Festival
29 de agosto de 2009Este foi, nos últimos anos, o Festival de Bayreuth que mais chamou a atenção da mídia. Afinal, a edição 2009 marcou a estreia na direção do festival da jovem Katharina Wagner e de sua meia-irmã Eva Wagner-Pasquier, ambas bisnetas do compositor Richard Wagner e filhas de Wolfgang Wagner, que dirigiu o festival por nada menos que 57 anos – de início, ao lado de seu irmão Wieland; mais tarde, sozinho.
A nova direção de Bayreuth foi visível na tendência pop do evento, com exibições de espetáculos em telão, em praça pública, em meio a lanchonetes e estandes de venda de cerveja. Além de transmissões ao vivo pela internet, isso foi algo inusitado no festival.
Mesmo assim, como nos anos anteriores, os ingressos dos 30 espetáculos estiveram, bem antes do início do festival, completamente esgotados.
Oferta multimídia
Outra inovação das irmãs Wagner foi uma versão para crianças de O navio fantasma. Para o próximo ano, o festival promete uma adaptação infantil de Tannhäuser. Além disso, há planos de uma oferta multimídia dos espetáculos do festival, em cooperação com a Opus Arte, responsável pela produção e marketing da Royal Opera House de Londres.
A transmissão de Tristão e Isolda este ano, no dia 9 de agosto, em praça pública, já reunira nada menos que 20 mil pessoas. No no que vem, será a vez de A Valquíria ser vista no telão. O sucesso de público deste ano, contudo, foi sem dúvida Parsifal na direção do jovem norueguês Stefan Herheim, uma encenação que rastreou os quase 100 anos de recepção da ópera em Bayreuth.
Elaboração do passado nazista
Embora o festival tenha sido dirigido pelas duas irmãs, as luzes se voltaram quase que exclusivamente para a jovem Katharina, que ocupou o centro das atenções, ao contrário de Eva, que se manteve na retaguarda (embora seja, da mesma forma, codiretora do festival). "Por sorte, não fomos atingidos por nenhum caso de doença grave, nem tivemos que remanejar pessoal", afirmou em tom de entusiasmo Katharina no fim do evento.
Enquanto as grandes festividades de comemoração dos 200 anos de Richard Wagner, em 2013, não chegam (para quando está sendo preparada uma nova encenação da tetralogia O Anel do Nibelungo), as diretoras anunciam novidades, como a tentativa, segundo Katharina, de elaborar o passado nazista do festival. Neste sentido, promete a bisneta de Wagner, "ainda temos muito pela frente".
Fim de uma era
A grande novidade de 2009, no entanto, foi mesmo o fim da era Wolfgang Wagner. Conhecido por misturar habilidades manuais com a visão de um homem de negócios e a paixão de um artista, seu domínio sobre a Colina Verde – morro sobre o qual está situado o teatro do festival – foi, no decorrer dos anos, marcado por uma conduta autoritária e uma forma obstinada de dirigir o festival.
Defensor da jovem Katahrina – filha de seu segundo casamento – para ocupar a direção em Bayreuth, Wolfgang foi obrigado a engolir, no fim, que Eva Wagner-Pasquier, filha de seu primeiro casamento e notoriamente não predileta do pai, assumisse também o cargo como sua sucessora.
Contrato e domínio não vitalício
Outra mudança radical nos bastidores de Bayreuth, além da saída de Wolfgang Wagner, foi uma nova regulamentação que pôs fim ao domínio vitalício da família sobre o festival. Wolfgang, que sempre fez jus à frase do avô – "O que você é, você só é através de contratos" –, era conhecido por manter artistas sob seus auspícios através de contratos, assegurando assim sua posição de poder.
Essa era em Bayreuth definitivamente chega ao fim. Wolfgang Wagner é hoje um homem frágil de 90 anos, que quase nunca aparece em público. Nos próximos anos suas filhas serão as responsáveis por Bayreuth. Pelo menos nos próximos sete anos, data em que chega ao fim o contrato das mesmas.
SV/dw/dpa/ap
Revisão: Carlos Albuquerque