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"Fake news" e o massacre de Las Vegas

6 de outubro de 2017

Boatos invadiram a internet após o ataque na cidade americana, em mais um exemplo da rapidez da disseminação de mentiras na internet. Pesquisas revelam que divulgação de notícias falsas se tornou um negócio lucrativo.

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Faixa da polícia interdita arredores do local onde ocorreu o massacre em Las Vegas
Faixa da polícia interdita arredores do local onde ocorreu o massacre em Las VegasFoto: Reuters/M. Blake

Pelo menos 58 pessoas morreram e mais de 500 ficaram feridos no massacre de Las Vegas. Stephen Paddock, o assassino, está morto. O motivo do ataque ainda permanece desconhecido. Esses são os fatos oficialmente confirmados.

Mas ao mesmo tempo que eram divulgadas as primeiras notícias do ataque, já começavam a circular os primeiros rumores e falsas notícias. As fake news são geralmente clicadas muito mais vezes que as baseadas em fatos e divulgadas pela mídia séria. Mas por quê? Quem lucra com esse fluxo de falsidades e por que elas se espalham tão rapidamente?

Um estudo da London School of Economics (LSE)  mostra a ampla gama das chamadas fake news. Elas incluem não apenas artigos deliberadamente falsos, mas também coberturas unilaterais, que tentam direcionar a opinião dos leitores para uma linha determinada. Os pesquisadores também incluíram em sua pesquisa a propagação de boatos.

Sobre o massacre de Las Vegas, existem inúmeros rumores e mentiras. Sobretudo militantes de direita especulam se Paddock teria sido um islamista ou talvez algum radical esquerdista que odiava Donald Trump. O portal silenceisconsent.com, por exemplo, especula que Paddock poderia ter sido integrante de grupos antifacistas.

De acordo com a polícia, Paddock teria agido sozinho. Mas nas mídias sociais continuam a circular boatos de que havia pelo menos um segundo atirador. Como prova da teoria, grupos como o The People's Voice publicam artigos exibindo vídeos com imagens tremidas, feitas por internautas. A consistência do que é mostrado e a credibilidade da fonte parecem ser apenas secundárias.

Como se espalham 

No caso de Las Vegas, os gigantes do Vale do Silício Google, Facebook e Twitter são acusados ​​de não terem contido notícias falsas e até mesmo de terem ajudado a divulgá-las.

Internautas que queriam se informar sobre o tiroteio via Google eram redirecionados, através de um link, para a plataforma de notícias 4chan, que afirmava, de forma falsa, que o assassino era Geary Danley, ex-marido da namorada de Paddock. O site 4chan é conhecido por difundir notícias falsas e teorias de conspiração após grandes tiroteios e ataques terroristas.

Os divulgadores de boatos de outros portais de fake news, como o direitista The Gateway Pundit, conseguem chamar atenção nas mídias sociais.

Os produtores profissionais de falsas notícias conseguem frequentemente manipular algoritmos de Google, Facebook e outras redes sociais para garantindo nelas um melhor posicionamento para suas notícias falsas. O Facebook anunciou em meados do ano o desenvolvimento de algoritmos para detectar falsas notícias.

O negócio das mentiras

É possível ganhar muito dinheiro com fake news. Um relatório da empresa de software Trend Micro revelou inúmeras páginas em chamadas Darknets – redes secretas de comunicação – oferecendo notícias falsas como serviço.

Por 200 mil dólares, por exemplo, é possível comprar uma campanha visando provocar protestos públicos. Já uma campanha de descrédito de um jornalista custa 55 mil dólares. O pacote contém geralmente falsos perfis e falsos grupos em redes sociais, o próprio conteúdo falso, assim como suficientes "curtidas” e retweets para que ocorra uma rápida propagação.

Outra fonte de renda é um tipo de publicidade online relatada pela London School of Economics. Ela faz propaganda sobretudo de artigos que são visualmente atraentes e que prometem gerar muitos cliques. A veracidade do conteúdo da notícia tem importância secundária.

O anúncio programático é totalmente automatizado com a ajuda de algoritmos. Esta é também uma das razões pelas quais os curiosos artigos de notícias falsas sobre o massacre de Las Vegas eram clicados muito mais frequentemente do que os artigos do New York Times, por exemplo.

A psicóloga alemã Catarina Katzer diz que, com a grande carga de informação que recebem por portais de notícias e mídia social, as pessoas tendem a se tornar cada vez mais superficiais no que leem.

"Sabemos que só conseguimos realmente ler entre 10% e 15% daquilo que acessamos na internet. O resto cai em um buraco negro", afirma, em entrevista à rede de televisão alemã ARD.

Isso, segundo a especialista, tornaria muitas pessoas mais suscetíveis de acreditar em notícias falsas, principalmente aquelas que não querem se dar ao trabalho de checar a veracidade de determinadas notícias.

"Quando encontramos coisas na internet, procuramos sempre estruturas cognitivas conhecidas ou nos deixamos nos distrair por elas", acrescenta.