Imagem recriada
8 de maio de 2011Este era, então, o homem mais perigoso do mundo, o fundador e líder da Al Qaeda, o responsável maior pelos atentados de 11 de Setembro: quase miserável, ele aparece sentado diante de uma televisão, num quarto simples, com o controle remoto na mão, assistindo a um canal de notícias árabe.
De vez em quando, zapeia de um canal para o outro. Um cobertor lhe cobre os ombros e uma touca protege a cabeça. O rosto é visto de lado: Osama Bin Laden parece velho, pouco saudável, descuidado.
Duas caras
O vídeo divulgado pelo governo dos Estados Unidos é um dos que foram encontrados na casa de Bin Laden após o local ter sido invadido por uma tropa de elite da Marinha norte-americana. As imagens mostram um certo aspecto do líder terrorista morto durante a operação.
O outro aspecto é este: Bin Laden bem vestido e arrumado, numa gravação endereçada ao mundo externo. "Mensagem ao povo americano" é o nome de outro vídeo não chegou a ser postado na internet pela Al Qaeda, e que também foi divulgado pelos EUA. A gravação provavelmente foi feita no ano passado.
A diferença é enorme. Na primeira tomada, uma gravação caseira, a barba de Bin Laden está mais grisalha e descuidada do que nos vídeos "oficiais", destinados ao mundo externo. Nestes, a barba é escura, provavelmente pintada, e os cabelos estão alinhados, aparentemente com o objetivo de dar uma cara mais jovem ao líder terrorista.
"A divulgação do vídeo provavelmente faz parte de uma batalha publicitária, que o governo norte-americano visa agora", avaliou o ex-diretor da CIA Jim Woolsey. "A imagem que ficará na memória das pessoas será a de um homem velho e solitário", disse um comentarista da emissora de televisão CNN.
Figura midiática
"Bin Laden parece um velho ator que sonha com um comeback", escreveu o New York Times. E sintetizou o que a imprensa dos Estados Unidos afirmou de forma unânime: com a divulgação dos vídeos, Obama não apenas exibiu um troféu de guerra e celebrou o triunfo de seus serviços secretos. Ele também definiu a imagem de Bin Laden para o futuro, não como um poderoso mártir, mas como uma figura midiática criada pelo próprio líder terrorista.
Mas Mark Kimmit, ex-general de brigada e colaborador próximo do ex-presidente George W. Bush, alertou o governo Obama para não exagerar com a divulgação de material da Al Qaeda.
"Ele parece ser esse homem velho e cansado, sentado numa cadeira. O problema é: ao mesmo tempo que eles tentam desmistificar Osama Bin Laden, ficamos sabendo que ele tinha muito mais controle operacional do que inicialmente pensávamos. É um conflito de mensagens, e eu diria que Washington deve ter cuidado. Se um velho numa cadeira pode conduzir a mais temida organização terrorista do mundo, então temos muito com que nos preocupar."
Mas o governo dos EUA afirma que os vídeos divulgados são apenas uma parte ínfima do material coletado na casa de Bin Laden. No todo, o material comprova o papel ativo do líder terrorista no planejamento e na execução de atentados.
AS/dw/dpa
Revisão: Augusto Valente