Ferroviária holandesa indenizará vítimas do Holocausto
28 de novembro de 2018A companhia ferroviária estatal holandesa, Nederlandse Spoorwegen (NS), pagará indenizações a parente de judeus que foram deportados em trens da empresa para campos de concentração e extermínio, durante a ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial.
É a primeira vez que a empresa se dispõem a pagar indenizações individuais a parentes de vítimas do Holocausto. Até agora, a NS já havia doado dinheiro para vários projetos de memória por sua participação no extermínio de judeus. O anúncio da decisão foi feito durante o noticiário noturno da emissora pública de televisão nesta terça-feira (27/11).
"Decidimos fundar uma comissão, que irá determinar como podemos organizar a ajuda financeira para os afetados", disse o presidente da NS, Roger van Boxtel.
A empresa não divulgou quantas pessoas receberão as indenizações e nem o total valor que será destinado para esse fim.
Depois da ocupação da Holanda por tropas nazistas, em maio de 1940, a NS recebeu ordens para deportar judeus para o campo de trânsito de Westerbork, de onde eles eram enviados para campos de concentração e extermínio na Alemanha, República Tcheca e Polônia. Cerca de 107 mil judeus, incluindo Anne Frank, foram transportados pela companhia para Westerbork.
Na época, os nazistas pagaram à empresa ferroviária pelo transporte dos judeus. "A NS seguiu a ordem alemã para disponibilizar os trens. Os alemães pagavam por esse serviço, e a companhia deveria garantir que os trens circulassem no horário", afirmou Dirk Mulder, do Centro de Memória de Westerbork à emissora NOS.
Estima-se que a NS lucrou cerca de 2,5 milhões de euros (10,9 milhões de reais) com o transporte solicitado pelos nazistas, segundo a emissora de televisão.
Em 2005, a NS pediu desculpas oficialmente pelo seu papel na deportação de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Somente cerca de 30 mil dos 140 mil judeus que moravam na Holanda no início da guerra sobreviveram ao Holocausto.
A decisão da empresa de compensar financeiramente os descentes de deportados é resultado de uma batalha entre a NS e Salo Muller, um ex-fisioterapeuta do time de futebol Ajax.
Os pais de Muller foram deportados para Westerbork e, posteriormente, para Auschwitz, onde foram assassinados. Ele argumentava que a companhia ferroviária lucrou com o transporte de judeus e, desde 2017, lutava por uma indenização.
"Para mim, essa decisão significa que a NS percebeu que o sofrimento de muitos judeus não terminou. Por isso, estou feliz que a NS reconheça que pagará por razões morais", afirmou Muller.
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