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EUA e Irã: cronologia da hostilidade

11 de janeiro de 2020

Morte do general iraniano Qassim Soleimani pelos EUA acirra tensões entre Washington e Teerã, cujas relações vêm se desgastando desde a década de 1950. Reveja os principais acontecimentos envolvendo os dois países.

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Em 2004, manifestantes queimam bandeira dos EUA em Teerã
Em 2004, manifestantes queimam bandeira dos EUA em TeerãFoto: picture-alliance/AP Photo/V. Salemi

19 de agosto de 1953: O chefe de governo do Irã, Mohammed Mossadegh, é derrubado, com a colaboração dos serviços secretos dos Estados Unidos e do Reino Unido, com o fim de evitar a estatização das jazidas de petróleo do país. Nos anos seguintes, Estados do Ocidente apoiam o xá Reza Pahlevi, que governa de forma absoluta.

16 de janeiro de 1979: A Revolução Islâmica força o xá a deixar o Irã. Sob o líder xiita aiatolá Ruhollah Khomeini, é fundada a República Islâmica. Em novembro, estudantes iranianos invadem a embaixada americana em Teerã, tomando como reféns 63 funcionários diplomáticos.

4 de abril de 1980: Os EUA suspendem as relações diplomáticas com o Irã. Em setembro, tropas do presidente iraquiano, Saddam Hussein, invadem o sudoeste do país, o Ocidente fica do lado do Iraque na guerra que dura até 1988.

20 janeiro de 1981: Os 52 reféns restantes são libertados da embaixada americana em Teerã.

1987-88: Na guerra com o Iraque, diversos ataques iranianos contra petroleiros resultam em combates entre tropas do Irã e dos EUA. Em julho de 1988, um navio de guerra americano abate um avião de passageiros iraniano, matando 290 ocupantes. Washington alega que a aeronave fora confundida com um veículo militar.

29 de janeiro de 2002: Na sequência dos atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente americano, George W. Bush, classifica o Irã, Iraque e Coreia do Norte como "Eixo do Mal". Em dezembro, ainda durante os preparativos para a invasão americana do Iraque, Washington expressara suspeita de que o Irã pudesse desenvolver armas atômicas.

Janeiro de 2006: O Irã divulga a retomada do enriquecimento de urânio para seu programa nuclear. Os EUA temem que Teerã planeje desenvolver bombas atômicas. Segundo a imprensa, em caso de guerra, Bush considera empregar armas "táticas" contra o país asiático. Em maio, o Irã ameaça rescindir o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.

 Agosto de 2013: O novo presidente iraniano, Hassan Rohani, deseja o fim das sanções econômicas e acata as exigências da comunidade internacional de uma redução drástica do programa nuclear nacional.

14 de julho de 2015: Em Viena é fechado o Acordo Nuclear com o Irã. Agora, o país terá que limitar drasticamente seu programa nuclear. Em contrapartida, as sanções econômicas são abolidas. No Irã, o acordo é festejado.

2016-18: O novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anuncia repetidamente que quer rescindir o Acordo Nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirma regularmente que o Irã se atém aos termos do acordo.

8 de maio de 2018: Trump encerra unilateralmente o Acordo Nuclear internacional com o Irã, apesar dos veementes protestos também da União Europeia. Ele ameaça os países que continuam a importar petróleo do Irã com sanções drásticas.

22 de julho de 2018: Em resposta, o presidente Hassan Rohani ameaça bloquear as rotas de exportação de petróleo no Golfo Pérsico. Rohani acusa Trump de tencionar destruir o Irã com suas sanções. O chefe de Estados iraniano ameaça os EUA com "a mãe de todas as guerras". O Irã já anunciara anteriormente ter iniciado os preparativos para o enriquecimento de urânio.

7 de agosto de 2018: O governo dos EUA restabelece as sanções contra o Irã. Entre outras coisas, fundos são congelados e o comércio de matérias-primas é proibido. Em novembro, as sanções são endurecidas.

25 de setembro de 2018: Para salvar o acordo nuclear com o Irã, a União Europeia quer criar um mecanismo através do qual as sanções dos EUA contra Teerã possam ser contornadas, anuncia Federica Mogherini, chefe da diplomacia da UE. Mas a instituição acaba não sendo eficaz.

8 de abril de 2019: Washington classifica a Guarda Revolucionária Iraniana como organização terrorista. É a primeira vez que os EUA adotam esse passo contra uma organização estatal estrangeira. Como reação, o governo em Teerã declara os EUA "promotor estatal do terrorismo".

