Extremismo de direita mina imagem de tropa da Bundeswehr
13 de junho de 2020Elogio e reconhecimento para o Comando de Forças Especiais (KSK)? Pouco provável. No entanto, isso não precisa ser um sinal ruim. Pelo contrário, a unidade de elite das Forças Armadas alemãs deve realizar seu trabalho perigoso de maneira eficaz e silenciosa, em segredo. Às vezes, no entanto, uma pequena notícia de sucesso vaza ao exterior.
Em 2012, por exemplo, quando o KSK no prendeu um alto líder talibã no Afeganistão. Na época, houve até algumas palavras amigáveis do especialista militar do Partido Verde, Omid Nouripour, em entrevista à DW. No entanto, ele também criticava a falta de transparência sobre a tropa frente ao Parlamento alemão. Afinal, a Bundeswehr só entra em ação com aval do Bundestag. Portanto, os deputados alemães têm a última palavra na aprovação de missões militares no exterior.
Especialmente os especialistas militares podem estar se perguntando novamente o que estaria ocorrendo dentro do KSK. Um caso mais recente é o de um sargento que teria sido afastado, segundo uma reportagem da mídia, devido à sua proximidade com o Movimento Identitário.
A organização internacional foi classificada como "extremista de direita" pelo Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV, o serviço secreto interno alemão). Além disso, o soldado afastado não era desconhecido das autoridades. Já em 2007, ele chamou a atenção num contexto completamente diferente: o ex-prisioneiro de Guantánamo Murat Kurnaz alegou ter sido maltratado por ele. Naquela época, uma comissão parlamentar de inquérito tratou do caso de Kurnaz, que foi inocentemente detido no campo americano.
A promotoria pública investigou o militar do KSK na época, mas o processo foi arquivado. Mas agora sua carreira pode chegar a um fim inglório, se as últimas acusações forem confirmadas. Porque quando se trata de extremismo de direita, a Bundeswehr aparentemente não conhece mais perdão. Cada vez mais frequentemente os militares têm caído em descrédito, especialmente o Comando das Forças Especiais.
Em janeiro de 2020, o presidente do Serviço de Contrainteligência Militar (MAD), Christof Gramm, afirmou haver cerca de 20 casos suspeitos de extremismo de direita sob investigação. Em relação ao número de integrantes do KSK, o número é cinco vezes maior que o do restante da tropa.
As últimas dúvidas sobre a extensão do problema foram sanadas por ninguém menos que o próprio comandante do KSK. Em uma carta publicada no final de maio, o general de brigada Markus Kreitmayr exortou os extremistas de direita em suas próprias fileiras a deixar a corporação "por iniciativa própria". Seu apelo foi desencadeado pela prisão de um soldado da tropa que teria armazenado espingardas de assalto, munição e explosivos em sua propriedade privada.
Kreitmayr vê a descoberta como um outro patamar "alarmante". Segundo relatos da mídia, algumas das armas são propriedade do Exército alemão. Agora está sendo investigado como o suposto roubo foi possível e permaneceu sem ser detectado por tanto tempo. "Será investigado minuciosamente quem esteve em contato com quem", relatou um porta-voz da ministra alemã da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, logo após o caso se tornar conhecido.
A tropa de elite da Bundeswehr deve agora ser alvo de uma investigação aprofundada sobre possíveis atividades extremistas de direita. Um grupo de trabalho chefiado por um secretário de Estado e integrado pelo próprio comandante do KSK, Kreitmayr, será responsável por essa análise.
A ministra alemã da Defesa também quer que a lei sobre militares seja reformada com o objetivo de possibilitar uma demissão mais rápida de extremistas. "Quem põe em perigo a reputação da Bundeswehr dessa maneira não pode permanecer na Bundeswehr", disse. Em outubro de 2019, ela já havia criado em seu ministério um escritório de coordenação para suspeitas de extremismo, e o KSK está particularmente no foco dessa equipe.
O governo alemão também já admitiu abertamente em março que a unidade de elite é particularmente sujeita ao abrigo de atividades extremistas de direita. Em resposta a um questionamento parlamentar do Partido Liberal (FDP), o KSK é inicialmente chamado de "carro-chefe" da Bundeswehr, para em seguida se admitir que "acontecimentos internos indesejáveis" não são necessariamente reconhecidos imediatamente, como é o caso "em áreas menos sensíveis e menos isoladas da Bundeswehr".
Em outras palavras, até agora extremistas de direita eram mais difíceis de ser detectados no KSK do que em outras partes da tropa, porque é um tipo de exército secreto. Agora deve estar claro para todos o quão perigosa essa unidade pode ser não apenas para o inimigo militar, mas também para o seu próprio país.
No entanto, o tempo para se ignorar isso parece ter terminado. Um porta-voz do Ministério alemão da Defesa anunciou que o novo grupo de trabalho desenvolverá medidas até julho para responder "de forma mais rápida, mais forte e, acima de tudo, de maneira mais sustentável" no futuro, em casos de suspeita de extremismo no KSK.
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