EUA polarizam opiniões com ataque ao regime sírio
7 de abril de 2017O ataque dos Estados Unidos à base aérea de Shayrat, o primeiro realizado contra forças do presidente sírio Bashar al-Assad em seis anos de guerra civil no país, polarizou a opinião pública internacional e gerou grande repercussão entre líderes de nações que apoiam ou se opõem ao regime de Damasco.
A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, afirmaram, em comunicado conjunto, que Assad provocou o ataque americano com suas próprias ações. Segundo os dois líderes, "o presidente Assad é o único responsável pelas consequências", em razão do "uso repetido de armas químicas e crimes cometidos contra seu próprio povo".
Merkel e Hollande disseram que seus países continuarão a trabalhar junto a seus parceiros na ONU nos "esforços para responsabilizar o presidente Assad por suas ações criminosas". Ambos pediram que a comunidade internacional "reúna forças para promover uma transição política na Síria", em acordo com as resoluções da ONU.
"Resposta adequada"
O gabinete da primeira-ministra britânica Theresa May expressou apoio a Washington, afirmando que a ação americana foi uma "resposta adequada ao ataque bárbaro com armas químicas lançado pelo regime sírio, com o propósito de impedir futuros ataques".
O governo britânico foi informado antecipadamente sobre o lançamento dos mísseis americanos contra a base aérea síria. O secretário britânico de Defesa, Michael Fallon, disse que o Reino Unido, que integra a coalizão liderada pelos EUA que combate o autoproclamado "Estado Islâmico" na Síria e no Iraque, não foi convidado a participar da operação.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, defendeu a iniciativa de Trump, afirmando que o presidente americano enviou uma "mensagem forte e clara", tanto nas ações quanto nas palavras, e que "o uso de armas químicas não deve ser tolerado".
O primeiro-ministro da Itália, Paolo Gentiloni, disse que o conflito na Síria deve ser resolvido através de negociações envolvendo o governo, grupos de oposição e a Rússia, sob a tutela da ONU.
A China defendeu uma investigação independente sobre o ataque químico em Khan Cheikhoun. "O principal agora é evitar que a situação se deteriore e preservar o árduo processo político para resolver o conflito na Síria", afirmou uma porta-voz do ministério chinês do Exterior, sem mencionar diretamente o ataque americano. Ela reiterou que o país condena os ataques com armas químicas sob quaisquer circunstâncias.
Rússia condena agressão
A Rússia condenou o ataque, que chamou de "uma agressão contra um Estado soberano em violação das leis internacionais". Segundo nota do porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, o presidente russo, Vladimir Putin, classificou como "pretexto exagerado" a justificativa do governo americano para o ataque. "A atitude de Washington representa um golpe significativo para as relações Rússia-EUA, que já se encontravam em estado deplorável", dizia o comunicado, segundo o qual o ataque cria "graves obstáculos" para a criação de uma coalizão internacional contra o terrorismo.
O ministro russo do Exterior, Sergei Lavrov, também qualificou o ataque como um ato de agressão, dizendo que seu país exigirá explicações sobre a natureza da operação americana. Ele disse esperar que essa "provocação" por parte de Washington "não cause danos irreparáveis" às relações entre os dois países.
Irã e Arábia Saudita de lados opostos
A Arábia Saudita, que apoia a oposição síria, elogiou o que chamou de "decisão corajosa" de Trump. Já o Irã, um dos aliados de Assad, afirmou que "ações unilaterais" como essa podem ser perigosas.
Um porta-voz do ministério iraniano do Exterior disse que as investidas americanas poderão "fortalecer os terroristas", deixando ainda mais complicada a situação. O Irã, de maioria xiita, e a Arábia Saudita, majoritariamente sunita, travam uma disputa de poder por maior influência na Síria e em outras partes da região.
O grupo Coalizão Síria, de oposição a Assad, elogiou o ataque americano, afirmando que pôs fim a uma era de impunidade. Os insurgentes dizem esperar que este seja apenas o início de um maior envolvimento americano no conflito.
RC/ap/afp/rtr