goEast
29 de abril de 2010Um dos filmes mais interessantes exibidos na décima edição do Festival goEast, que acontece na cidade de Wiesbaden, é o polonês Swinki (Porcos), a história do garoto Tomek, que se prostitui a contragosto, por precisar do dinheiro. Dentro do carro do "cliente", se arrepende, porém não tem mais como sair da situação.
O filme gira em torno do tema do abuso sexual, que vem sendo há meses tratado pela mídia internacional. Situado numa desolada região fronteiriça entre a Polônia e a Alemanha, onde a prostituição infantil é cada vez maior, Swinki narra uma história de difícil digestão. Ficção com toques amedrontadores de realidade, o filme aponta também para as ligações entre a prostituição e o materialismo, exacerbado até a perversão, que assola a nova geração polonesa.
Comunicação agressiva na Geórgia
Embora não seja nítido um fio condutor temático no festival, muitos dos filmes estão ligados pela falta de perspectivas e impotência. Em Na rua, de Levan Koguashvili, produção da Geórgia, até mesmo a comunicação cotidiana se tornou inviável. Sobretudo as mulheres se mostram nervosas, perdem rapidamente a compostura.
Se não bastasse a luta cotidiana pela sobrevivência, a lhes tirar as últimas forças, elas ainda se veem obrigadas a brigar com seus maridos, que, completamente afundados no fracasso, ainda tornam a situação ainda pior. Mesmo o junkie bem-intencionado Checkie perdeu o controle sobre sua vida. Ao cair nas mãos de policiais corruptos que o pressionam a viciar-se em heroína, ele, que é filho do premiê do país, não mais vê como escapar de seu ciclo vicioso.
Os nervos também estão à flor da pele nos Bálcãs, porém aqui, em vez de resignação, o resultado é rebelião. No filme sérvio A velha escola do capitalismo, um grupo de trabalhadores e anarquistas dá um basta. Suas famílias passam fome, os salários suspensos desde que perderam o emprego: está na hora de dar um fim à política desumana da empresa. Assim, os rebeldes invadem a mansão dos chefes. Embora, na realidade, esses protagonistas nunca fossem capazes de iniciar uma rebelião, a atmosfera é altamente emocional, tumultos sociais se anunciam.
Conflitos de gerações no cinema romeno em expansão
O festival goEast, no entanto, não se resume a registrar a situação atual. Alguns cineastas também tratam dos conflitos de gerações nos países do Leste Europeu, ou a elaboração da história. A presença mais marcante nesse contexto é a do romeno Medalha de honra, de Peter Calin Netzer.
O filme narra a história de Ion e seu filho, que emigrou para o Canadá e se comunica apenas com a mãe, pelo telefone. Entre os dois homens reina um silêncio glacial: o filho não perdoa o pai por este, durante a era Ceauşescu, ter-se deixado apreender pela polícia secreta, no momento em que iria dar às costas ao regime desumano.
O governo concede ao pai uma medalha por méritos especiais durante a Segunda Guerra. De início, ele não se lembra de nenhum ato heróico, mas aos poucos a fantasia vem em seu auxílio. O problema é que ninguém se interessa pelas lembranças do rabugento aposentado. Para piorar tudo, vem à tona que a "sua" medalha fora destinada a outra pessoa.
Medalha de honra é mais uma obra prima do cinema da Romênia, um país onde, apesar dos poucos recursos destinados à sétima arte, desenvolveu-se um cenário cinematográfico espantosamente promissor. A produção mereceria, sem dúvida, o A Lírio de Ouro de Melhor Filme.
Autora: Kirsten Liese (SV)
Revisão: Augusto Valente