No banco dos réus
30 de setembro de 2010Até hoje não está claro quem disparou os tiros que mataram o então procurador-geral da República, Siegfried Buback. Verena Becker está sendo julgada a partir desta quinta-feira (30/09) pelo Tribunal Superior Regional de Stuttgart, acusada de cumplicidade no caso.
A ré, hoje com 58 anos, foi membro da Fração do Exército Vermelho (RAF) nos anos 1970. A organização extremista de esquerda foi responsável, naquela década, por uma série de atos terroristas na Alemanha, entre estes atentados a bomba, assaltos a bancos, sequestros e mortes, como o assassinato de Buback no dia 7 de abril de 1977.
"Comando Ulrike Meinhof"
Na manhã daquele dia, o então procurador-geral da República entrou no carro para ir de sua casa, no bairro Neureut, na cidade de Karlsruhe, no sudoeste alemão, até a Corte Federal de Justiça, localizada na mesma cidade.
Enquanto o carro permanecia parado em um sinal vermelho, uma motocicleta parou ao lado e a pessoa que se encontrava na garupa da mesma, sem descer, disparou 15 tiros de uma arma semiautomática contra Buback.
As três pessoas que se encontravam no carro – além do procurador-geral, também seu motorista e o diretor do serviço de transportes da Procuradoria Geral da República – foram atingidos por tiros fatais. Pouco depois, o "Comando Ulrike Meinhof" da RAF assumiria a autoria do assassinato.
Questões em aberto
Em uma reconstrução da polícia, o desenrolar dos acontecimentos deixa em aberto a questão sobre quem teria atirado da garupa da motocicleta. Em 1981, em negociações secretas com os serviços de inteligência, Verena Becker acusou Stefan Wisniewski como autor do crime.
Peter-Jürgen Boock e Silke Maier-Witt, ex-membros da RAF, teriam confirmado essa suposição, segundo informou o site do semanário alemão Der Spiegel antes do início do julgamento de Becker. Pouco depois, Maier-Witt viria a desmentir a afirmação, segundo o jornal Die Welt, ao declarar que se trata apenas de uma suposição e que ela, de fato, não saberia dizer quem foi o autor dos disparos em 1977.
Verena Becker recebeu em 1989 um indulto do então presidente alemão, Richard von Weizsäcker. No processo em curso, no entanto, Becker consta como cúmplice da decisão de matar o então procurador-geral, mas também como participante dos preparativos e da organização do atentado.
Michael Buback, filho da vítima, acusa Becker de ter sido ela própria a autora dos disparos. Segundo ele, há cerca de 20 testemunhas que teriam visto uma mulher na carona da moto.
Atas de conversas com serviço secreto
A revista Der Spiegel dispõe de material que documenta conversas entre a ex-terrorista e membros do serviço secreto alemão, entre os dias 8 e 16 de outubro de 1981. Na época, Becker encontrava presa e estaria debilitada psicologicamente.
Naquele momento, a ex-terrorista poderia ter se disposto a conversar com agentes do serviço secreto a fim de conseguir melhores condições de vida na prisão. A ata dessas conversas registra que Becker não estava na Alemanha no momento do ataque a Buback, mas sim em Bagdá ao lado de outra terrorista da RAF.
Essa versão dos fatos, contudo, pode não ser verossímil. Segundo a agência de notícias DPA, a informação foi fornecida pela própria Verena Becker. Outros ex-membros da RAF não confirmaram a estada de Becker no Iraque. Já a Procuradoria Geral da República não quis se manifestar a respeito do conteúdo dessa informação. Observadores temem que o julgamento, inicialmente previsto para terminar em 21 de dezembro, possa se estender por vários meses.
Autor: Matthias von Hellfeld (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer