Cinco anos de euro
29 de dezembro de 2006O euro completa cinco anos em 1º de janeiro de 2007 superando o dólar no valor total de cédulas em circulação no mundo e sendo adotado em mais um país, a Eslovênia, mas nem assim consegue vencer o ceticismo com que é visto por grande parte dos alemães, ainda saudosos de sua antiga moeda nacional.
Números divulgados esta semana pelo Banco Central Europeu (BCE) mostram que há 628 bilhões de euros em circulação no mundo. Em 2002, primeiro ano de circulação da nova moeda, foram emitidos 359 bilhões de euros em cédulas.
O valor atual é superior ao de cédulas de dólar circulando no planeta. Os últimos dados do Banco Central norte-americano afirmam que há 776 bilhões de dólares em moeda corrente em todo o mundo, o equivalente a 588 bilhões de euros.
Quase a metade das cédulas de euro existentes circulam na Alemanha. Isso porque os alemães preferem pagar em dinheiro vivo, diferentemente de outros europeus, como os franceses e os espanhóis, que optam por cartões de crédito e débito.
Dólar é principal moeda
Mesmo que haja mais cédulas de euro do que de dólar em circulação, a moeda européia está longe de superar a norte-americana como principal moeda do mundo, já que o dólar domina o mercado financeiro mundial e os negócios com petróleo, além de ser a principal moeda usada na formação de reservas internacionais.
Mas, como moeda estável com uma baixa taxa de inflação, o euro é usado cada vez mais por bancos centrais de todo o mundo para formar reservas em moeda estrangeira. Países como a China, a Austrália, o Irã e os Emirados Árabes Unidos já anunciaram que converterão em euros parte ou mesmo o total de suas reservas internacionais em dólar.
Segundo o BCE, 24,3% das reservas de bancos centrais de todo o mundo estavam em euro em janeiro de 2005. Em 1999, esse percentual era de 17,9%. A participação do dólar nas reservas mundiais de divisas caiu de 71% para 66,4% nesse período.
A crescente adoção internacional da moeda se reflete no câmbio. No início de dezembro, o euro chegou perto de valer 1,34 dólar, se estabilizando no final deste ano em torno de 1,30, muito acima da cotação de 0,9038 dólar registrada em 2 de janeiro de 2002, após seu primeiro dia de circulação.
"Teuro"
Com a adoção pela Eslovênia, a moeda passará a ser usada por 13 países da União Européia, além de ser a divisa oficial de Montenegro, Andorra, Mônaco, San Marino e do Vaticano. Entre os países-membros do bloco que preenchem todos os requisitos para adotar a moeda, há três que não o fazem: Reino Unido, Dinamarca e Suécia.
Mas o sucesso da moeda não significa que ela seja vista sem restrições na Alemanha. Pesquisa feita pelo instituto Forsa a pedido da revista Stern mostra que 58% dos alemães prefeririam pagar suas contas em marco, caso pudesse escolher.
O principal motivo para a rejeição da moeda comum européia é a sensação de que a sua introdução, em 2002, trouxe consigo um aumento de preços. Muitos alemães acham que produtos como café, cerveja e gasolina, entre outros, ficaram mais caros com o euro.
O termo amplamente adotado pela imprensa sensacionalista alemã para se referir à moeda comum européia é teuro, um jogo de palavras com teuer (caro, em alemão) e euro. Uma das reclamações mais freqüentes, entre os alemães, é que bares e restaurantes simplesmente substituíram os preços em marco por euro, dobrando, na prática, o valor de um café ou de uma cerveja.
Em defesa do euro
A principal defesa do euro é feita pela Comissão Européia. O comissário de Assuntos Econômicos e Monetários, Joaquín Almunia, afirmou esta semana em Bruxelas que é necessário destacar os benefícios do euro, ao invés de transformá-lo em "bode expiatório para outros problemas".
Segundo ele, a moeda comum européia é forte e estável e barateou as importações, até mesmo de petróleo. "Inflação e juros baixos são um benefício para a grande maioria dos trabalhadores", disse.
Ele afirmou que a falsa impressão de que os preços aumentaram de um modo geral se deve a abusos feitos por alguns setores no momento da conversão das moedas nacionais para euro.
Almunia lembrou ainda que, com o euro, não há mais a cobrança de taxas para conversão de moeda ou de impostos sobre saques em caixas automáticos ou sobre compras durante viagens a outros países.
Marco embaixo do colchão
O apego dos alemães à sua antiga moeda também pode ser avaliado pelo total de marcos guardados em armários ou debaixo do colchão. Especialistas do Banco Central alemão avaliam que nada menos que 14 bilhões de marcos estejam armazenados em lares alemães.
Desse total, metade é em moedas e metade, em cédulas. Todos os dias, entre 800 mil e 1 milhão de marcos são convertidos em euros na Alemanha, embora este valor esteja em queda.
Além de ainda poder trocar essas notas no Banco Central, os alemães também podem utilizá-las para fazer compras em certas lojas de departamentos, entre elas a C&A e algumas filiais da Kaufhof, que trocam notas de marco por euro.