Fracasso dos esforços humanitários marca o 12º dia da guerra
8 de março de 2022O décimo segundo dia da invasão russa em território ucraniano, nesta segunda-feira (07/03), foi marcado pelo fracasso na implementação dos corredores humanitários anunciados após as negociações entre ambos os lados do conflito.
Pela manhã, o governo da Ucrânia rejeitou uma proposta da Rússia para a abertura de corredores humanitários em direção à Rússia ou Belarus.
Um porta-voz do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse que a proposta era "completamente imoral" e acusou Moscou de tentar "usar o sofrimento de civis" para criar imagens de televisão. "Eles são cidadãos ucranianos, têm o direito de ir para outras regiões na Ucrânia", acrescentou. O porta-voz afirmou ainda que a Rússia dificultou deliberadamente tentativas anteriores de evacuar cidades.
A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, chamou a proposta de Moscou para evacuar ucranianos de "ridícula" e "cínica".
O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que o plano de Moscou de evacuar os ucranianos para cidades russas era "hipócrita". "Tudo isso não é sério, é cinismo moral e político, que considero intolerável", afirmou. Moscou alegou que a proposta seguiu um "pedido pessoal" de Macron, o que o francês nega.
Um porta-voz do Ministério da Defesa russo disse que seis corredores humanitários foram abertos: de Kiev para Gomel, no sudeste de Belarus; de Mariupol para Zaporíjia, no sudeste da Ucrânia; de Mariupol pra Rostob-on-Don, sul da Rússia; de Kharkiv para Belgorod, no sul da Rússia; de Sumy para Belgorod; e de Sumy para Poltava, no centro da Ucrânia.
Mais tarde, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, disse que a operação militar no país poderia ser interrompida "em um instante", caso o governo ucraniano aceite as exigências de Moscou.
Entre estas, estavam o reconhecimento da Península da Crimeia como território russo; mudanças na Constituição ucraniana para assegurar a neutralidade do país, a admissão da soberania das autoproclamadas "repúblicas" separatistas de Donetsk e Lugansk, no leste ucraniano, e o fim das ações militares por parte de Kiev.
As exigências russas surgiram enquanto delegações dos dois países se reuniam para mais uma rodada de negociações, que terminou sem grandes avanços sobre a questão dos corredores humanitários. O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, disse que haverá nesta terça-feira uma nova tentativa de remover os civis através dos corredores propostos pela Rússia.
Zelenski acusou o exército russo de sabotar a evacuação de civis através dos corredores humanitários, com os quais Moscou havia inicialmente concordado. "Havia um acordo sobre corredores humanitários. Isso funcionou? Os tanques russos funcionaram, em seu lugar", disse Zelenski, em mensagem de vídeo divulgada através do Telegram.
Ele afirmou que tropas russas colocaram minas terrestres na estrada escolhida para levar alimentos e medicamentos à cidade sitiada de Mariupol, no sul do país. Segundo afirmou, os russos destruíram ônibus que seriam utilizados para a evacuação de civis.
Zelenski acusou Moscou de cinismo e de permitir apenas que algumas dezenas de pessoas pudessem deixar a zona de conflito para serem filmadas e usadas para fins propagandísticos. O líder ucraniano, porém, afirmou que seu governo continuará a negociar um acordo de paz com a Rússia.
Durante a noite, a Rússia anunciou um novo cessar-fogo temporário em algumas localidades, incluindo Kiev, Kharkiv, Mariupol e Sumy, a partir das 7h, no horário local, para permitir a saída da população civil.
Banco Mundial aprova envio de US$ 723 milhões para a Ucrânia
O Banco Mundial aprovou um pacote de 723 milhões de dólares (aproximadamente 3,6 bilhões de reais) em empréstimos e subsídios para a Ucrânia, como apoio orçamentário ao governo, enquanto o país lida com a invasão russa.
O pacote inclui um adicional de 350 milhões de dólares a um empréstimo anterior do Banco Mundial, com acréscimo de 139 milhões através de garantias de Holanda e Suécia, informou em nota a instituição.
Também constam no pacote outros 134 milhões de dólares em financiamentos possibilitados pelo Reino Unido, Dinamarca, Letônia, Lituânia e Islândia, além de um financiamento paralelo do Japão no valor de 100 milhões de dólares.
Ucrânia apela em Haia contra "táticas medievais" russas
Em Haia, A Ucrânia apelou ao Tribunal Internacional de Justiça para que ordene o fim da invasão russa à Ucrânia, ao mesmo tempo em que acusou Moscou de cometer uma variedade de crimes durante a ofensiva em solo ucraniano.
A equipe de juristas ucranianos afirmou que as tropas russas recorrem a "táticas que lembram os cercos das guerras medievais, incluindo o isolamento de cidades, o bloqueio de rotas de fuga e o bombardeio à população civil com armamentos pesados".
A Rússia não enviou representantes à audiência. Nos últimos dias, diversos esforços para a evacuação de civis das zonas de conflito foram frustrados em várias cidades, em razão dos bombardeios russos.
