Cúpula Brasil-UE
23 de dezembro de 2008O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta segunda-feira (22/12), durante a 2ª Cúpula Brasil-União Européia, uma parceria de "importância singular para o aprofundamento das relações entre o Brasil e a Europa".
"Adotamos um plano de ação para a parceria estratégica, que constituirá o principal marco de nosso diálogo e cooperação. A parceria resultou de uma convergência de interesses que vai além dos valores e princípios que defendemos nos foros internacionais. Neste momento de tanta incerteza e turbulência no cenário global, podemos trabalhar juntos em temas cruciais para nossos países e para a comunidade internacional", declarou Lula.
Amparado por Sarkozy, de um lado, e José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Européia, de outro, Lula explicou que o plano de ação vai muito além dos temas econômicos e comerciais. "Ele abrange um amplo conjunto de áreas para ação conjunta. Sublinha nosso compromisso com o fortalecimento do sistema multilateral, inclusive nas áreas de paz e segurança."
FMI e ONU precisam de reformas
Sarkozy, que visita o Brasil não apenas na qualidade de presidente francês, mas também em nome da presidência rotativa da União Européia, disse que "Europa e Brasil devem falar com a mesma voz para obter mudanças fundamentais no sistema global".
"Estamos decididos a fazer com que as coisas mudem, e mudem profundamente. Queremos estreitar nossas relações para chegar a Londres com uma voz comum e defender nossa posição sobre temas como o papel do FMI e das instituições financeiras no futuro", declarou Sarkozy. Em abril de 2009, a capital inglesa sediará a próxima cúpula do G20, grupo que reúne os países mais ricos e os principais emergentes.
Também a ONU foi citada entre as entidades que exigem reformas no futuro, fato tratado como consenso pelos três líderes. O Brasil quer tornar-se membro permanente de seu Conselho de Segurança, o que Sarkozy defendera abertamente na abertura da cúpula.
Mais que um conjunto de metas a serem adotadas de imediato, o plano procura sobretudo estabelecer uma voz comum. Brasil e União Européia compartilham posições em setores tão variados quanto a promoção da paz e dos direitos humanos; o avanço nas negociações de um acordo comercial Mercosul-União Européia; ações pelo desarmamento e a não-proliferação de armas de destruição em massa; incentivos à educação e à pesquisa científica e parcerias para ampliar o uso de energias renováveis e conter o aquecimento.
Apenas intenções?
Grande parte do longo documento periga ser, inicialmente, apenas uma declaração de intenções. "Não nos faltou ambição ao definir nosso programa de trabalho", reconheceu Lula. "Temos, agora, de estar à altura do grande número de projetos e iniciativas a que nos propusemos. Somos chamados a produzir resultados concretos num momento em que a comunidade internacional busca alternativas frente a uma globalização profundamente desigual."
A necessidade de ações coordenadas nos âmbitos climático e energético também foi frisado. Barroso definiu a reunião como "muito frutífera" e elogiou as metas de redução do desmatamento anunciadas pelo presidente Lula, bem como o recém-lançado Plano Nacional sobre Mudança do Clima. Mas acrescentou: "A Amazônia é brasileira, todos sabemos disso. Ao mesmo tempo, há aqui, sem dúvida, um problema global e tudo que o Brasil puder fazer para solucioná-lo será saudado".
Lula, por outro lado, recebeu com otimismo a abertura mostrada pela UE aos biocombustíveis: "Quero saudar a União Européia pela adoção de uma diretiva de energias renováveis que pode abrir uma nova etapa no nosso trabalho conjunto com etanol e biodiesel".
Cúpula criada com empurrão português
A pedra fundamental para o acordo recém-assinado no Rio foi lançada em 2007, durante a presidência portuguesa da UE, da qual o anúncio de uma parceria estratégica foi uma das bandeiras. Em julho daquele ano, foi realizada em Lisboa a 1ª Cúpula Brasil-União Européia.
Na época, o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, frisou que "foi por pressão portuguesa, por sugestão portuguesa, por insistência portuguesa que esta reunião se realizou". Sócrates disse sempre ter acreditado que, "na relação entre UE e América Latina, fazia falta uma trave-mestra, um pilar, e esse pilar só poderia ser o Brasil".