Repórter da moda
17 de abril de 2008Paris, 1950. A cidade se tornara novamente a metrópole mundial da moda. Aí vivia Franz Christian Gundlach, então um jovem fotógrafo desconhecido. Apesar de sua má experiência na prisão de guerra francesa, ele queria estar no coração da vida cultural.
"Sartre e muitos outros se sentavam nos cafés, foi uma época fascinante", comenta F.C. Gundlach, nome pelo qual o fotógrafo ficou conhecido.
Descoberto em Paris
Na época, ele andava com sua câmara por Paris. Com as fotos de então começa a exposição. Pois foi na capital da moda onde se iniciou a carreira de F.C. Gundlach, o mais importante fotógrafo de moda alemão do pós-guerra.
Na capital francesa, o jovem fotógrafo chamou atenção do casal Waldenburger – editores da revista Film und Frau (Filme e Mulher), muito conhecida na época na Alemanha. Já em 1951, ele começa a trabalhar como fotógrafo para a revista. Suas fotos mostram mais do que simplesmente moda.
"A encenação não deve matar a moda"
Antes de se tornar fotógrafo de moda, ela ganhava a vida como repórter fotográfico. Sempre foi muito importante trazer sua experiência de repórter à fotografia da moda, explica Gundlach: "Era comum estar em situações bastante inéditas e achava emocionante montar alguma coisa a partir do zero. Eu podia recorrer ao meu repertório de experiências, integrando-as na nova situação". Suas fotos se reduzem sempre ao absolutamente necessário.
Pois, para ele, uma foto de moda só é boa quando transmite uma informação da própria moda. "Quando a encenação mata a moda, quando há somente ambiente, acho que se vai longe demais", afirma o fotógrafo.
"Ele vê o mundo com outros olhos"
No percurso pelos pavilhões Deichtorhallen, onde acontece a exposição, conhece-se não somente o fotógrafo, mas também a pessoa Gundlach bem de perto. É justamente esta clareza das fotos que mostra como ele percebe seu entorno, como ele observa pessoas e situações.
"Ele vê o mundo com olhos que não temos, o que é necessário como fotógrafo", comenta Gitta Schilling entusiasmada. A elegante senhora pára em frente a uma foto sua. Quando jovem, era uma modelo cobiçada e fez vários fotos com F.C. Gundlach.
"Ele me fotografou como eu era", lembra Schilling. "Da mesma forma adorável como ele hoje se apresenta, ele sempre o foi. Sobretudo, ele sempre foi um cavalheiro", afirma a ex-modelo, acrescendo que a atmosfera de trabalho conjunto sempre foi especial.
As fotografias de moda também documentam como mudou bastante o zeitgeist durante os anos em que ele exerceu a profissão de fotógrafo, como na era socialmente turbulenta de 1963 a 1986, quando Gundlach trabalhou para a revista feminina alemã Brigitte.
Mais de 100 capas da revista estão penduradas por uma parede inteira. Olhando estas capas, fica clara a mudança do papel da mulher: da dama elegante à mulher autoconfiante.
Retratos das estrelas revelam as pessoas
Não somente modelos fotográficos posaram para suas lentes. Também seus retratos de estrelas do cinema podem ser vistos na exposição de Hamburgo. Fotos que tentam descobrir a pessoa por trás da estrela.
Assim, o visitante pode olhar para a "outra" face de Romy Schneider. Um rosto pálido e sem maquiagem, com olhos tristes voltados para o nada. "É necessário tentar ultrapassar o clichê e atingir o cerne", afirma Gundlach. Principalmente no caso de Romy Schneider, Gundlach conseguiu tal façanha.
Ela era alguém que, quando estava sozinha, era completamente insegura. "Ela sempre desempenhou papéis, ela era uma mediadora. Nestas fotos, que fez aos 21 anos, vê-se sua verdadeira face, vê-se sua essência e também o trágico de sua vida."
Sensíveis fotos infantis
No meio das fotos do mundo da moda e do cinema, aparecem imagens de crianças. Por exemplo, a foto de três garotos de calças curtas, com cicatrizes nos joelhos e rostos sujos. Vizinho ao quadro, um pequeno letreiro indica Crianças em St. Pauli, 1970. Tais fotos também pertencem ao seu trabalho. Mesmo que de forma periférica, F.C. Gundlach continua sendo um repórter fotográfico.
Se perguntarmos ao senhor de 81 anos, rodeado de seus trabalhos, sobre o que ele estaria hoje fotografando, recebe-se uma resposta curta: "Absolutamente nada".
A exposição de trabalhos fotográficos de F.C. Gundlach poderá ser visitada até 7 de setembro próximo nos pavilhões Deichtorhallen de Hamburgo.