A Ucrânia condenou a alegação russa de que a invasão ao país teria o propósito de "evitar e punir" um genocídio nas regiões separatistas de Donetsk e Lugansk. Kiev condenou essa alegação como uma "mentira grotesca" e pediu proteção.
"As consequências são a agressão não provocada, cidades sitiadas, civis sob fogo, catástrofe humanitária e refugiados fugindo para salvar suas vidas", disseram os advogados ucranianos em Haia.
Alemanha, EUA, França e Reino Unido elevam ajuda à Ucrânia
Os líderes de Alemanha, Estados Unidos, França e Reino Unido concordaram nesta segunda-feira, em uma chamada por vídeo, em manter a pressão contra a Rússia por sua "invasão não provocada e injustificada da Ucrânia", disse a Casa Branca.
Segundo comunicado, o presidente americano, Joe Biden, o presidente francês, Emmanuel Macron, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, "ressaltaram seu compromisso de continuar a fornecer assistência de segurança, econômica e humanitária à Ucrânia".
Os países da Otan elevaram sua presença nos países bálticos desde que a Rússia invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro, e mais tropas e equipamentos estão a caminho, afirmaram fontes ouvidas por agências de notícias.
UE prevê receber até 5 milhões de refugiados ucranianos
Se a guerra na Ucrânia continuar, até 5 milhões de refugiados poderão fugir para a União Europeia, disse o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, nesta segunda-feira.
"Essa é uma estimativa razoável", afirmou Borrell. "Não vimos um movimento tão grande de refugiados desde o final da Segunda Guerra Mundial", completou.
A UE disponibilizará cerca de 100 milhões de euros em sua primeira resposta de emergência para ajudar os refugiados, informou Borrell.
A Ucrânia tem uma população de cerca de 41,5 milhões de pessoas. A ONU estima que mais de 1,7 milhão já deixaram o país, a maioria seguindo para a Polônia.
Alemanha diz que não vai sancionar importações de energia da Rússia
O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, disse nesta segunda-feira que Berlim apoia medidas duras contra a Rússia, mas que manterá as entregas de energia isentas. O líder alemão disse que a energia russa é essencial para a vida cotidiana.
"O abastecimento da Europa com energia para aquecimento, mobilidade e para a indústria não pode, no momento, ser garantido de outra forma", disse Scholz em comunicado. O chanceler também afirmou que a Alemanha e a União Europeia estão buscando alternativas, mas o trabalho não pode ser feito da noite para o dia.
"Foi, portanto, uma decisão deliberada permitir a continuidade das atividades de negócios alemães com a Rússia relacionadas ao fornecimento de energia", disse ele.
A Rússia está enfrentando uma série de medidas punitivas por sua invasão à Ucrânia. No entanto, a ameaça de uma proibição de importação de petróleo e gás russo elevou os preços, com o petróleo Brent sendo negociado a 139 dólares, valor mais alto desde julho de 2008.
Os preços do gás na Europa também atingiram 381 dólares por metro cúbico nesta segunda-feira. Antes da invasão, o preço estava abaixo de 80 dólares, 12 dias atrás.
Moscou alerta contra entregas de armas do Ocidente para a Ucrânia
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia alertou novamente contra as entregas de armas do Ocidente à Ucrânia e as consequências disso para a Otan.
A entrega de armas ou aviões e o envio de mercenários não melhoraria a situação humanitária na Ucrânia, disse a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, segundo a agência estatal TASS. Pelo contrário, provocaria um "desenvolvimento catastrófico da situação não só na Ucrânia, mas também nos países da Otan", sublinhou. Zakharova alertou para um "colapso global" se armas ocidentais caíssem nas mãos de combatentes.
Brasil fora da lista da Rússia de países considerados "hostis"
Todos os países da União Europeia, além de Estados Unidos, Japão e Canadá, entre outros, estão em uma lista de nações hostis elaborada pelo governo da Rússia, informou nesta segunda-feira a agência de notícias russa Interfax.
De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o Brasil não está na lista. O governo brasileiro vem pregando uma posição de neutralidade em relação ao conflito e, até agora, não emitiu nenhuma sanção contra Moscou.
Segundo a Interfax, a lista recebeu aval do primeiro-ministro, Mikhail Mishustin, e faz parte do decreto do presidente Vladimir Putin emitido no último dia 5 e intitulado "Sobre o procedimento temporário para o cumprimento das obrigações para com certos credores estrangeiros".
De acordo com este documento, a lista inclui os 27 estados-membros da União Europeia, que adotaram fortes sanções contra a Rússia após o início da ofensiva militar na Ucrânia.
Além disso, Austrália, Albânia, Andorra, Reino Unido (incluindo a ilha de Jersey e outros territórios ultramarinos, como a ilha de Anguilla, as Ilhas Virgens Britânicas e Gibraltar), Islândia e Liechtenstein foram definidos como países hostis.
Também estão na lista Micronésia, Mônaco, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, San Marino, Macedônia do Norte, Cingapura, Taiwan, Montenegro, Suíça, Japão e a própria Ucrânia.
Entre outras medidas, as empresas russas poderão pagar dívidas em rublos aos países da lista. A moeda russa já desvalorizou 45% desde janeiro.
rc (APF, AP, dpa, Lusa, Reuters)