Europeus em busca da política ideal contra a crise
14 de março de 2013Muitos políticos de ponta europeus estão pouco a pouco ficando desesperados. Há anos a União Europeia vem implementando uma política de consolidação orçamentária, mas uma mudança para melhor ainda parece distante. O crescimento ainda é frágil; vários países continuam em recessão; o desemprego aumenta, sobretudo nos países do Sul do continente; e mais e mais Estados precisam de ajuda.
"O que eu vejo é a ascensão da extrema-direita na Grécia; nenhum governo na Itália; bancos falidos no Chipre; uma geração perdida na Espanha; França, Bélgica e Holanda precisando de um novo pacote de austeridade; e a Irlanda começando o sexto ano de política de arrocho", enumera o belga Guy Verhofstadt, líder da bancada liberal do Parlamento Europeu.
Diante de tal panorama, muitos se perguntam por quanto tempo os cidadãos continuarão a colaborar – tanto nos países mais estáveis, como a Alemanha, como nos necessitados de ajuda, que precisarão fazer cortes ainda mais profundos. A partir desta quinta-feira (14/03), chefes de Estado e governo da União Europeia se reúnem em Bruxelas com a responsabilidade de definir como o bloco poderá seguir adiante, apesar de tantas contradições.
Irlanda como exemplo
O presidente da Comissão Europeia (órgão executivo da UE), José Manuel Durão Barroso, não pretende suavizar. "Alguns custos com que os mais vulneráveis em nossa sociedade têm que arcar são simplesmente intoleráveis", afirmou. "Uma justa distribuição do peso [das medidas] tem que ser elemento central de nossa política. Não podemos repetir os erros do passado, acumulando novas dividas e adiando reformas para uma maior competitividade."
A correção dos erros, como reconhece Barroso, já está há tempo em pleno andamento, e a Europa já deu passos importantes para cortar o déficit e melhorar a competitividade. Em carta aos líderes europeus antes da cúpula, o português assegura que os esforços estão, gradualmente, dando frutos.
Como exemplo, citou a Irlanda, um dos países que recebeu resgate financeiro. Os irlandeses ocupam agora a presidência rotativa da UE e tentam aproveitar a oportunidade para se venderem como exemplo a ser seguido. A ministra da Irlanda para Assuntos Europeus, Lucinda Creighton, diz que, como cidadã, sabe as dificuldades impostas pelos ajustes ficais, mas garante que as medidas são necessárias. "Se quisermos atingir um crescimento sustentável e criar empregos, teremos que colocar as contas do Estado em ordem", afirmou.
Alguns não conseguem sequer mais ouvir essa conversa. O britânico Stephen Hughes, deputado no Parlamento Europeu, vê uma "política sem sentido e destrutiva" em curso. Todas as promessas de recuperação, afirma, provaram ser infundadas.
Daniel Cohn-Bendit, líder dos verdes no Parlamento Europeu, alega que, quando os Estados precisarem, a UE não conseguirá intervir, se adotar o orçamento para o período 2014-2020 com os cortes propostos por alguns países-membros. Na quarta-feira, o eurodeputados rejeitaram o acordo para o próximo orçamento comunitário, que seria inferior ao de 2007-2013. As contas terão, agora, que ser negociadas no Conselho Europeu.
Divisões acentuadas
A Europa está atualmente dividida em várias linhas: entre os que defendem a consolidação e os que apoiam uma política de incentivos estatais de crescimento; entre o Norte, relativamente estável, e o Sul, mais fraco; e, cada vez mais, entre os integracionistas, que evocam maior unidade europeia para enfrentar a crise, e os que apostam nos Estados nacionais.
O último grupo está aumentando. Um de seus defensores é Nigel Farage, membro do Partido Independentista britânico. Ele é integrante do Parlamento Europeu, mas quer o Reino Unido fora da UE e vê as últimas eleições na Itália como um exemplo de uma tendência continental ao euroceticismo. O euro, afirma, é a razão para a crise financeira no Sul europeu. "A união monetária não é nada além de um desastre", diz.
Do outro lado, está o deputado democrata-cristão alemão Herbert Reul, que se diz irritado com essa série de diferentes propostas e com o que chama de reações histéricas da direita e da esquerda. "Não se ganha um prêmio por ter uma ideia diferente cada dia, mas sim por resistir e, ao fim, poder dizer: esse trabalho valeu a pena", critica.
A mensagem é quase a mesma que a chanceler alemã, Angela Merkel, vem repetindo. Mas vem crescendo a pressão sobre o governo para que mostre resultado. Sindicatos convocaram protestos diante do Parlamento em Bruxelas para o período da cúpula. Não há muito mais tempo para mostrar aos cidadãos a luz no fim do túnel.
Autor: Christoph Hasselbach (rpr)
Revisão: Augusto Valente