Exposição relembra "empacotamento" do Reichstag
27 de novembro de 2015Ao ar livre e de graça: durante duas semanas, os berlinenses testemunharam, em meados de 1995, o famoso empacotamento do Reichstag – prédio histórico, que é a atual sede do Parlamento alemão. Os organizadores previram na época um total de 500 mil visitantes, mas na realidade foram cinco milhões.
Entre os futuros anfitriões – os parlamentares, que ainda não tinham se transferido naquele momento de Bonn para a nova capital –, o projeto era altamente controverso. Defensores e adversários da ideia, entre estes últimos o ex-chanceler federal Helmut Kohl, não trocavam amenidades. O debate decisivo da câmara alta do Parlamento terminou em atmosfera de batalha, com uma estreita maioria de parlamentares vencendo em prol do projeto de Christo.
O artista e sua mulher, a hoje já falecida Jeanne-Claude, haviam se preparado durante mais de 20 anos para aquele momento. E enfrentaram um osso duro de roer: deputados tinham que ser convencidos, departamentos públicos precisavam ser informados e lobistas inseridos na questão.
Na noite desta quarta-feira (25/11), foi aberta uma exposição permanente sobre o empacotamento no prédio do Reichstag. O orgulho pelo sucesso do projeto ainda estava estampado no rosto do artista, hoje com 80 anos de idade, quando o presidente do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), Norbert Lammert, relembrou os acontecimentos de 20 anos atrás.
Brilho estético
A obra do casal Christo e Jeanne-Claude tinha na simplicidade sua magia Mostra permanente em Berlim. O prédio, que naquele momento passava por uma reforma, foi coberto pelos artistas com um tecido de prolipropileno, que continha uma camada de alumínio, e fixado com cordas azuis sintéticas. Durante 14 dias, o tecido drapeado reluziu sob o céu de Berlim. Um brilho estético que, naquele momento, transformou o olhar que os berlinenses tinham sobre a própria cidade, tendo aquele tecido com suas pregas servido de impulso inicial para uma reinvenção da capital.
"As partes leste e oeste da cidade não demonstravam muita vontade de mais unificação", escreveu um jornal em retrospectiva, já que um lado "sofria com o processo de desindustrialização, e o outro, com a ausência de subsídios".
Em meio a toda aquela "dinâmica de desalento", surgia ali, de repente, "atraente e efêmero como uma Fata Morgana, o Reichstag empacotado de Christo", afirma a escritora Monika Maron. "E os berlinenses conseguiam fazer aquilo que as autoridades tentavam ensinar a seus funcionários em treinamentos de especialização: eles sorriam."
A arte temporária de Christo, interpretada até hoje das mais diversas maneiras, pode ter desaparecido da paisagem urbana da capital alemã, mas acabou deixando rastros. Para muitos berlinenses atraídos por aquela obra de arte na época, bem como para aqueles que visitaram a cidade, para os artistas de rua, músicos europeus e curiosos de todo o mundo, o acontecimento foi um marco na história de Berlim e também na imagem do país.
"O gramado em frente ao Reichstag era cenário de um sossego ameno e pacífico", comentava na época um jornal local. Quem quiser, hoje, recordar aquele momento, precisa voltar a Berlim: a documentação da mostra com esboços, maquetes e fotografias, fica agora exposta em mostra regular nos corredores do Reichstag.