Fotos de Newton ficam em Berlim
22 de outubro de 2003Quando se fala em Helmut Newton a primeira associação que se faz é com suas conhecidas fotos de mulheres nuas. Por seu estilo único de retratar o sexo feminino em poses sensuais, instigando a imaginação do público, algumas fotos até beirando ou ultrapassando o limite do aceitável, segundo os críticos mais conservadores, Newton virou uma espécie de artista cult da arte moderna.
Seu vasto acervo fotográfico, com cerca de 10 milhões de negativos e cópias, ficará agora definitivamente em Berlim, sua cidade natal. Nesta quarta-feira (22/10), Newton assinou um contrato de empréstimo permanente de sua obra com a Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, Stiftung Preussischer Kulturbesitz. A primeira exposição está planejada para meados de 2004, na antiga Biblioteca de Arte, Kunstbibliothek, localizada perto da estação Zoo, na capital alemã.
A reforma do prédio, em estilo guilhermino, será bancada por Newton. “Eu me apaixonei por esta casa”, disse o artista, lembrando que o local está arraigado em sua história pessoal. Quando partiu para o exílio, foi a visão deste prédio que o acompanhou quando o trem partia da estação central.
Newton já avisou que o local não deve ser classificado como museu, e sim um espaço de arte com exposições temporárias de seu acervo e de obras de sua esposa, além da presença esporádica de fotógrafos e artistas internacionais para a realização de palestras, por exemplo.
De volta às origens
O fato de a coleção de Newton encontrar em Berlim seu lar permanente, por assim dizer, tem um significado especial para os alemães. É como se fosse uma espécie de reconciliação definitiva do artista com seu país.
Filho de judeus, nascido na metrópole alemã em 1920, Helmut Newton desde cedo mostrou interesse pela arte fotográfica. Em 1938, ele se viu obrigado a abandonar o país com sua família para fugir do regime nazista. O primeiro destino foi Cingapura e depois Austrália, onde recebeu a cidadania e até chegou a combater na 2ª Guerra Mundial como cidadão australiano.
Escalada do sucesso
Apesar das marcantes e traumáticas vivências, Newton nunca perdeu o gosto pela fotografia artística e chegou a se tornar um dos mais conceituados fotógrafos de moda, trabalhando para nomes como Givenchy, Yves-Saint Laurent, Karl Lagerfeld e Versace. Mas foi para a revista francesa de moda Vogue que Newton alcançou o sucesso máximo, nos anos 70. Ser retratado por ele passou a ser um símbolo de status que permanece até hoje.
Seu estilo de fotografar mulheres em poses provocantes e sua preferência por cenários elaborados são, segundo o artista, uma forma de criar um glamour cinematográfico dentro de uma imagem estática. Premiado e reconhecido internacionalmente, Newton é hoje, aos 82 anos, bem mais do que uma referência, é uma legenda viva.
A australiana June Brunnel, com quem se casou em 1948, é seu braço direito e uma das co-responsáveis pela permanência das fotos em Berlim.