"Fidelio", a única ópera do gênio da música
19 de julho de 2018Poucos conseguem adivinhar quantas óperas Ludwig van Beethoven compôs em sua vida. Durante seus primeiros anos em Bonn, Beethoven foi atraído pela primeira vez à forma dramática da ópera. A partir de então, ele estava constantemente à procura de material para basear suas peças. Ele explorava regularmente obras literárias, mas invariavelmente, elas eram descartadas depois de alguns esboços iniciais. O caminho criativo que o levou a realizar sua única ópera, Fidelio, foi uma luta de uma década caracterizada por falhas e decepções.
"Tudo relacionado com a ópera (Fidelio) é a coisa mais penosa do mundo. Há uma grande diferença entre reflexão e ser capaz de deixar o pensamento e o entusiasmo livre. Em suma, posso garantir que, com essa ópera, irei ganhar uma coroa de mérito", escreveu Beethoven em 1814. Na época, ele estava trabalhando na terceira e última versão da obra, que foi recebida com entusiasmo quando estreou no Theater am Kärntnertor de Viena em 23 de maio de 1814. Logo a ópera faria grande sucesso em toda a Europa.
Momento de revelação
O mundo do teatro de Viena tomou conhecimento de Beethoven depois da bem sucedida estreia do balé As Criaturas de Prometeu. Até aquele momento, ele só era conhecido por composições instrumentais. Na primavera de 1804, ele foi contratado pelo novo diretor da casa de espetáculos Theater an der Wien para compor uma ópera baseada na obra francesa Léonore ou L'Amour Conjugal. O libreto, que se baseia em uma história real da época da Revolução Francesa, havia sido musicado com sucesso diversas vezes.
A história de Leonore, que se veste como um homem e arrisca a vida para libertar o marido preso por suas convicções políticas, correspondia a sua visão de o que era uma ópera. Ele viu no trabalho uma oportunidade de expressar seu entusiasmo pessoal pelos ideais da Revolução Francesa. Beethoven completou a composição da partitura no outono de 1805.
Estrada tortuosa
Mas a estreia em 20 de novembro de 1805 no Theater an der Wien foi um fiasco. A ópera saiu de cartaz depois de apenas duas performances e as críticas foram depreciativas. "A nova ópera de Beethoven, Fidelio, não agradou", escreveu a imprensa. "Há alguns momentos bonitos nas músicas, mas está longe de ser uma peça completa, e muito menos bem sucedida".
Uma das maiores razões para o fracasso foi a estreia em um dia infortuno, uma semana antes de as tropas de Napoleão ocuparem Viena, e seus moradores não estavam com cabeça para o entretenimento teatral. Muitos fugiram, e o público consistia em soldados franceses que não entendiam nada das letras em alemão, perdendo totalmente a mensagem de libertação pretendida por Beethoven.
Decepcionado, o compositor começou imediatamente a reescrever a ópera. Seu velho amigo Stephan von Breuning enxugou o texto, comprimindo-o de três para dois atos. Mas, mesmo essa versão mais curta apresentada ao mundo pela primeira vez em 29 de março de 1806, só alcançou sucesso moderado, e em particular o libreto foi muito criticado. O jornal especializado Wiener Theater-Zeitung escreveu: "É incompreensível como o compositor pode se dedicar a animar esse texto trivial com sua bela música".
"Dores de parto"
Demorou mais oito anos, até 1814, para ressurgir o interesse por Fidelio. Beethoven começou imediatamente a retrabalhar o que ele descrevia como seu "filho favorito", que lhe causou as maiores "dores de parto".
Em uma carta para o libretista Georg Friedrich Treitschke, ele reclama que seria mais rápido escrever algo novo. "A nova partitura para a ópera é a pior que já vi, tenho que checar nota por nota", disse ele.
Mas ele completou, e até conduziu, a nova versão, que estreou no Theater am Kärntnertor de Viena em 23 de maio de 1814, com uma recepção calorosa. Georg Friedrich Treitschke descreveu a ópera como perfeitamente ensaiada, dizendo: "Beethoven conduziu e, apesar de sua paixão, que muitas vezes o coloca fora do compasso, mas o chefe da orquestra dirigiu tudo com seus olhos e mãos. A apresentação teve aplausos calorosos, até mesmo tumultuados, e o compositor foi chamado ao palco após o primeiro e o segundo ato.
Grande sucesso
Para os contemporâneos de Beethoven, Fidelio se tornou rapidamente um símbolo da bem sucedida luta contra Napoleão, e rapidamente se tornou popular na Alemanha e na Europa. Goethe, que na época era diretor do teatro da corte em Weimar, incluiu a ópera em seu programa em 1816. Em 1823, Carl Maria von Weber dirigiu a primeira apresentação em Dresden. Em 1830, a ópera foi exibida em Paris pela primeira vez, seguida, no ano seguinte, pela estreia em Londres.
Mas talvez o lugar em que a ópera de Beethoven marcou mais foi Leipzig, onde Richard Wagner, então com 16 anos, assistiu a Fidelio e decidiu que queria se tornar compositor de ópera.
Mais tarde refletiria: "Quando olho para trás, para minha vida inteira, eu vejo raros momentos tão significativos quanto aquele".
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