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Feira de Frankfurt mudou imagem do Brasil no exterior, dizem organizadores

Luisa Frey12 de outubro de 2013

Em meio a polêmicas envolvendo Paulo Coelho e Luiz Ruffato, programação literária e cultural ajudou a quebrar clichês e aumentar o interesse pelo país. Pavilhão do Brasil recebeu cerca de 60 mil visitantes.

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Foto: DW/Farnaz B.

"Vocês podem ter muito orgulho de seu país", declarou o presidente da Feira do Livro de Frankfurt, Jürgen Boos, neste sábado (12/10). Em coletiva de balanço sobre a participação do Brasil como convidado de honra do maior evento literário do mundo, Boos e membros da organização brasileira consideraram que o país se mostrou mais contemporâneo e pronto para vender direitos autorais.

Além da programação literária na feira, envolvendo 70 autores brasileiros, Boos elogiou os eventos culturais paralelos à feira em Frankfurt, iniciados em 23 de agosto e que continuam até janeiro do ano que vem. "Pela primeira vez, um convidado de honra está presente em todas as instituições culturais da cidade."

Ao todo, o Brasil realizará 651 eventos literários e culturais, 226 deles promovidos diretamente pelo país, por meio dos Ministérios da Cultura e Relações Exteriores, Funarte, Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Fundação Biblioteca Nacional (BN).

Bildergalerie Frankfurt Buchmesse 2013 Iran
Homenageando os livros impressos, pavilhão do Brasil foi feito quase todo de papelFoto: DW/Farnaz B.

Antes do Brasil, o maior número de eventos havia sido o da China, com 494 em 2009. "Tenho certeza que Frankfurt tem agora uma boa noção do que é o país", diz Renato Lessa, presidente da BN.

Dos quase 19 milhões de reais investidos no Projeto Frankfurt 2013, a maior parte foi destinada à programação cultural, seguida do pavilhão brasileiro na feira do livro. O espaço de 2.500 metros quadrados construído quase todo em papel, em homenagem aos livros impressos, custou 4,9 milhões de reais. O investimento parece ter valido a pena: estima-se que cerca de 60 mil pessoas tenham passado pelo pavilhão.

"Ele representa uma síntese do Brasil moderno, porque é claro, aberto e traz diversos aspectos da literatura, da criatividade, do pensamento brasileiro. Se juntarmos o pavilhão ao discurso do Ruffato, tem-se um quadro do Brasil de hoje", diz Judith Schleyer, responsável por literatura e eventos no Centro Cultural Brasileiro em Frankfurt.

Direitos autorais

Cada alemão compra em média dez livros por ano. "Se esses livros são lidos é outra questão", brinca Boos. Enquanto isso, cada brasileiro lê, em média, quatro livros por ano. Mas além de não ser um país tradicionalmente leitor, o Brasil também é visto como comprador e não vendedor de direitos autorais. E mudar essa imagem é um dos efeitos esperados da homenagem na Feira de Frankfurt.

Karine Pansa, presidente da CBL, aposta em bons resultados para 2013, seguindo a tendência dos anos anteriores. Em 2010, as vendas de direitos autorais brasileiros somaram 495 mil dólares em 2010 e saltaram para 880 mil dólares, em 2011, e 1,2 milhão de dólares em 2012.

Ricardo Lelis, do departamento de direitos autorais da editora Cosac Naify – uma das 170 editoras brasileiras que fazem parte do estande coletivo do país na feira –, diz já ter sentido uma interação maior com editores estrangeiros neste ano. "Além de ser o convidado de honra, com os eventos mundiais que vão ocorrer envolvendo o Brasil, acredito que haja um interesse maior do público em descobrir o país. E esperamos que isso venha a gerar mais negócios."

Renato Lessa, Vorstand der Brasilianischen Nationalbilbliothek
Para presidente da Biblioteca Nacional, Renato Lessa, feira passou uma boa noção do BrasilFoto: DW/L. Frey

As polêmicas

Apesar do saldo geral positivo, a presença do Brasil em Frankfurt foi marcada por polêmicas. A primeira delas veio antes do evento, quando o autor Paulo Coelho disse que não viria a Frankfurt em boicote à lista de 70 autores brasileiros convidados à feira, da qual ele fazia parte e considerou resultado de nepotismo.

Lessa lamenta a ausência do escritor. "Ele é o maior sucesso da literatura comercial brasileira e qualquer amostra da literatura brasileira deve incluir autores que tenham sucesso comercial." Para Boos, o boicote foi uma sacada de marketing, já que o autor ganhou destaque na mídia com isso. Segundo o presidente da Feira de Frankfurt, Coelho virá ao evento no ano que vem.

Depois, foi a vez do discurso de abertura de Luiz Ruffato chamar a atenção – entre os participantes da feira, nas redes sociais e na mídia brasileira e alemã. "O discurso de Ruffato não foi discutido abertamente na feira. Não houve protestos por parte dos autores", disse um artigo da emissora alemã ARD, em um site especial dedicado à feira.

Para Lessa, o discurso de Ruffato é coerente com a literatura do autor e deve ser entendido com uma intervenção literária. "E se numa feira literária, uma intervenção literária é percebida como algo perturbador, é porque há algo de errado. Podemos ter opiniões diferentes, mas o importante é que todas as falas sejam contempladas num evento como esse e possam nos provocar."

Luiz Ruffato Schriftsteller aus Brasilien
Luiz Ruffato dividiu opiniõesFoto: DW/L. Frey

Para Boos, Ruffato não foi escolhido por acaso como orador do Brasil. "Ele queria mostrar como o Brasil é e conseguiu descrever muito bem o país e sua sociedade." Boos ressalta que o discurso não atrapalhou o clima da feira, que não deve ser vista como uma festa. "Há muito mais razões para estarmos aqui."

Após toda a polêmica em torno do discurso, o próprio Ruffato elogiou a programação literária durante a feira e os eventos culturais na cidade. "O Brasil fez a sua parte, e o saldo da feira é positivo." Daqui para frente, o autor acredita que o interesse internacional pela literatura brasileira vai depender de políticas públicas e de o Brasil se manter em destaque no cenário político-econômico mundial.

A participação do Brasil como convidado de honra na Feira do Livro chega ao fim neste domingo, com a passagem do bastão para o próximo país homenageado, a Finlândia.