Europa começa a vacinar crianças de 5 a 11 anos dividida
13 de dezembro de 2021A União Europeia (UE) começou a vacinar suas crianças mais novas, de 5 a 11 anos, mas os países-membros estão adotando estratégias diversas e lidando com pais com disposições muito diferentes sobre imunizar seus filhos.
A Dinamarca iniciou a campanha mesmo antes da chegada das ampolas e seringas projetadas para essa faixa etária, e uma região da Itália contratou palhaços e malabaristas para animar os locais de vacinação. Já França e Alemanha recomendaram vacinar apenas as crianças mais vulneráveis.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) aprovou no final de novembro o uso de uma dose menor da vacina da Pfizer-BioNTech em crianças de de 5 a 11 anos. A entrega dos frascos pediátricos começou nesta segunda-feira (13/12).
Vacinar crianças e jovens, que podem transmitir covid-19 a pessoas com maior risco de desenvolver manifestações graves da doença, é considerado um passo fundamental para domar a pandemia. Na Alemanha e na Holanda, as crianças representam atualmente a maioria dos novos casos.
O início da vacinação das crianças de 5 a 11 anos ocorre em um momento em que a UE enfrenta uma grande onda de infecções. O bloco responde hoje por bem mais da metade das novas infecções e 50% das novas mortes em todo o mundo. Cerca de 27 milhões de crianças de 5 a 11 anos são elegíveis para a vacina na UE.
Diferenças entre países
A Espanha, que está entre os países mais imunizados do mundo, com 90% da população com 12 anos ou mais totalmente vacinada, começará a vacinar crianças de 5 a 11 anos nesta quarta-feira.
Já na França, somente crianças com sobrepeso ou com problemas de saúde graves poderão ser vacinadas até que haja mais dados disponíveis. E a Bélgica pode não iniciar a vacinação até o começo de janeiro, até que suas autoridades nacionais divulguem orientações.
Algumas autoridades sanitárias, por outro lado, nem esperaram a chegada dos kits pediátricos e começaram a usar as ampolas normais já em estoque, mas extraindo apenas um terço da dose.
Quando Viena abriu em novembro as primeiras 9,2 mil vagas para vacinação de crianças, todos os agendamentos foram reservados em poucos dias.
A Dinamarca seguiu o exemplo em 28 de novembro, dizendo que não havia tempo a perder. Depois de menos de duas semanas, mais de 49 mil crianças de 6 a 11 anos haviam recebido sua primeira dose, ou cerca de 13% dessa faixa etária no país.
Alemanha: Comissão adota cautela, mas crianças podem vacinar
A Comissão Permanente de Vacinação da Alemanha (Stiko) disse que não poderia recomendar uma aplicação geral da vacina a essa faixa etária devido à escassez de dados disponíveis.
O órgão recomendou apenas que crianças de 5 a 11 anos com condições preexistentes de saúde, ou que morem com pessoas com essas condições, sejam vacinadas. Mas os pais de crianças saudáveis também podem vacinar os seus filhos dessa faixa etária após consultarem seus pediatras.
Segundo o Ministério da Saúde alemão, mais de 2,2 milhões de doses da vacina especificamente para esse grupo etário foram distribuídas às farmácias, que então as repassam aos consultórios de pediatras que aplicam os imunizantes.
Os pediatras já haviam solicitado cerca de 800 mil doses para esta semana, e a associação dos pediatras espera uma alta demanda dos pais. A vacinação já começou em alguns estados e, além de consultórios médicos, centros de vacinação também poderão aplicar os imunizantes nas crianças em algumas regiões do país.
O estado alemão da Saxônia, no leste do país e um dos atingidos mais duramente pelo atual surto de infecções, é um dos que já começaram a vacinar crianças menores com algum fator de risco. Na sexta-feira, Franz Knoppe fez uma viagem de mais de 100 quilômetros de Chemnitz até Leipzig, a cidade mais populosa da Saxônia, com seus dois filhos, de sete e 11 anos, para um local de vacinação infantil.
"Ficamos tão felizes que agora as vacinas para crianças menores de 12 anos são possíveis", disse ele à agência Reuters no hospital. Mathilda, que não forneceu seu sobrenome, também estava no local com sua filha Erna, de seis anos de idade. "É importante vacinar as crianças e dar segurança a elas, assim como é para os adultos", disse.
Preocupação de pais
Mas ainda há muitos pais que não estão convencidos. Na Holanda, uma pesquisa amostral representativa feita em 22 e 23 de novembro com cerca de 1,8 mil pais com filhos de 5 a 12 anos indicou que 42% não pretendem vaciná-los, e outros 12% responderam que provavelmente não os vacinarão. Apenas 30% disseram que irão vacinar seus filhos.
Uma pesquisa realizada na Itália pela empresa de pesquisa Noto Sondaggi, publicada em 5 de dezembro, constatou que quase dois terços dos entrevistados apoiam a vacinação dessa faixa etária, mas o percentual cai para 40% entre os pais com filhos de 5 a 12 anos de idade.
A falta de dados sobre os efeitos nas crianças foi o principal motivo para a hesitação entre os respondentes. Já um terço disse que as crianças teriam menos probabilidade de serem infectadas, e 9% se preocupavam com os efeitos colaterais no longo prazo.
A vacinação das crianças mais novas nos EUA está lenta desde que ela começou, em novembro. Dos 28 milhões de crianças americanas elegíveis nessa faixa etária, cerca de 5 milhões receberam pelo menos uma dose até o momento. Alguns pais têm se preocupado com relatos de inflamação cardíaca, um efeito colateral raro da vacina visto em homens jovens com uma frequência maior do que no resto da população.
Na semana passada, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA informou não ter encontrado nenhum relato desse efeito colateral entre as crianças de 5 a 11 anos de idade que haviam sido vacinadas.
Nenhuma preocupação séria com a segurança relacionada à vacina tampouco foi identificada em ensaios clínicos, disseram a Pfizer e a BioNTech. "Os dados mostram que ela é segura, eficaz e com resultados muito semelhantes aos das crianças mais velhas", disse o pediatra italiano Luigi Greco, do associação de pediatras da Lombardia.
Capitão Vacina
Algumas autoridades regionais na Itália estão criando formas inventivas para entreter e engajar as crianças enquanto elas são vacinadas e tornar o agendamento mais fácil para os pais.
Na Ligúria, elas criaram um super-herói de desenho chamado Capitão Vacina, que carrega uma bolsa de médico e usa um casaco branco com um grande "V" impresso em seu peito. Ele é a estrela em uma história em quadrinhos que será distribuída nos centros de vacinação.
"A vacinação deve ser uma brincadeira, um momento de alegria, quando as crianças podem se sentir à vontade", disse Alessio D'Amato, chefe de saúde da região central do Lazio, em um vídeo no qual ele declarou esta quarta-feira o "Dia da Vacina" para as crianças da região.