Explosão do Columbia abala programa espacial europeu
3 de fevereiro de 2003O programa aeroespacial europeu também sofreu um duro golpe com a catástrofe do Columbia. Nem bem recuperada da explosão do foguete Ariane-5, em seu vôo inaugural, no dia 11 de dezembro de 2002, a Agência Espacial Européia (ESA), que trabalha em conjunto com a agência espacial americana Nasa, é novamente confrontada com um novo e grave acidente.
A destruição do Columbia resultou de imediato na paralisação do programa de vôos dos ônibus espaciais, que pode atrasar significativamente projetos ligados às missões tripuladas, como a montagem da Estação Espacial Internacional (ISS), que conta com participação européia.
A ESA está concluindo o Columbus, um módulo laboratorial de sete metros de comprimento, previsto para ser transportado para a ISS por um ônibus espacial americano no próximo ano. Se isto realmente vai acontecer conforme o planejado é agora tão incerto quanto a missão espacial de quatro astronautas alemães, que estão sendo treinados no Centro Aeroespacial Alemão (DLR), nas proximidades de Colônia.
De acordo com Uwe Thomas, secretário de Estado do Ministério da Pesquisa e Tecnologia, responsável por assuntos aeroespaciais, "não resta dúvida de que o cronograma será adiado". O Columbia transportava uma série de experimentos científicos a bordo, inclusive alemães.
Preocupação imediata
A catástrofe com o Columbia desencadeou um dilema para o programa da ISS. Na estação estão atualmente dois americanos e um russo, que deveriam retornar à Terra no ônibus espacial Atlantis, em março, quando haveria troca de tripulação. Como todos as viagens espaciais americanas foram suspensas, o mais provável é que eles sejam recolhidos pela sonda russa Soyuz e a ISS fique sem ninguém.
Este é um grave problema pois a ISS não pode ficar sem tripulação. Mas sem o ônibus espacial americano, a montagem da estação não tem como prosseguir. A Rússia sozinha não apresenta as condições necessárias para manter o fluxo de suprimentos e a troca de tripulações com suas naves, tanto por motivos técnicos como pelos altos custos financeiros.
Apoio irrestrito x escassez de lobby
Os americanos prezam e apóiam a Nasa, cujas pesquisas aeroespaciais extrapolam o campo científico. Na época da Guerra Fria, a corrida espacial assumiu um caráter eminentemente político. Ainda hoje a Nasa é um símbolo internacional de poder. Isto explica porque é pouco provável que os Estados Unidos cogitem a possibilidade de redução de verba para o setor.
O mesmo não ocorre na Europa. A explosão do foguete Ariane-5, que colocaria dois satélites em órbita em dezembro de 2002, causou um prejuízo de 600 milhões de dólares e resultou ainda na suspensão de todos os vôos do mesmo tipo de foguete. Tal quadro é agravado também pelo fato de a ESA ter cancelado a produção do bem sucedido foguete Ariane-4 para se concentrar no modelo sucessor, Ariane-5, agora completamente estagnado.
Perdas e concorrência
As perdas econômicas não se restringem ao fracasso do Ariane-5. A expectativa européia de bons negócios com o transporte de satélites para a órbita terrestre foi praticamente reduzida pela metade com a falência e a crise de diversas empresas de telecomunicações.
Além de contar com um orçamento bem inferior ao americano, a pesquisa aeroespacial européia esbarra em problemas bem peculiares, como os interesses individuais de cada um dos países-membros e a falta de uma estrutura mais produtiva economicamente, sem contar com a concorrência internacional. As duas maiores indústrias americanas do setor, a Boeing e a Lockheed, desenvolveram respectivamente os foguetes Delta e Atlas, concorrentes diretos do foguete Ariane-5.
A dimensão exata da tragédia só será definida nos próximos dias. A direção do Centro Aeroespacial Alemão declarou que irá estudar e avaliar as conseqüências do acidente com o Columbia e seu impacto no setor aeroespacial europeu.