Fortalecimento da Al Qaeda no Iêmen centra preocupações do Ocidente
7 de agosto de 2013O Iêmen anunciou nesta quarta-feira (07/08) ter desbaratado um plano do braço da Al Qaeda na Península Arábica para tomar cidades no sul do país e atacar áreas portuárias importantes, onde trabalham estrangeiros. O anúncio, no entanto, foi recebido com ceticismo no Ocidente, uma vez que as autoridades iemenitas estão sob forte pressão para mostrar que podem agir com pulso firme contra o terrorismo.
Várias representações diplomáticas ocidentais continuam fechadas no Iêmen, numa onda de medidas de precaução que se seguiu à decisão americana de fechar, no sábado, 22 embaixadas e consulados localizados no Norte da África, Oriente Médio e Ásia. O risco principal, como deixaram claro os Estados Unidos, é maior no Iêmen.
Para o Iêmen, no entanto, a decisão foi precipitada e pode "beneficiar os terroristas". "Retirar o pessoal das embaixadas de países ocidentais enfraquece a cooperação excepcional entre o Iêmen e a aliança internacional contra o terrorismo", afirmou em nota a chancelaria iemenita.
Região ideal para o terrorismo
Segundo o New York Times, o alerta soou em Washington após a interceptação de conversas entre o chefe da Al Qaeda, Aiman al-Zawahiri, e o chefe da rede terrorista na Península Árabe, Nasser al-Wuhishi. Segundo o presidente da Comissão de Segurança Nacional da Câmara dos Representantes dos EUA, Michael McCaul, as ligações revelam "as ameaças mais concretas e plausíveis observadas desde os ataques de 11 de setembro de 2001".
Mesmo antes do estouro da Primavera Árabe em 2011, a Al Qaeda já era ativa no Iêmen. Diante da situação de caos e conflitos internos, acentuada após o início da revolta popular, a organização terrorista usa o país como uma área de refúgio. O Iêmen é o país mais pobre do mundo árabe, e quase metade dos 23 milhões de habitantes sobrevivem com pouco mais de 2 dólares por dia. O índice de desemprego chega a 30%.
"Com isso, o Iêmen acaba sendo o território ideal para a Al Qaeda", avalia Günter Meyer, do alemão Centro de Pesquisas sobre o Mundo Árabe. O especialista ressalta ainda que no país há diversas áreas inacessíveis, perfeitas para servirem de esconderijo.
Em algumas áreas mais afastadas do Iêmen, o governo de transição, comandado por Abed Rabbo Mansur Hadi, não tem mais qualquer tipo de controle. Insurgentes xiitas no norte – os chamados houthis – travam há anos exaustivos combates com as tropas do governo. No sul do Iêmen, antes sob regime comunista, grupos separatistas querem a independência.
Há pelo menos dois anos a Al Qaeda aproveita a situação, especialmente no sul, para ampliar sua área de influência. "Naquela época houve uma grande ofensiva da organização", explica Meyer.
O grupo terrorista ficou, porém, um pouco mais acuado após os ataques de drones americanos nos últimos 18 meses, que resultaram na morte de pelo menos 17 líderes. Com isso, eles sofreram novas perdas de território.
"Por outro lado, com a ajuda de Nasser al-Wuhishi, considerado um jihadista carismático, eles conseguiram se organizar militarmente de maneira extraordinária", avalia Meyer. Graças a Wuhishi, a ramificação na Península Arábica continua sendo considerada a organização internacional mais perigosa da Al Qaeda.
Histórico de ataques
Nasser al-Wuhishi era secretário particular de Osama bin Laden no Afeganistão. Em 2001, ele fugiu para o Irã, mas, em 2003, foi entregue pelas autoridades iranianas ao governo do Iêmen, seu país de origem. Após um levante num presídio de Sanaa, em 2006, Wuhishi conseguiu fugir. Por causa de sua proximidade com Bin Laden, logo assumiu papel de comando dentro da Al Qaeda.
Nos anos seguintes, os terroristas iemenitas passaram a planejar e preparar uma série de ataques. Treinado e equipado no Iêmen, o nigeriano Omar Farouk Abdulmutallab foi contido ao tentar explodir um avião durante um voo transatlântico – entre Europa e Estados Unidos – com bombas escondidas na roupa. Em novembro de 2010, a Al Qaeda na Península Arábica assumiu a responsabilidade por tentar explodir um pacote dentro de um avião de carga, um mês antes.
O Iêmen foi ganhando, assim, uma posição de maior destaque dentro da organização. "A entrada de armas a partir do leste da África faz com que os terroristas do Iêmen se mantivessem bem equipados", explica Günter Meyer. Além disso, acredita-se que Aiman al-Yawahiri já tenha nomeado Wuhishi como o segundo homem forte da organização terrorista – e também responsável, com isso, pelos planos de ataque no Ocidente.
Especialistas acreditam na existência de uma disputa dentro da Al Qaeda para saber quem vai conseguir emplacar um novo grande e impactante ataque contra o Ocidente. Muitos especulam que este ataque pode estar sendo preparado já para as próximas semanas, com a aproximação do dia 11 de setembro. A data é marcada por ações trágicas para os americanos: além de ser aniversário dos ataques às Torres Gêmeas, um ataque à embaixada dos EUA em Bengasi, no mesmo dia do ano passado, matou o embaixador Chris Stevens.