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Expectativa positiva não salva a Bolsa

Assis Mendonça26 de fevereiro de 2003

O Índice Alemão de Ações (DAX – Deutsche Aktienindex), principal termômetro do mercado de capitais na Alemanha, atingiu o nível mais baixo desde meados da década de 90 e continua caindo.

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As previsões mais pessimistas vêem o DAX com 1500 pontos, no fundo do poçoFoto: AP

Os investidores alemães mostram-se desconfiados. A euforia dos anos passados cedeu lugar a uma enorme decepção, devidamente acompanhada de prejuízos elevados. A bolha especulativa da chamada new economy (Mercado Novo) desfez-se praticamente da noite para o dia, antes mesmo que uma segunda crise – ainda mais grave – atingisse o mercado de capitais em todo o mundo, como conseqüência econômica dos atentados de 11 de setembro, em Nova York e Washington.

Antes que fosse possível uma recuperação das bolsas de valores, começaram a estourar novos escândalos, envolvendo empresas de renome internacional como a Enron, a WorldCom e, mais recentemente, a Ahold. Também na Alemanha, a situação não foi distinta. Uma série de falências, fraudes e escândalos entre as empresas do Mercado Novo – como a ComRoad ou a EM.TV, por exemplo – levaram o índice das ações do setor a níveis insustentáveis.

Reforma da Bolsa

A Deutsche Börse AG viu-se obrigada a reestruturar seu sistema: o NEMAX-50 deixará de existir dentro em breve, cedendo lugar ao novo TecDAX. O prejuízo milionário que os investidores tiveram com o Mercado Novo abalou inteiramente a confiança não apenas na new economy, mas também no mercado de capitais em seu todo.

Ao que tudo indica, a reforma introduzida pela Deutsche Börse AG não será suficiente para reconquistar de imediato a confiança dos investidores. Pelo menos enquanto prevalecerem outros fatores de grande insegurança, será pequena a disposição dos alemães em aplicar o capital disponível em ações. E existem motivos de sobra para o receio de novos prejuízos.

Instabilidade política

A maior insegurança do momento é, sem dúvida, a crise do Iraque. Uma guerra no Golfo Pérsico poderá ter conseqüências imprevisíveis para a economia mundial. Um mau momento para fazer aplicações de risco, por maior que sejam as promessas de lucro.

Uma eventual guerra no Iraque trará consigo uma reestruturação geopolítica do mundo. E qual será a próxima crise? Talvez a da Coréia do Norte? Que empresas sairão lucrando, quais serão as perdedoras? Os investidores necessitam de estabilidade política para que possam retomar a sua confiança no mercado de capitais.

Instabilidade econômica

Além das crises políticas, existem também fatores econômicos que impedem a recuperação do mercado de ações. Em primeiro lugar está, sem dúvida, a crise conjuntural: desemprego elevado, baixo consumo, taxa de crescimento econômico em queda livre. Tudo isto, acompanhado da evidente incapacidade do setor político em implantar as reformas necessárias.

Outro fator que pressiona a bolsa é a situação de algumas das grandes empresas que fazem parte do DAX. É o caso, por exemplo, da Deutsche Telekom. Altamente endividada em decorrência das aquisições de empresas e do alto preço pago pela concessão de licença do sistema UMTS de telefonia celular, a empresa enfrenta ainda a ameaça de um processo judicial de alta monta, sob a acusação de ter enganado os pequenos acionistas sobre a sua situação real.

Também a indústria química Bayer está ameaçada de enormes prejuízos, com indenizações milionárias aos familiares das vítimas do medicamento Lipobay. A questão tornou-se ainda mais grave nos últimos dias, com a divulgação – contestada pela empresa – de que a Bayer já sabia dos riscos do Lipobay antes mesmo de lançar o remédio no mercado. As ações da empresa despencaram, forçando ainda mais a queda do DAX.

Fiscalização estatal

Os prejuízos sofridos pelos pequenos acionistas alemães, em decorrência das fraudes e manipulações, fez com que o governo federal alemão preparasse um programa de dez pontos, com o intuito de melhorar a fiscalização das empresas que negociam ações no mercado de capitais.

Isto não é suficiente, contudo, para reconquistar os pequenos investidores. Afinal, o próprio ministro das Finanças, Hans Eichel, está sob a suspeita de ter incentivado a confiança nas ações da Deutsche Telekom, mesmo sabendo de antemão da situação precária da empresa.