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FMI e Banco Mundial

26 de abril de 2010

A crise financeira global deixou claro o significado do FMI e do Banco Mundial. Ambas as organizações estão mais importantes e o papel de emergentes, como o Brasil, ganha mais peso junto a elas.

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Desde início da crise, Banco Mundial emprestou 100 bilhões de eurosFoto: ullstein bild - JOKER/Lohmeyer

A crise financeira global também teve seu lado positivo, pelo menos para o Banco Mundial e para o Fundo Monetário Internacional (FMI). Antes da crise, muitas pessoas se perguntavam se as duas organizações em Washington eram, afinal, ainda necessárias. Hoje, no entanto, seu papel é fundamental.

Desde a falência do banco Lehmann Brothers, o Banco Mundial já emprestou cerca de 100 bilhões de euros a países em desenvolvimento – mais do que nunca. Isso não impediu, no entanto, que em todo o mundo 60 milhões de pessoas a mais do que o esperado vivessem abaixo da linha da pobreza. Mesmo assim, o Banco foi considerado por observadores como bem-sucedido em atenuar as consequências da crise.

Para isso, a organização se concentrou em países de renda média. Cerca de 80% dos empréstimos foram destinados a algumas poucas nações, lideradas por Índia e Indonésia. O motivo: o perigo de um colapso nos países de renda média representa o maior risco para todo o sistema. O Banco Mundial considerou o papel de tais países como motor de crescimento e seu retorno ao comércio mundial como decisivos para que a crise pudesse ser controlada.

Banco Mundial

O Banco Mundial fomenta a economia e a proteção do meio ambiente em países mais pobres, e seus empréstimos a juros baixos são, muitas vezes, a única possibilidade de crédito para tais países. A crise agravou essa situação ainda mais.

Para financiar a crescente demanda de crédito devido à crise financeira, o Banco Mundial anunciou neste domingo (25/04) um aumento de capital de 5,1 bilhões de dólares (3,8 bilhões de euros). Mais da metade do dinheiro veio de países em desenvolvimento. Essa foi a primeira elevação de capital em mais de 20 anos.

Além disso, os 186 países que fazem parte do Banco Mundial aprovaram um aumento de 3,13% do poder de voto para os países emergentes.

Emergentes ganham mais peso

O projeto de mudança no equilibro interno de poder na instituição é motivo de polêmica. Os Estados Unidos e as “velhas” nações europeias industrializadas são chamados pelo Banco Mundial e pelo FMI a abrir mão de sua influência em prol dos países emergentes. O fato de os países do norte europeu – que nos últimos anos têm sido mais generosos com ajuda para o desenvolvimento do que os outros – perderam poder de voto, não facilita as coisas.

Em setembro de 2009, os líderes do G20 chegaram a acordo para que o maior peso econômico das economias emergentes se traduzisse num reforço do poder de voto – em pelo menos 5% no FMI e 3% no Banco Mundial. Na ocasião, os países emergentes pressionaram, todavia, por mudanças ainda mais radicais.

Para Makhtar Diop, diretor do Banco Mundial para o Brasil, o reforço do papel do Brasil nas duas instituições é um fato, e é visível na maior presença de brasileiros nos cargos de maior importância e num maior envolvimento da maior economia da América Latina na cooperação sul-sul. "O presidente Lula fez da cooperação com os países do sul uma prioridade, e estamos trabalhando alinhados com o governo brasileiro. Isso também ajuda a fortalecer a influência do Brasil na economia global, particularmente em países em desenvolvimento", disse.

O ex-ministro senegalês sublinha que os países do BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China – mais a África do Sul saíram da crise fortalecidos em relação às economias desenvolvidas e ganham cada vez mais importância nas instituições financeiras internacionais e no G20. "A crise teve um papel importante, porque mostrou que as economias do BRIC são resistentes", disse Diop.

Symbolbild IWF und Finanzkrise
FMI teve papel decisivo em amenizar efeitos da criseFoto: DW

Bombeiro das finanças

A organização irmã do Banco Mundial, o FMI, é uma espécie de "corpo de bombeiro" das Nações Unidas para combater "incêndios financeiros" em países desequilibrados economicamente. Com o apoio dos grandes países emergentes, o FMI aumentou seu fundo de crise de 50 bilhões para cerca de 550 bilhões de dólares. Mesmo dentro da zona do euro, o FMI deverá prestar ajuda em breve – estão em negociação empréstimos de 15 bilhões de euros para a Grécia.

Embora os países europeus contribuam com a maior parte dos empréstimos, ainda não está claro, se eles também querem coordenar o processo de saneamento das finanças gregas. "Face ao remédio amargo que deverá ser dado aos gregos, os países europeus preferem manter distância", suspeita Jacob Kirkegaard, economista do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington.

O FMI ficará então com o papel de policial malvado – com o qual, aliás, já está acostumado. Desde 1982, quando os empréstimos do FMI ao México foram condicionados a drásticas reformas estruturais, a fama da organização ficou sendo a de conhecer apenas três palavras: liberalização, desregulação e privatização.

Em 1997, quando assumiu o controle da chamada crise asiática, iniciada na Tailândia, o FMI liberou crédito na ordem de 36 bilhões de dólares, mas acabou sofrendo críticas devido à má gestão da crise. Para evitar a dependência do controverso "corpo de bombeiro das finanças", muitos países asiáticos aumentaram desde então suas reservas monetárias. E no decorrer da crise financeira, o FMI já aprendeu: "mais crédito, mais flexibilidade, menos condições" tornou-se o lema.

Autor: Wenkel, Rolf / Francis França
Revisão: Carlos Albuquerque