Filme resgata história de atentado frustrado contra Hitler
9 de abril de 2015Filmes sobre eventos históricos ocultos contam na melhor das hipóteses duas histórias: a do evento real e – num segundo plano – algo sobre a atualidade. O longa Elser, do diretor Oliver Hirschbiegel, que estreou no Festival de Berlim e agora está sendo lançado nos cinemas, é um dele. Ele lembra um atentado fracassado contra Adolf Hitler, realizado em Munique, em novembro de 1939. Ao mesmo tempo, Elser parece apelar ao público que mostre coragem e tome posições.
"Nos dias de hoje, há o risco de a linha entre combatentes pela liberdade e terroristas ficar cada vez mais tênue", diz Fred Breinersdorfer, que escreveu juntamente com a filha, Léonie-Claire, o roteiro para o filme. Ele enxerga uma conexão entre os eventos históricos retratados em Elser e o mundo atual. "Os acontecimentos na Ucrânia ou nos países árabes nos mostram de maneira drástica que precisamos, a todo custo, de uma bússola de valores que nos permita a diferenciação."
Um corajoso individualista
Georg Elser, um fervoroso individualista da região da Suábia, não queria assistir imóvel à insanidade da Alemanha nazista tomar seu curso no final da década de 30. Como partidos políticos e movimentos de resistência eram algo distante, ele amadureceu a ideia de agir sozinho.
O talentoso carpinteiro construiu uma bomba, que ele, após longas noites de trabalho, posicionou sob o palanque de discursos do Bürgerkräukeller, uma grande cervejaria de Munique. Lá, em oito de novembro de 1939, Adolf Hitler deveria fazer um discurso para o povo alemão.
A bomba explodiu, de fato, mas Hitler havia deixado o salão 13 minutos antes da detonação. Oito pessoas foram mortas, mas o ditador escapou. O atentado político, que provavelmente teria mudado o curso do mundo, falhou.
Logo depois, Elser foi preso, torturado e interrogado. Em 9 de abril de 1945, pouco antes do fim da guerra, ele foi executado pelos nazistas. Embora na época tivesse ficado rapidamente claro que era ele o responsável, os líderes do regime relutaram em admitir que se tratava de um atentado de um único autor.
Resistência de um homem só
O filme de Oliver Hirschbiegel mostra os brutais interrogatórios, expõe o quão firme Georg Elser se mantém, como ele sustenta a verdade sob severa tortura. Uma verdade que os nazistas certamente não queriam aceitar: que um agressor solitário quase conseguiu matar Hitler.
Entre essas cenas, o filme repetidamente volta à terra natal de Elser, narra a infiltração lenta das ideias nacional-socialistas na Suábia, a euforia com a loucura nazista. Os poucos que protestam abertamente são deportados para campos de trabalho.
O que Hirschbiegel – que alcançou com A Queda – As últimas horas de Hitler sucesso mundial e uma indicação ao Oscar – vê de tão fascinante nessa história? "Sua clarividência", responde o diretor. "Elser não era uma pessoa organizada politicamente, mas era simplesmente uma mente livre, que acreditava na individualidade e na autodeterminação."
Já existem duas versões para o cinema do caso Elser: uma adaptação para a televisão alemã, na década de 60, e uma que conta com a direção e participação do austríaco Klaus-Maria Brandauer, de 1989.
No primeiro filme ainda prevalecia na Alemanha a concepção de que Elser era um simplório dissidente, diz Hirschbiegel. E, posteriormente, Brandauer rodou um clássico suspense à la Hollywood. "Já eu quis gerar uma tensão sobre a psicologia, sobre a situação na qual uma nação inteira caiu", explica.
Logo no início da trama, o público assiste à tentativa fracassada do atentado e à prisão de Elser. O que segue então – em flashbacks – são respostas para questões sobre como as coisas puderam chegar tão longe na Alemanha. E, nas cenas de interrogatório, o foco em cima dos nazistas, que aparentam puro desespero porque um ataque solitário quase derrubou o topo do comando do regime.
Por muito tempo houve diversas teorias da conspiração na Alemanha, lembra Hirschbiegel. "Afirmou-se que Elser seria um fantoche dos serviços de inteligência inimigos e, desta forma, um traidor de seu próprio povo. Ou que ele teria sido encarregado pelos nazistas de perpetrar o ataque, para que eles pudessem celebrar Hitler como mártir", afirma.
Hirschbiegel e os roteiristas querem mostrar com o filme como as coisas realmente aconteceram na época – mantendo distância de todas as formas de construções convencionais de tensão no cinema. Elser não é um documentário ou um ensaio cinematográfico, mas uma peça sólida e tecnicamente bem feita sobre um episódio notável da resistência alemã.
Paralelos com a atualidade
E o que Elser tem a ver com Edward Snowden? O que um filme sobre um solitário assassino de Hitler tem a ver com a nossa realidade? Segundo Hirschbiegel, a resposta está no termo "coragem cívica". "É quando chega ao ponto no qual dizemos: 'Disso eu não participo mais, isso minha consciência não pode mais aceitar?'".
Obviamente Hirschbiegel não quer comparar a Alemanha nazista com os Estados Unidos. No entanto, durante a preparação para a produção do filme, ele conta que pensou imediatamente em Edward Snowden.
"Ele teve que desviar por anos o olhar daquilo que estava acontecendo num suposto país democrático. Ele não teve paz, até que abandonou tudo e passou as suas informações à opinião pública, apesar de saber que a vida que vivia até então estaria acabada. No que se refere a este ímpeto interior, o altamente inteligente e sofisticado Snowden se assemelha em muito a Elser", conclui Hirschbiegel.