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ConflitosFrança

França manda Exército conter separatistas em arquipélago

15 de maio de 2024

Nova Caledônia, um território ultramarino francês no Pacífico, vive onda de violência que já deixou quatro mortos após reforma que deu direito a voto para franceses que se estabeleceram no arquipélago nos últimos anos

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Uma densa fumaça negra é observada de longe por três pessoas
Prédio em chamas em Noumea, capital da Nova CaledôniaFoto: Djelyna Lebonwacalie/REUTERS

A França declarou nesta quarta-feira (15/05) estado de emergência na Nova Caledônia, território ultramarino francês no Oceano Pacífico, 1,5 mil quilômetros a leste da Austrália, após violentos protestos de separatistas deixarem ao menos quatro mortos – um deles membro das forças de segurança francesas.

A medida irá durar ao menos 12 dias e dá às forças policiais mais poderes para controlar a situação no arquipélago, incluindo a possibilidade de prisão domiciliar para pessoas consideradas como uma ameaça à ordem pública e a proibição de protestos.

As medidas anunciadas pelo governo francês também incluem o deslocamento de membros das Forças Armadas para a região, toque de recolher noturno e a suspensão do serviço de vídeos TikTok.

Segundo o governo francês, a última vez em que medidas do tipo foram baixadas foi em 1985.

Os protestos, que acontecem desde a semana passada, surgiram após uma reforma constitucional aprovada pelo Parlamento francês que estendeu o direito ao voto nas eleições regionais a franceses que vivem há mais de dez anos no arquipélago.

Até então, além da população originária, esse direito era reservado apenas a imigrantes que viviam no território desde antes de 1998 e aos filhos deles. Ou seja, os residentes que chegaram da França continental ou de qualquer outro lugar nos últimos 25 anos não têm o direito de participar nas eleições lcoais.

O governo francês classifica a exclusão de uma em cada cinco pessoas do voto como "absurda", enquanto os separatistas temem que a medida acabe diluindo a influência do povo originário Kanak, maior etnia do arquipélago, com 41% de seus 270 mil habitantes. O segundo maior grupo, com 24%, são de pessoas de origem europeia – em sua maioria, franceses.

Opositores da reforma constitucional dizem que ela vai beneficiar políticos pró-França e marginalizar os Kanaks, que no passado sofreram sob políticas rigorosas segregacionistas e discriminação.

Escolas e o aeroporto internacional de Nova Caledônia foram fechados. Na capital Nouméa, onde comércios e veículos foram incendiados, a administração francesa impôs um toque de recolher.

Centenas de reforços policiais foram enviados à região, e mais de 130 pessoas teriam sido presas.

Contexto histórico

Há décadas a Nova Caledônia é palco de tensões entre os Kanaks, que buscam a independência, e descendentes de colonizadores, que querem continuar a ser parte da França.

Uma mulher ergue uma bandeira enquanto saúda um carro passando em uma estrada. Atrás dela estão sentadas outras duas mulheres
Apoiadores do Front de Libertação Nacional Kanak e Socialista (FLNKS) na capital NoumeaFoto: Theo Rouby/AFP

O arquipélago foi anexado pela França em 1853 e usado como colônia penal até o final do século 19. Na década de 1970, a exploração de níquel aumentou as tensões entre o governo francês e Kanaks independentistas – a região é a terceira maior produtora mundial da commodity, usada principalmente na produção de ligas metálicas.

Um acordo de 1998 apaziguou a situação ao prever a autonomia gradual do arquipélago e restringir o direito de voto de imigrantes – medida essa que agora foi relaxada pelo Parlamento francês.

A independência da França, porém, foi rejeitada em três referendos realizados entre 2018 e 2021 – Kanaks, que receberam cidadania francesa em 1957, boicotaram esta última votação sob o argumento de que ela foi realizada no auge da pandemia. Nas primeiras duas votações, a independência foi rejeitada por uma margem estreita de votos, 56,4% e 53%, respectivamente.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que líderes da Nova Caledônia teriam até junho para negociar um acordo antes que ele sancione a lei.

O território é de crucial importância para o plano de Macron de aumentar a influência francesa no Pacífico, região onde China e Estados Unidos disputam poder e influência comercial e geopolítica.

ra (AP, AFP, dpa, Reuters, ots)