Exposição conta histórias dos "trabalhadores convidados"
1 de julho de 2021"Como assim, você vai para a Alemanha? Uma mulher sozinha?" Foi isso o que Asimina Paradissa ouviu dos jovens do lugarejo grego onde vivia em meados dos anos 60, quando lhes contou que iria trabalhar na Alemanha. Eles ficaram incrédulos. Mulheres que iam embora sozinhas tinham uma reputação duvidosa. Será que ela ganharia seu dinheiro na rua?
Paradissa nunca deu bola para tais preconceitos. "O rapaz que me disse isso acabou vindo para a Alemanha alguns anos mais tarde", conta a grega, sorrindo orgulhosa, ao visitar a mostra Histórias fotográficas da migração, no Museu Ludwig de Colônia.
Uma parede inteira na exposição é dedicada a Paradissa e sua história. Ela sempre gostou muito de fazer fotos. Quando jovem, ela ajudava o fotógrafo do seu vilarejo a revelar filmes. E ela também gostava de ser fotografada, mas sempre dava instruções precisas de como queria ser apresentada na foto aos amigos e colegas atrás da câmera.
Uma das fotos na exposição a mostra no dia em que ela aprendeu a andar de bicicleta na Alemanha: "Andei cinco quilômetros, até a vila vizinha e de volta", lembra. "Mas eu tinha um problema: não conseguia descer, sempre caía."
Andar de bicicleta não chegou a ser sua ocupação preferida. Em vez disso, depois de fazer a carteira de habilitação, ela comprou um Opel Kadett azul-celeste. Mas, afinal, ela tinha atingido seu objetivo: aprender a andar de bicicleta na Alemanha, porque na Grécia conservadora do pós-Guerra isso era proibido para meninas e mulheres.
Poesia na linha de montagem
Paradissa não queria se mudar para a Alemanha, em 1966, só para trabalhar. A jovem também estava procurando liberdade e encontrou um novo lar em Wilhelmshaven, no norte da Alemanha, a milhares de quilômetros de sua vila natal, Vrasta, na península de Chalkidiki.
Uma das fotos a mostra em frente ao dormitório da Olympia, para onde ela se mudou quando tinha apenas 20 anos de idade. Olympia era então um grande fabricante de máquinas de escrever. "Meu pai teve que dar seu consentimento, porque naquela época a maioridade era aos 21."
Durante o dia, ela montava máquinas de escrever. Ela já estava acostumada ao trabalho duro. Aos 19 anos, ela havia trabalhado em uma pedreira na Grécia, içando cestas de borracha cheias de pedras nas montanhas, no calor sufocante. Em comparação, o trabalho na Alemanha era fácil.
Com suas primeiras economias, ela comprou uma câmera e uma máquina de escrever com um teclado grego. À noite, ela escrevia poemas, que criava durante o dia, enquanto trabalhava na linha de montagem. Mesmo hoje ela ainda escreve e tira fotos de forma apaixonada.
Nunca teve a intenção de ficar para sempre
Paradissa nunca se casou. "Eu não tive tempo para isso. Estava sempre trabalhando e economizando para as próximas férias." E, assim, os anos voaram, e 55 anos se passaram.
Entre outras coisas, ela passou 32 anos montando fechaduras para as montadoras Volkswagen, Ford e Mercedes e trabalhando como faxineira em um fabricante de parafusos. Ela nunca teve a intenção de ficar na Alemanha de forma permanente: "Você nem percebe! Os anos se passam tão rapidamente".
A história de Paradissa é semelhante à de milhares de pessoas que se mudaram para a Alemanha para trabalhar após a Segunda Guerra Mundial, principalmente entre 1955 e 1973. Muitas delas ficaram. Na verdade, basta olhar para os muitos restaurantes nas cidades alemãs para saber de onde veio a maioria dos chamados Gastarbeiter (trabalhadores convidados): Itália, Grécia, Turquia.
A ainda jovem República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental) dependia deles para manter o "milagre econômico" alemão. Isso porque boa parte da população, principalmente a masculina em idade de trabalha, havia sido perdida durante a Guerra. Além disso, a taxa de natalidade estava em queda.
Assim, o governo da então Alemanha Ocidental assinou acordos de recrutamento com vários países para garantir o fluxo de mão de obra masculina, mais tarde também feminina.
O ano de 2021 marca os 60 anos do acordo de recrutamento com a Turquia, mas também milhares de italianos, espanhóis, gregos, portugueses e trabalhadores de outros países se mudaram para a Alemanha, um país que lhes era completamente estranho. Foram sem conhecimento do idioma, sem muita bagagem, mas sempre com fotos de seus entes queridos nas malas.
Dando voz e visibilidade aos trabalhadores imigrados
"As fotografias privadas e as histórias de nossos protagonistas são centrais para a exposição", explica a curadora Ela Kaçel. "Elas expressam a chegada a um novo lugar, a ambientação, a percepção e a moldagem de um novo ambiente para viver."
A historiadora incentivou a exposição, que pode ser visitada no Museu Ludwig de Colônia até 3 de outubro de 2021. Kaçel também entrevistou os 16 protagonistas que contribuíram com fotografias dos anos de 1955 a 1989.
Foi importante para ela deixar essas pessoas falarem por si mesmas, porque até agora "as imagens que determinavam a percepção pública dos trabalhadores convidados não vinham deles próprios, mas da mídia, de empregadores, fotógrafos comissionados ou editores de publicações das empresas e, mais tarde, também de fotógrafos de arte", diz.
Esta é, portanto, a primeira vez que fotografias privadas são foco de uma exposição no museu de Colônia, graças também, em parte, ao acervo do Domid, o centro de documentação e museu sobre migração na Alemanha.
Complementam a exposição fotos de fotógrafos conhecidos, como Chargesheimer, Candida Höfer e Heinz Held, que dão uma "visão de Colônia que as pessoas da cidade conhecem", diz o diretor do museu, Yilmaz Dziewior.
"Ao mesmo tempo, mostramos outras fotografias públicas, como da GAG, a empresa de moradias públicas dos anos 60." Dziewior disse ter se interessado especialmente pelos trabalhadores que moraram em prédios construídos no estilo Bauhaus: "Qual a perspectiva dos que lá moravam"?, pergunta.
Vida cheia de amigos e atividades
Esta lacuna na memória coletiva pode agora ser preenchida com as fotos do passado de Asimina Paradissa e dos demais protagonistas da mostra. Muitas delas estão amareladas e manchadas, já que eram manuseadas com frequência. Naturalmente, Paradissa, hoje com 76 anos, também enviou fotos para sua família na Grécia, para mostrar à mãe que estava tudo bem na Alemanha.
E isso não era mentira. Paradissa rapidamente fez amigos no seu novo país. Em seu dormitório em Wilhelmshaven, moravam mais de 70 mulheres. Todas eram colegas, muitas delas, amigas. Só raramente ela se sentia realmente solitária.
Para Paradissa, que mora em Wuppertal há mais de 30 anos, a solidão não é um problema. "Estou em três grupos de dança e vários clubes, e essa é a minha vida agora." A aposentada ainda viaja regularmente para a Grécia, mas, já depois de algumas semanas ela sente falta da Alemanha. "Sinto-me em casa na Alemanha", diz ela, "mas, quando morrer, vou ser enterrada na Grécia."