1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
HistóriaAlemanha

França escava vala à procura de alemães mortos na 2ª Guerra

16 de agosto de 2023

Mantido em segredo até recentemente, fuzilamento de 47 soldados alemães da Wehrmacht capturados em 1944 por partisans franceses foi revelado por ex-combatente da resistência após quase 80 anos.

https://p.dw.com/p/4VFlf
Um homem ajoelhado no chão de terra segura um capacete militar encontrado em área escavada em Meymac, na França. Ele está cercado por repórteres.
Arne Schrader, diretor da Comissão Alemã de Túmulos de Guerra, faz demonstração de escavação em Meymac no final de junhoFoto: Agnès Gaudin/MAXPPP/dpa/picture alliance

Ocultados em uma vala comum por quase oito décadas, os corpos de 47 soldados alemães da Wehrmacht capturados e fuzilados por partisans franceses em junho de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, começaram a ser exumados nesta quarta-feira (16/08). 

Os trabalhos de escavação ocorrem em um bosque próximo ao vilarejo Meymac, no sudoeste da França, distante cerca de 600 quilômetros do que hoje é a fronteira mais próxima com a Alemanha. Ao fim do primeiro dia, nenhum resto mortal havia sido encontrado.

A existência da vala comum foi revelada em maio por um ex-combatente da resistência francesa à ocupação nazista, Edmond Reveil, de 98 anos, com o objetivo declarado de possibilitar a entrega dos corpos às famílias dos mortos, caso ainda for possível. A localização provável dos restos mortais foi determinada em julho, graças a análises do solo.

"Foi um crime de guerra", diz ex-combatente da resistência francesa

Reveil demonstrou profunda tristeza ao falar sobre as execuções, às quais se referiu como "um crime de guerra". Ele tinha 19 anos à época, e diz não ter participado das mortes.

"Não tínhamos o direito de matar os prisioneiros", disse ele em entrevista ao jornal local La Montagne publicada à época.

Especialistas franceses que trabalham no local estão recebendo ajuda técnica da Comissão Alemã de Túmulos de Guerra (Volksbund Deutsche Kriegsgräberfürsorge). A exumação deve ser concluída até o final de agosto.

Os soldados da Wehrmacht – como eram chamadas as Forças Armadas da Alemanha nazista – e uma mulher francesa suspeita de colaborar com a ocupação foram fuzilados após várias atrocidades cometidas por tropas alemãs na região, com o massacre de centenas de pessoas em vilarejos vizinhos.

A identidade dos soldados ainda não é conhecida, mas Reveil afirmou ao jornal alemão Schwäbische Zeitung que os mortos foram enterrados "com seus documentos e chapas de identificação".

O ex-combatente da resistência francesa à ocupação nazista Edmond Reveil, 98.
O ex-combatente da resistência francesa à ocupação nazista Edmond Reveil, 98, apoia a construção de um memorial para os soldados alemães fuzilados.Foto: Pascal Lachenaud/AFP

Onze corpos de soldados alemães já haviam sido recuperados em Meymac na década de 1960.

Prefeito do vilarejo, Philippe Brugere disse à agência de notícias francesa AFP que o objetivo da escavação era "exumar os restos mortais dos soldados alemães esquecidos neste local por [quase] 80 anos" e "levá-los de volta à Alemanha e, acima de tudo, se possível, às suas famílias".

O que aconteceu em Meymac em 1944?

Em 8 de junho de 1944, após o desembarque dos Aliados na Normandia no Dia D, combatentes da resistência francesa tomaram a cidade de Tulle, distante cerca de 50 quilômetros de Meymac. Ali, segundo Reveil, eles fizeram 55 prisioneiros, um dos quais havia sido baleado ao tentar fugir.

No dia seguinte, e sem resistência, Tulle contudo voltou a ser ocupada por soldados da SS (Schutzstaffel), braço armado do partido nazista.

A SS reagiu com brutalidade à ação dos partisans franceses, enforcando às vistas de todos 99 moradores de Tulle escolhidos aleatoriamente, todos do sexo masculino. No dia seguinte, outra unidade da milícia promoveu o extermínio de quase toda a população da vizinha Oradour-sur-Glane, deixando um rastro de 643 mortos naquilo que seria o pior massacre na Europa Ocidental daquela guerra.

Os combatentes da resistência não tinham onde manter seus prisioneiros, mas temiam outros episódios de vingança contra a população francesa caso os pusessem em liberdade. Os soldados alemães foram então levados a um celeiro e, ali, alguns foram soltos. Segundo Reveil, o fuzilamento em 12 de junho de 1944 teria sido levado a cabo por ordem de um comando dos Aliados próximo a Saint-Fréjoux.

Ao informar aos alemães o destino que teriam, o partisan que comunicou a sentença a eles – um francês criado na fronteira com a Alemanha, e que por esse motivo dominava o alemão – teria "chorado como uma criança", segundo Reveil. Antes de morrer, os homens teriam pedido para contemplar fotos de suas famílias.

ra (DW, ots)