Extrema direita
15 de fevereiro de 2009Um confronto entre membros da central sindical DGB e neonazistas causou transtornos num posto de gasolina situado à beira de uma rodovia no leste da Alemanha na noite deste sábado (14/02). Os dois grupos voltavam de Dresden e se encontraram no posto à beira da rodovia A4: enquanto os skinheads haviam ido à cidade para participar de uma marcha extremista, os sindicalistas haviam se locomovido até lá exatamente para protestar contra a passeata.
O conflito deixou um saldo de cinco feridos, que foram levados para o hospital universitário de Jena, a cidade mais próxima do posto. "Os extremistas de direita xingaram primeiro os membros do grupo da DGB, para depois agredi-los fisicamente com violência", afirmou um porta-voz da polícia local.
Atos frequentes e brutais
Os skinheads conseguiram fugir no ônibus fretado em que viajavam, mas foram interpelados por policiais pouco depois. As autoridades registraram os documentos dos 40 envolvidos que lotavam o ônibus, a fim de encaminhar os dados para a promotoria responsável pela investigação.
Também membros do partido A Esquerda, do estado de Hessen, encontravam-se entre os sindicalistas atacados. "Os atos de violência dos neonazistas, cada vez mais frequentes e brutais, me assustam. Conclamo todos os responsáveis a, enfim, tomarem providências contra a cena neonazista", afirmou Ulrich Wilken, presidente do partido em Hessen.
Manifestações contra neonazistas
Em Dresden, mais de 12 mil pessoas foram às ruas no último sábado protestar contra a passeata neonazista, que reuniu na cidade seis mil extremistas. Houve 19 protestos diferentes, dos quais participaram representantes de diversos partidos políticos, do Conselho Central dos Judeus no país e de centrais sindicais.
A marcha dos skinheads reuniu militantes de toda a Alemanha e de outros países. Da Eslováquia e da República Tcheca participaram grupos envolvidos em ataques recentes a membros das etnias sinto e rom. Os neonazistas marcharam pelo centro de Dresden em sinal "de luto" pelas bombas dos aliados que caíram na cidade nos dias 13 e 14 de fevereiro de 1945.
Papel de Dresden
Desde 1999, os extremistas de direita aproveitam a data para organizar, todos os anos, manifestações de teor extremista em Dresden. "A memória aos bombardeios na cidade se transformou num highlight dos radicais de direita", comenta o semanário alemão Der Spiegel. Os extremistas insistem que a cidade tenha sido bombardeada "injustamente", o que teria custado a vida de "centenas de milhares de civis inocentes".
Uma comissão de historiadores contratada pela administração da cidade em 2004 publicou um estudo apontando o papel desempenhado por Dresden durante o período nazista e registrando a deportação de muitos judeus para campos de concentração. "Dali também foram arquitetados os planos de Hitler para atacar o Leste Europeu", assinala o Der Spiegel.
Participação do NPD
Os neonazistas que marcharam – com permissão da prefeitura – pelo centro histórico da cidade ignoram, no entanto, tudo isso. Da passeata participaram membros do partido de extrema direita NPD e de diversas organizações extremistas, que levavam cartazes com dizeres do tipo "holocausto das bombas dos aliados", usavam roupas de bandas de rock ligadas à cena neonazista ou com referências ao NPD e carregavam bandeiras alemãs com a marcação de fronteiras do país do ano de 1937.
Para o NPD, a seis meses das próximas eleições parlamentares, a marcha foi usada como tentativa de provar que a cena de extrema direita no país não é tão desorganizada como parece. "O partido usa essa marcha para demonstrar forçosamente uma certa unidade da cena de direita, que na verdade não existe. É o início de sua campanha eleitoral", comentou o semanário Die Zeit.
O partido, segundo o Der Spiegel, caiu na malha do fisco. Devido a irregularidades detectadas em seus caixas, o partido poderá ser forçado a ressarcir o Estado em nada menos que 900 mil euros. Não é a primeira vez que o NPD tem problemas fiscais. Em 2008, a Justiça condenou o partido a devolver uma soma semelhante aos cofres públicos.