico ao meio ambiente, Michael Meacher lembrou que essa pesquisa foi realizada pela Bayer, que colocou as sementes manipuladas à disposição, e cujos funcionários aconselharam os agricultores a aplicarem o pesticida apenas uma vez.
"Os agricultores gostaram da idéia, pois isso diminuía seus custos. Em conseqüência, as ervas daninhas, que dão alimento aos insetos, logo voltaram a crescer. Mas em condições de mercado, o agricultor usa pesticida duas ou três vezes. E então se chegaria ao mesmo resultado das outras plantas manipuladas testadas", comentou.
Exemplos com batata e soja
Quanto ao risco de contaminação das lavouras com OGMs é tão grande, que o ex-ministro considerou impossível uma coexistência de cultivos tradicionais e de transgênicos na Europa, onde as propriedades são menores e mais próximas umas das outras.
Enquanto isso, os cientistas continuam realizando testes. Um gene da campânula branca (Galanthus Nivalis) introduzido em batatas manipuladas protegeu as plantas de insetos que as sugavam, mas atraiu outras pragas em maior número, verificaram pesquisadores escoceses. Pior ainda foi o caso da soja manipulada e resistente a herbicidas. Seus talos ficaram quebradiços nas zonas de clima quente, o que levou à perda de toda a colheita.
Tomates arrebentados e porcas com falsa gravidez
O tomate Flavr-Savr, no qual os comerciantes depositavam tantas esperanças por retardar o apodrecimento, resultou delicado para o transporte porque arrebenta facilmente. A revista Bio/technology supõe que a causa seja a pressão interna, que faz o tomate parecer tão firme. Ela seria tão forte que arrebentaria a pele do tomate.
O criador de suínos Jerry Rosman, americano de Iowa, achou que teria muitos leitões porque todas as porcas na sua pocilga estavam com barrigas grandes. As aparências, porém, enganaram e apenas 20% estavam prenhes. Após a publicação do caso, ele recebeu várias chamadas de outros criadores com os mesmos problemas. Em algumas fazendas, o índice de fertilidade dos porcos diminuiu até 80%. Todos os criadores haviam dado milho transgênico aos animais.