13 de junho de 2019: Os EUA culpam o Irã por duas explosões de petroleiros no Golfo de Omã. Em maio, os Estados Unidos já haviam acusado o regime em Teerã de estar por trás de ataques a dois petroleiros sauditas. Trump aumenta maciçamente a presença das tropas americanas na região do Golfo e, alguns dias depois, via Twitter, ameaça aniquilar o Irã.

20 de junho de 2019: A Guarda Revolucionária do Irã abate um drone americano sobre o Golfo Pérsico. O governo em Washington nega a alegação de que o veículo aéreo não tripulado invadira o espaço aéreo iraniano. Trump cancela no último minuto um já anunciado ataque de retaliação.

4 de julho de 2019: A Marinha britânica detém na costa de Gibraltar um petroleiro iraniano que teria violado as sanções da UE. O Grace 1, que navegava com bandeira do Panamá, é suspeito de fornecer petróleo iraniano à Síria.

7 de julho de 2019: Expira um ultimato estabelecido pelo Irã para uma retirada parcial do Acordo Nuclear. O país anuncia então não pretender mais se ater ao limite de 3,67% de enriquecimento de urânio estabelecido no tratado.

19 de julho de 2019: Em represália à apreensão do petroleiro iraniano Grace 1 perto de Gibraltar, a Guarda Revolucionária do Irã retém o petroleiro de bandeira britânica Stena Impero no Estreito de Ormuz.

18 de agosto de 2019: Gibraltar liberta o petroleiro iraniano Grace 1. O britânico Stena Impero é libertado em 23 de setembro.

26 de agosto de 2019: Durante a conferência do G7 na França, o presidente francês, Emmanuel Macron, tenta em vão mediar uma cúpula entre EUA e Irã.

3 de novembro de 2019: O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, se declara novamente contra negociações com os EUA. Conversas não trariam melhorias, diz ele.

3 de janeiro de 2020: O comandante da Força Quds iraniana, general Qassim Soleimani, é morto num ataque com drones dos EUA perto do aeroporto da capital iraquiana, Bagdá. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ameaça com "vingança implacável". A Casa Branca alega que o assassinato foi para evitar uma guerra.

4 de janeiro de 2020: Protestos contra os EUA marcam funeral de Soleimani. Tensões aumentam na região após Teerã e Hisbolá prometerem retaliações. Otan suspende atividades de treinamento no Iraque, temendo represálias.

5 de janeiro de 2020: EUA e Irã acirram troca de ameaças por morte do general. Parlamento iraquiano aprova expulsão de tropas americanas.

6 de janeiro de 2020: Teerã anuncia que não mais cumprirá o acordo nuclear de 2015, abandonando o limite do número de centrífugas que país pode ter. Em Teerã, centenas de milhares de cidadãos enchem as ruas em última homenagem a Soleimani. As justificativas de Trump e apoiadores para o assassinato são refutadas também nos EUA.

7 de janeiro de 2020: Um tumulto durante o cortejo fúnebre de Soleimani deixa pelo menos 50 mortos e mais de 200 de feridos em sua cidade natal, Kerman. Durante o ato, o comandante da Guarda Revolucionária do Irã, Hossein Salami, ameaça "incendiar" apoiadores dos Estados Unidos em resposta ao ataque que matou o general.

8 de janeiro de 2020: O Irã lança mísseis contra duas bases que abrigam tropas americanas no Iraque. Segundo os EUA, pelo menos 12 mísseis foram lançados na madrugada. A operação, segundo a imprensa iraniana, foi batizada como "Mártir Soleimani" e foi conduzida pela divisão aeroespacial da Guarda Revolucionária. O EUA, a Otan e o Iraque dizem que ataques não deixaram vítimas entre seus militares.
No Irã, cai um Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines, matando 167 passageiros e nove tripulantes. Acumulam-se teorias sobre as causas do acidente, incluindo o envolvimento de mísseis iranianos.

10 de janeiro de 2020: Secretários americanos de Estado, Mike Pompeo, e do Tesouro, Steven Mnuchin, anunciam sanções a lideranças e indústria metalúrgica iranianas. As medidas punitivas visam oito membros de alto escalão das Forças Armadas e do governo, e incluem congelamento de possíveis ativos nos EUA e proibição de transações.

11 de janeiro de 2020: Irã admite abate acidental do avião ucraniano. Segundo militares, a defesa antiaérea o atacou por engano durante um momento de alerta máximo, logo após o ataque a alvos americanos no Iraque. Líderes iranianos lamentam "erro humano". Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, exige desculpas oficiais e consequências para os culpados.

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Martin Muno
Martin Muno Imigrante digital, interessado em questões de populismo e poder político.