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Exposição tematiza o antissemitismo na Alemanha Oriental

25 de outubro de 2010

Exposição itinerante enfoca tema que foi durante muito tempo tabu: os maus tratos aos judeus na Alemanha Oriental após o fim da Segunda Guerra Mundial.

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A exposição em ProraFoto: DW

Quando a República Democrática Alemã (RDA) foi fundada, após a Segunda Guerra Mundial, o sistema comunista implantado pretendia ser um recomeço. A proposta era a da igualdade entre todos os cidadãos, deixando de lado o passado, fosse ele nobre ou vergonhoso.

Não houve debate sobre o Holocausto ou sobre o que determinadas pessoas fizeram e por que o fizeram. Isso fez com que o antissemitismo persistisse no país, de acordo com os organizadores de uma exposição que trata da discriminação sofrida pelos judeus na RDA, a Alemanha Oriental.

Muitos alemães orientais, contudo, ainda têm dificuldades de acreditar que havia espaço para o antissemitismo num Estado que se autointitulava antifascista.

Uma exposição itinerante, organizada pela Fundação Amadeu Antonio, tenta explicar aos visitantes como a perseguição, em parte sob os auspícios do Estado, permaneceu sendo parte integrante da vida dos judeus na RDA. Exibida no momento no balneário de Prora, localizado na Ilha de Rügen, no Mar Báltico, a exposição "Nós não tínhamos nada disso!" remete ao tabu em torno do assunto.

"A ideia de que uma ideologia de Estado possa automaticamente impedir pessoas de odiar outras é ridícula", diz Annette Kahane, diretora da fundação que organiza a exposição.

"Os legisladores no Leste disseram 'de agora em diante todos estão desculpados pelo que aconteceu, ninguém fará nada de errado outra vez e podemos começar a construir nosso Estado comunista' – isso também é ridículo", diz Kahane.

A exposição mostra uma evidência atrás da outra de quão antissemita a RDA de fato era. Houve os julgamentos antijudeus e a expurgação de judeus do Partido Comunista nos anos 1950 e a profanação do que havia restado dos cemitérios judaicos. O governo da Alemanha Oriental opunha-se abertamente a Israel, permitindo até mesmo que grupos terroristas palestinos treinassem em território nacional.

As crianças encontram a verdade

As informações apresentadas na mostra foram coletadas por escolares, aos quais pediu-se que entrevistassem residentes locais. A ideia era que isso teria um tom menos acusatório e possibilitaria aos jovens uma lição única de história.

"Imagine se eu tivesse ido até lá. Mesmo que eu venha do Leste, não teria funcionado. As pessoas não teriam falado comigo", diz Heike Radvan, da fundação mentora da exposição.

Na cidade de Hagenow, as crianças tiveram problemas em descobrir o que aconteceu com o antigo cemitério judaico. Demorou quatro meses, conta Radvan, para elas encontrarem um habitante da cidade que sabia dizer o que acontecera.

"As pedras tumulares eram muito pesadas. Elas nos pareceram adequadas quando estávamos fincando os fundamentos de uma garagem", relatou o homem às crianças.

Estereótipos perigosos

Segundo Kahane, alguns típicos estereótipos sobre judeus também podem ter causado o antissemitismo das lideranças comunistas. "Havia algumas características projetadas nos judeus que não combinavam muito bem com as ideias do regime comunista. Os judeus eram acusados de serem capitalistas demais, executivos de bancos, os caras do dinheiro", diz.

Eles eram também considerados desonestos, traidores ou arrogantes, acrescenta Kahane. "Os judeus eram vistos como figuras cosmopolitas. E cosmopolitismo era o oposto do que os legisladores queriam", finaliza a diretora da Fundação Amadeu Antonio.

História difícil de aceitar

"Nós não tínhamos nada disso!" incomoda alguns dos visitantes. "Aqui está outro exemplo de difamação pública da RDA", escreveu um deles no livro de visitantes da mostra. "Como ex-cidadão da RDA, considero essas acusações inaceitáveis", escreveu outro.

"A exposição não acrescenta nada de valor ao conhecimento das pessoas", afirmou um terceiro. Há, contudo, aqueles que veem o caráter informativo da mostra. "Acho ótimo ver esse assunto tratado numa exposição. Nunca vi nada que abordasse o tema assim antes", registrou uma visitante.

Susanna Misgajski, historiadora local de Prora, afirma que valeu a pena ver o projeto apresentado em sua região e que a população local pareceu se interessar pelo assunto. Mas não porque a região desconheça o antissemitismo durante os anos de RDA, analisa Misgajski.

Muitos proprietários de hotéis ao longo da costa do Báltico perderam suas propriedades durante uma campanha do governo comunista chamada Ação Rosa (Aktion Rose), e muitos deles acabaram presos, explica a historiadora.

A um desses proprietários, que era judeu, foram repetidos chavões da propaganda antissemita em pleno julgamento, no tribunal. Ele foi obrigado a cumprir uma pena muito maior na prisão do que as vítimas não judias da campanha de expropriação, completa Misgajski.

A exposição itinerante, que começou em 2007, segue agora para sua próxima estação dentro da Alemanha. Há planos de levá-la para o exterior em 2012.

Autor: Hardy Graupner (sv)
Revisão: Alexandre Schossler