Fome zero mundial fica no papel
16 de outubro de 2003Anúncio
A meta das Nações Unidas é reduzir pela metade o número de vítimas da fome até 2015. No entanto, a ONU não dispõe de nenhum plano conseqüente de combate à pobreza. No Dia Mundial da Alimentação (16/10), ativistas e representantes do governo alemão alertaram que a comunidade internacional está longe de atingir a meta traçada na cúpula mundial de alimentação de 1996.
A pobreza e a fome assolam sobretudo áreas rurais do hemisfério sul desprovidas de uma estrutura agrária estável. Em alguns países chega a faltar qualquer base de subsistência; em outros, menos pobres, os agricultores não têm a quem vender seus produtos.Miséria em números
– Para 2,5 bilhões de pessoas, a agricultura é a principal fonte de subsistência. Os países em desenvolvimento representam 80% da população mundial, mas apenas 30% das exportações internacionais. As consequências disso, traduzidas em números, são as seguintes: diariamente morrem de fome cerca de 25 mil pessoas em todo o mundo, entre as quais 16 mil crianças. Neste Dia Mundial da Alimentação, a ministra alemã da Agricultura, Renate Künast, lembrou da meta acertada no ano passado, durante a cúpula de desenvolvimento de Monterey. Ela definiu um prazo para a Alemanha cumprir o compromisso assumido: "Apesar da difícil situação econômica e da necessidade de conter despesas, as verbas de cooperação ao desenvolvimento não serão cortadas. O que foi acertado em Monterey, ou seja, a meta de destinar pelo menos 0,33% do PIB à cooperação de desenvolvimento deverá ser atingida até 2006 e superada em 2007."Descompasso global
– No entanto, a principal contribuição que se espera dos países desenvolvidos continua sendo uma política agrícola mundial igualitária, que facilite o ingresso de produtos do hemisfério sul nos mercados no norte. Quanto a isso, as perspectivas não são muito promissoras. Há apenas algumas semanas, o encontro da Organização Mundial de Comércio (OMC) em Cancún, no México, terminou sem qualquer consenso sobre duas questões fundamentais para o combate à fome: a diminuição das subvenções agrícolas no hemisfério norte e a abertura de seus mercados aos produtos vindos do sul. A ministra Renate Künast exigiu que os países desenvolvidos contribuam para um comércio mundial igualitário. A política do Partido Verde ressaltou que a aquisição de produtos fair trade representa um apoio direto aos produtores dos países em desenvolvimento.Café alemão
– Ela se referiu a anomalias do comércio internacional, lembrando – por exemplo – que a Alemanha é o maior exportador de café do mundo, pois os grãos importados são torrados no país. Enquanto isso, no hemisfério sul, os trabalhadores rurais continuariam ganhando salários de fome: 25 centavos de dólar por quilo de café, sendo que o preço de mercado no fair trade seria 1,25 dólar. Organizações alemãs acusaram os países em desenvolvimento de não terem feito nenhuma proposta aceitável em Cancún, recusando-se a negociar seus princípios de subvenção agrícola. A presidente da Ação Agrária Alemã, Ingeborg Schäuble, apoiou os países em desenvolvimento em sua denúncia contra o protecionismo e a desigualdade na concorrência internacional.Desigualdade regional
– Por outro lado, Schäuble desafiou os países em desenvolvimento a cumprir os compromissos assumidos diante da comunidade internacional. Isso incluiria a realização de reformas agrárias, a concessão de maiores empréstimos a mulheres e pequenos agricultores e uma maior integração das camadas mais pobres no processo democrático. Algumas das mudanças urgentes poderiam ser iniciadas nas relações comerciais regionais, sugeriu Schäuble, lembrando que a cota de exportação agrícola da África se reduz a apenas 13% de sua produção.Anúncio