Fogo e enchente na Europa: sinais do aquecimento global
26 de agosto de 2005"As mudanças climáticas são mais rápidas que a política", assinala a especialista do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) Regine Günther, referindo-se à inércia política para prevenir catástrofes ambientais. Os ecologistas vêem na atual enchente nos Alpes e nas intensas chuvas dos últimos dias no sul da Alemanha indícios de que as previstas mudanças climáticas mundiais já começaram.
O alemão Klaus Töpfer, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep), destacou nesta quinta-feira (25/08) que já nem é mais possível evitar por completo as conseqüências negativas do aquecimento global. "Sinal disso é o aumento da quantidade de chuvas torrenciais, secas e tormentas em todo o mundo", disse. Para Töpfer, um primeiro passo para conter o problema seria reduzir as emissões de dióxido de carbono.
Evitar as causas das enchentes
Esta também é a opinião de Georg Rast, da WWF, para quem "a prevenção contra inundações continuará uma tarefa sem solução enquanto não se combater sua causas". Rast reclama dos políticos por não canalizarem verbas suficientes para a prevenção. Para ele, as mudanças climáticas exigem que sejam repensados os atuais conceitos de proteção antienchentes.
Apesar dos grandes alagamentos enfrentados pela Alemanha em 1999 e 2002, União e Estados não colocaram em prática as medidas necessárias para evitar novas catástrofes, reclama o diretor-geral da Liga do Meio Ambiente e Proteção à Natureza na Alemanha (Bund), Gerhard Timm.
Exemplo disso, segundo Timm, é que canais continuam sendo ampliados e as curvas dos rios continuam sendo corrigidas, embora os rios alemães disponham hoje de apenas 20% de suas áreas naturais de inundação. Um agravante é que a cada dia na Alemanha uma área correspondente a 150 campos de futebol é compactada de tal forma que não permite mais a absorção da água pelo solo.
Efeitos do clima global sobre Portugal e os Alpes
O governador da Baviera, Edmund Stoiber, rebate as acusações de negligência na região afetada pela enchente. "Com investimentos da ordem de 670 milhões de euros desde 1999, cumprimos nossos deveres para prevenir alagamentos", salienta.
E o porta-voz da secretaria bávara do Meio Ambiente, Roland Eichhorn, confirma: foram otimizados os sistemas de advertência de enchentes, construídas barragens e bacias de contenção e ampliadas as margens para facilitar o extravasamento da água.
Situações climáticas extremas, como as ondas de calor com incêndios nos bosques em Portugal e as chuvas torrenciais na Baviera esta semana, provam que o aquecimento global já influencia o clima diário, observa Mojib Latif, pesquisador do clima na Universidade de Kiel, no norte da Alemanha.
O fator responsável pelos alagamentos nos Alpes foi um fenômeno especial, conhecido como "Massa de ar 5B", explica Latif. "É quando o ar atmosférico suga umidade no Mediterrâneo e a transporta lentamente na direção leste, em volta dos Alpes. Só que o aquecimento global faz evaporar mais água sobre o Mediterrâneo e em conseqüência o ar traz mais umidade ainda. Se esta massa de ar fica presa sobre os Alpes, chove sem parar".