Banksy "perdido"
20 de setembro de 2011Banksy é um artista bem-sucedido. Sua arte consegue ser política e comercial. Ela é acessível a qualquer pessoa nas ruas das grandes cidades do mundo e ao mesmo tempo leva multidões a museus e galerias. Uma superestrela sem rosto, livre no seu anonimato. Se Banksy é esperto ou talentoso, já não importa. Seu nome e sua marca atraem a atenção e geram retorno. No mundo da internet e do DIY (do it yourself, faça você mesmo, em inglês), Banksy é o rei.
Isso explica a histeria despertada na mídia alemã pelo seu mural "perdido", conhecido como Every picture tells a lie!. Uma histeria que não explica nem contextualiza por que o mural está exposto na cidade: ele foi recuperado e restaurado pelo artista Brad Downey e faz parte da instalação What lies beneath (o que se encontra por baixo, na tradução livre do inglês), uma crítica ao mercado da arte.
Radicado em Berlim, Downey chamou a atenção da mídia local em 2008, quando pichou toda a fachada da maior loja de departamentos da capital alemã, a Kadewe. O que a loja chamou de vandalismo acabou virando um vídeo, que depois fez parte da vitrine que o artista criou para a marca de roupa Lacoste na própria KaDeWe.
Pense, não pense
What lies beneath faz parte da exposição Do not think, resultado de uma residência de três meses que artistas do mundo todo fizeram em Berlim, relacionando arte contemporânea com o universo do skate. Segundo a curadora Chiara Parducci, alguns dos artistas vieram do mundo dos esportes e outros não. "Queríamos diferentes pontos de vistas para fugirmos do óbvio", diz.
O resultado desses três meses de residência foram diversas obras que transitam entre o desenho, a pintura, a escultura, o design, a música e a street art. Para Downey, esse foi o período para restaurar o mural que Banksy criara em 2003, para uma exposição coletiva da qual Downey também fizera parte. Restaurar uma obra relativamente nova de um artista vivo e colocá-la num outro contexto foi o desafio do americano.
"Não há nenhum Banksy na exposição: o que vemos é o trabalho de Downey", afirma Parducci. "A restauração foi uma maneira de mostrar como a cena atual de street art é muito mais comercial." Para a curadora, isso também ocorreu com o skate, já que o esporte está diretamente relacionado com esse universo. "A obra não é uma crítica ao Banksy, mas ao mercado. O artista se tornou o logotipo que há oito anos ele utilizava para expressar seu ponto de vista", conclui.
Famoso e anônimo
Hoje a pergunta "Quem é pessoa por trás do pseudônimo?" é irrelevante. Banksy é o pseudônimo de um desconhecido artista, ativista político e diretor de cinema inglês. Nascido em Bristol em 1974, ele entrou em contato com o grafite nos anos 80. Misturando sátira e subversão, sua arte começou a tomar conta de muros, ruas e monumentos em diversas cidades no mundo.
Com a popularização da street art na década passada, a arte de guerrilha de Banksy se tornou cada vez mais ousada e popular. Atos como invadir o zoológico de Londres e escrever "Estamos cansados de peixe" na jaula dos pinguins, inserir obras suas nos museus MoMA e Metropolitan em Nova York ou substituir 500 cópias do CD de Paris Hilton por sua própria versão em lojas inglesas fizeram suas obras sairem das ruas para museus, galerias e casas de leilão.
Banksy também dirigiu o documentário Exit through the gift shop. O filme mostra a popularização da street art e brinca com a própria fama e sucesso do artista através da história de Thierry Guetta, um francês radicado em Los Angeles que passou anos filmando street artists em ação e, mesmo quase sem nenhum talento, acabou se tornando um artista popular. Indicado ao Oscar, o filme é um olhar interessante sobre o universo próprio e anônimo de Banksy.
A exposição Do not think fica em cartaz na Künstlerhaus Bethanien, em Berlim, até 23 de outubro. Depois, segue para outras cidades europeias, deixando sua mais comentada obra para trás. "Banksy fez esse mural oito anos atrás, era para durar uma exposição e desaparecer. Usamos a obra novamente para dizer algo sobre arte e o mundo que vivemos hoje. Quando sairmos de Berlim, vamos deixá-la onde a encontramos", conclui a curadora.
Texto: Marco Sanchez
Revisão: Alexandre Schossler