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França proíbe uso de hidroxicloroquina para tratar covid-19

27 de maio de 2020

Decisão foi tomada após parecer desfavorável do Conselho Superior de Saúde Pública. País é o primeiro a adotar proibição desde que OMS suspendeu testes com o medicamento no tratamento de pacientes com o novo coronavírus.

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Pessoa segura uma caixa da medicação.
Medicação pode aumentar o risco de morte nos pacientes.Foto: picture-alliance/dpa//Nicolas Creach/Maxppp

A França proibiu oficialmente nesta quarta-feira (27/05) o uso de hidroxicloroquina para tratar casos de covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Um decreto que permitia o uso do medicamento em casos graves da enfermidade foi cancelado, segundo decisão publicada no diário oficial do país.

A medida foi adotada após parecer desfavorável do Conselho Superior de Saúde Pública sobre o uso da medicação e passa a valer imediatamente.

"Seja em consultas ou em hospitais, essa molécula não deve ser prescrita para pacientes com covid-19", disse o Ministério da Saúde da França.

No final de março, a França havia permitido hidroxicloroquina – droga derivada cloroquina e usada no tratamento de malária, lúpus e artrite reumatoide – podia ser prescrita em hospitais franceses em casos específicos e somente em pacientes hospitalizados. A França é o sétimo país do mundo com mais casos da doença (182.847) e registra 28.533 mortes.

A França é o primeiro país a adotar a proibição após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidir, na segunda-feira,  suspender os testes clínicos com a hidroxicloroquina no tratamento contra a covid-19, que estavam sendo realizados em vários países. A decisão se baseou em amplo estudo com quase 100 mil pacientes, publicado na revista científica The Lancet, uma dos mais conceituadas do mundo.

De acordo com a pesquisa, o medicamento pode causar efeitos colaterais graves, em particular, arritmia cardíaca, e elevar até mesmo o risco de morte. "Após lermos a publicação, decidimos, em meio às dúvidas, ser cautelosos e suspender temporariamente a adesão ao medicamento", afirmou a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan. 

Apesar da abrangência do estudo, do prestígio da The Lancet e da afirmação da OMS, o governo brasileiro decidiu manter o protocolo de indicação do medicamento mesmo para casos leves da doença. "Não se trata de um ensaio clínico, é apenas um banco de dados, coletado de vários países. Isso não entra num critério de um estudo metodologicamente aceitável para servir de referência para nenhum país do mundo e nem para o Brasil", justificou Mayra Pinheiro, secretária de gestão em trabalho na saúde do Ministério da Saúde.

A OMS afirmou que continuará a coletar dados para confirmar o estudo publicado no The Lancet e revisará a decisão em reuniões com autoridades médicas dos países que realizam os testes dentro do programa Solidarity Trial, apoiado pela entidade, realizados em mais de 400 hospitais em 35 países, envolvendo em torno de 3,5 mil pacientes.

A hidroxicloroquina, normalmente utilizada no tratamento contra a artrite, vinha sendo alardeada pelo presidente americano, Donald Trump, como benéfica no combate à doença. Trump, inclusive, chegou a afirmar que estava se tratando preventivamente com o medicamento.

Trump fez a primeira menção à hidroxicloroquina em 21 de março, após o suposto potencial da droga ter sido propagado em círculos de extrema direita na internet que promovem teorias conspiratórias e desconfiança contra o establishment científico. 

A informação passou a circular após em um anúncio do controverso pesquisador francês Didier Raoult, que no dia 17 de março que um estudo preliminar em 24 pacientes havia apontando que a hidroxicloroquina havia sido eficaz no tratamento da covid-19. No entanto, o estudo de Raoult foi criticado em círculos científicos por causa da sua amostra limitada.   

Em 23 de março, dois dias depois de Trump mencionar o remédio, foi a vez de Bolsonaro seguir o exemplo do americano e passar a sistematicamente promover tanto a hidroxicloroquina quanto a cloroquina, mesmo sem estudos amplos que comprovassem a eficácia. Ele chegou a chamar os fármacos de "cura".

LE/afp/rtr/ots

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