França pranteia mortos e procura respostas após atentado
8 de janeiro de 2015Ao meio-dia desta quinta-feira (08/01) em Paris, enquanto os sinos da Catedral de Notre-Dame soavam o toque fúnebre, alguns milhares de cidadãos se reuniram na praça, sob a chuva torrencial, para um minuto de silêncio também mantido em todo o país.
Nas longas filas, os frequentadores do culto memorial esperavam para entrar na igreja que é um dos principais marcos da capital francesa. A mensagem central do culto vem do Evangelho de São João: "Aquele que ama a Deus, que ame também a seu irmão".
Esse é também o cerne de uma declaração conjunta de todas as congregações de fé da França, conclamando todos os cidadãos à unidade e fraternidade. Jovens e idosos, pais com carrinhos de bebê e visitantes escutaram na Notre-Dame as palavras de advertência: "Ódio e violência são uma prisão."
Caça dramática
Os comentaristas de todas as emissoras e periódicos franceses mostravam-se perplexos com o atentado à redação do semanário Charlie Hebdo, do qual são suspeitos os irmãos Said e Chérif Kouachi. Até o início da noite, eles ainda eram procurados pela polícia.
A caça aos presumíveis assassinos foi tomando dimensões dramáticas: de um posto de gasolina nos arredores de Paris chegou a notícia de que os dois homens de origem argelina teriam sido vistos. Seguiu-se uma grande mobilização policial, com helicópteros e tropas especiais fortemente armadas.
Insegurança na sociedade
Em Paris, os representantes do sindicato da polícia prantearam os colegas assassinados. Não só os dois alvejados na quarta-feira diante da redação do Charlie Hebdo, mas também a jovem policial morta a tiros nesta manhã em Montrouge, no sul da capital.
O status atual das investigações policiais indica que esse tiroteio, em que um outro agente ficou ferido, não teve relação direta com o massacre da véspera. Porém, ao alvejar os dois policiais com um fuzil automático, o autor isolado pode ter sido impulsionado pelo atentado do Charlie Hebdo.
As buscas pelos acusados do massacre ao semanário estão no concentradas na região de Picardie, ao norte de Paris. Diversos vilarejos estão sendo vasculhados. Pelo menos nove suspeitos foram detidos.
A caça sem resultados dá margem a boatos: como é possível que as forças de segurança ainda não tenham êxito, um dia depois de as fotos dos procurados terem sido divulgadas em todo o país? Será que se trata de uma pista falsa? Estarão os verdadeiros autores se escondendo por trás dos irmãos Kouachi? A insegurança cresce com o passar das horas.
Charlie vive
Durante a manhã da quinta-feira, centenas de parisienses retornaram à rua Nicolas Appert, a pequena transversal onde fica a sede do Charlie Hebdo, para depositar flores e acender velas na frente das barreiras policiais.
Simultaneamente, o presidente François Hollande realizava um encontro político, em que inicialmente preferiu renunciar à busca de respostas para os motivos do atentado. Pois, no momento, é delicado demais fazer considerações sobre a posição dos muçulmanos na sociedade francesa.
O chefe de Estado socialista procura, antes, a solidarização simbólica de todos os grandes partidos, evocando um movimento de unidade nacional, da direita até a esquerda. Sua mensagem é que, numa situação como a atual, a França precisa permanecer unida. A fim de selar essa intenção, está programada para a tarde de domingo uma grande manifestação em memória dos jornalistas mortos.
O cartaz de solidariedade "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie), criado de forma improvisada no dia mesmo do atentado, pode ser visto por toda parte, nas vitrinas das lojas e locais de Paris. Mesmo no mercado da Place de la Bastille, os feirantes colaram as folhas em suas barracas molhadas.
Colegas e apoiadores da redação atacada prometem que o tabloide semanal voltará a sair na próxima quarta-feira. "O Charlie Hebdo não está morto" é o seu slogan. Tudo será feito para continuar o trabalho e não se deixar intimidar.