Africom
19 de junho de 2008A decisão do governo dos Estados Unidos de estacionar seu novo comando militar para a África na cidade alemã de Stuttgart, a partir de onde serão coordenadas todas as operações americanas no continente, começa a gerar críticas na Alemanha.
"Eles não operam como organização de assistência, nem de ajuda a refugiados, mas possuem interesses militares concretos que devemos observar", critica o político democrata-cristão Willy Wimmer.
A central de comando no sul da Alemanha conta atualmente com 550 soldados. Quando passar a operar integralmente a partir de outubro, o contingente aumentará para 1.300 soldados. A eles, somam-se equipes privadas de segurança, especialistas da empresa Military Professional Resources Inc.
Potencial de risco
Exatamente aí é que Wimmer vê potencial de risco. Desde o escândalo dos casos de tortura na prisão de Abu Ghraib e os acontecimentos envolvendo a empresa de segurança Blackwater no Iraque, o político desconfia de soldados privados.
"Não deveríamos permitir algo assim em território alemão. Temos que observar com muita atenção para não nos envolvermos em desdobramentos causados pela má coordenação americana", alerta.
Para Wimmer, o caso Blackwater – no qual 17 civis foram mortos durante uma operação em setembro de 2007 em Bagdá – mostrou como empresas privadas de segurança operam num espaço relativamente sem lei.
"A África não é o Iraque"
Entretanto, o porta-voz do Africom, Vince Crawley, não se deixa abalar pelas críticas, argumentando que a África, afinal de contas, não é o Iraque, e que é preciso avaliar tais incidentes no contexto das operações do exército americano no Iraque e no Afeganistão.
"Na África, temos uma situação completamente diferente. Lá procuramos muito mais impedir a ocorrência de guerras. Tentamos criar condições nas quais os países africanos possam se desenvolver e as pessoas possam obter seu bem-estar", garante Crawley.
Segundo o próprio Africom, seu objetivo não é apenas limitar a ameaça de terrorismo islâmico ou o tráfico de armas e drogas. Em breve, o comando assumirá a coordenação de tarefas de desenvolvimento civil. Mas também esse fato gerou críticas.
Segundo Nancy Walker, cabeça do think tank AfricaNet, para cooperações na área de desenvolvimento já existe há muito tempo a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), que seria muito mais adequada que soldados.
"Se o governo americano dissesse que deseja desempenhar um papel maior em questões de desenvolvimento, que possui grande interesse na cooperação com os africanos, então essa responsabilidade deveria ser assumida pela Usaid ou pelo setor privado", afirma Walker.
"Militarização da política africana"
Críticos do Africom temem que haja uma militarização crescente da política dos EUA para a África. Também potências regionais, como a Nigéria e a África do Sul, ou a União Africana, vêem com grandes reservas o novo entusiasmo norte- americano, salientando que muito disso é uma estratégia para se apoderar de recursos e intensificar a presença militar.
Vince Crawley, do Africom, garante que as críticas partem de falsas premissas. "Houve diversos mal-entendidos, que sugerem que o Exército dos Estados Unidos passará a fiscalizar as cooperações com a África no âmbito do desenvolvimento. Este simplesmente não é o caso", assegura o porta-voz.
Quanto à presença da central em Stuttgart, Crawley explica que tais centrais de comando geralmente não se encontram nas regiões a que servem. E o Africom, no final das contas, estaria subordinado ao Eurocom, o comando regional para a Europa, que por sua vez também foi instalado em Stuttgart. Além disso, sua localização se justificaria pelo aspecto logístico, já que "conexões aéreas entre países africanos muitas vezes só existem via Europa.
Quanto à militarização da ajuda ao desenvolvimento, Crawley argumenta que a hierarquia é clara: ajuda militar e civil estariam no mesmo patamar. E salienta que, pela primeira vez, o vice-comando é dividido igualmente entre um militar e uma representante civil.