'Animês' em alta
8 de agosto de 2011Da mostra faz parte tudo o que pertence ao universo dos animês japoneses: figuras coloridas gritando, paisagens fantásticas, story boards plásticas, cenários urbanos futuristas. Nos lugares onde o visitante do museu tradicionalmente encontraria pinturas clássicas ou preciosidades arqueológicas estão instaladas figuras do universo pop e trechos de animações de montagem alucinante.
Mais que mera trivialidade
Os mangás e as animações (animês) japoneses são um sucesso internacional há anos, tanto entre crianças e jovens como – e sobretudo cada vez mais – entre pessoas mais velhas. E depois de esse fenômeno da arte japonesa ter chegado a museus especializados, a festivais de cinema e a feiras, também uma reconhecida instituição alemã, a Bundeskunsthalle, resolveu abrir as portas para essa forma muito peculiar de arte.
O papel exercido pelos mangás e animês hoje em dia lembra de certa forma aquele desempenhado nos anos 1960 pela pop art, afirma o diretor do museu, Robert Fleck. "É nossa tarefa expor fenômenos culturais de importância nacional e internacional. Além disso devemos estar atentos ao presente", diz ele.
Universos fantásticos
Quem algum dia já se deparou com o universo fantástico do grande diretor japonês Hayao Miyazaki, um dos mais inovadores e importantes representantes dos animês, entende que não se trata aqui "apenas" de entretenimento para um público jovem.
Essa constatação já foi reconhecida pelos grandes festivais de cinema do mundo. Um Urso de Ouro em Berlim, um Oscar em Hollywood e a inclusão de Miyazaki na lista das cem pessoas mais influentes da revista Time são testemunhos disso.
Para os espectadores alemães há um elemento especialmente surpreendente: grandes sucessos da televisão alemã nos anos 1970, hoje clássicos da programação infantil nos países de língua alemã, surgiram nas pranchetas japonesas.
Séries como Biene Maja, Heidi ou Wickie foram todas desenhadas no Japão. A emissora de televisão ZDF foi em busca do know-how da indústria japonesa dos animês, que também produzia para espectadores ocidentais. O fato de que, no Japão, trabalhava-se, em parte, com uma dramaturgia norte-americana mostra a dimensão global da cultura da animação.
Profecias no cinema
Entretanto, há nos animês algumas características específicas que só poderiam ter surgido no Japão, como comprovam os acontecimentos em Fukushima. Para Fleck, a tragédia em março deste ano mostra que o filme japonês de animação antecipou muitos temores de catástrofes de maneira quase profética.
Desenhistas e diretores japoneses tematizaram em suas obras, diversas vezes, o trauma das duas bombas nucleares no fim da Segunda Guerra Mundial, combinado com o tema da destruição do meio ambiente. Filmes como Nausicaä e Ponyo, de Hayao Miyazaki, anteciparam em suas imagens a catástrofe provocada pelo tsunami e pela destruição da usina de energia nuclear de Fukushima.
A abertura de um museu do porte da Bundeskunsthalle a um fenômeno como o animê, com uma exposição tão grande e complexa, tem a ver com determinadas necessidades específicas da própria casa. "Temos, como outros museus, uma certa deficiência de público em idade ativa. Anime é uma exposição voltada para toda a família, não somente para as crianças, mas também para adultos que trabalham", diz Fleck.
Ao mesmo tempo, voltar o olhar para a arte japonesa dos mangás e dos animês é também chamar a atenção para a existência de um fenômeno cultural que ocupa seu lugar na história da arte e tem um alto grau de popularidade entre o público.
Autor: Jochen Kürten (sv)
Revisão: Alexandre Schossler