Estudo identifica fatores de risco de morte do coronavírus
10 de março de 2020Pessoas com idade avançada, que apresentavam sinais de sepse e tinham problemas de coagulação do sangue estavam entre os pacientes mais suscetíveis e com maior probabilidade de morrer de covid-19 em Wuhan, na China, de acordo com um novo estudo publicado nesta terça-feira (10/03).
Pela primeira vez, pesquisadores buscaram fatores associados a um maior risco de morte devido à doença e examinaram 191 pacientes adultos com o vírus, hospitalizados entre 29 de dezembro e 31 de janeiros em dois hospitais em Wuhan, epicentro da nova cepa de coronavírus, conhecida como Sars-Cov-2.
O estudo publicado nesta terça-feira na revista científica The Lancet "é observacional e, portanto, não pode provar causa e efeito", segundo os pesquisadores, que acrescentaram que as análises representam um bom ponto de partida para descobrir quem corre maior risco.
O vírus Sars-Cov-2 surgiu na cidade chinesa de Wuhan em dezembro e se espalhou pelo mundo, com mais de 110 mil casos confirmados e mais de quatro mil mortes. Somente na China, ao menos 3.140 pessoas morreram da doença respiratória covid-19 e mais de 80 mil foram infectadas.
Dos 191 pacientes analisados pelos pesquisadores em Wuhan, 137 receberam alta e 54 morreram no hospital. Especificamente, ter idade avançada, ter um alto risco de falência de órgãos e ter uma formação significativa de coágulos sanguíneos (trombos, causadores de doenças como a trombose venosa profunda) são os fatores que podem ajudar os médicos a identificar os pacientes de maior risco em estágios iniciais da doença.
"A idade avançada, mostrando sinais de sepse na admissão, doenças subjacentes como pressão alta e diabetes, e o uso prolongado de ventilação não-invasiva [sem intubação] foram fatores importantes na morte desses pacientes", disse um dos coautores do estudo, Zhibo Liu, do hospital Jinyintan, em Wuhan.
O pesquisador afirmou que as pessoas mais velhas são mais suscetíveis a resultados piores devido, em parte, a um sistema imunológico naturalmente mais frágil, a um aumento da inflamação – que pode promover a replicação viral –, e a uma reação mais demorada a inflamações, o que pode causar danos permanentes aos principais órgãos.
No estudo, 91 dos 191 pacientes apresentaram comorbidade (a ocorrência de duas ou mais doenças relacionadas no mesmo paciente e ao mesmo tempo), com a hipertensão sendo a mais comum (30%), seguida de diabetes (19%) e doença arterial coronariana (8%).
Os pacientes que morreram tinham em média 69 anos, enquanto os pacientes que sobreviveram tinham em média 52 anos de idade, segundo o estudo. 53 dos 54 mortos tiveram insuficiência respiratória, enquanto este mal acometeu apenas 36% dos sobreviventes. Todas as vítimas fatais tiveram sepse (inflamação que se espalha pelo organismo em reação a uma infecção), em contraste com apenas 42% dos sobreviventes.
Os pacientes internados com o Sars-Cov-2 levaram mais tempo do que o esperado para eliminar o vírus, com a duração média de 20 dias entre os sobreviventes – houve variação entre oito e 37 dias. Por outro lado, o vírus ficou detectável até a morte nos 54 pacientes que não sobreviveram.
Os pesquisadores, no entanto, alertaram que a real duração da expulsão do vírus em pessoas infectadas permanece incerta devido às condições graves dos pacientes analisados no estudo, além de amostras limitadas de material genético para testes.
O professor e coautor do estudo Bin Cao afirmou que a eliminação mais demorada do vírus "tem implicações importantes para orientar as decisões sobre precauções de isolamento e tratamento antiviral em pacientes com infecção confirmada".
"No entanto, precisamos deixar claro que o tempo de expulsão viral não deve ser confundido com outras orientações de auto-isolamento para pessoas que podem ter sido expostas ao Sars-Cov-2, mas não apresentam sintomas, pois essa orientação é baseada no tempo de incubação do vírus", disse.
O estudo constatou que a duração média de febre devido ao vírus foi de cerca de 12 dias tanto em pacientes que sobreviveram quanto nos que morreram, mas a tosse teve uma duração prolongada: 45% dos sobreviventes ainda estavam tossindo quando receberam alta. Nos sobreviventes, a falta de ar cessou após cerca de 13 dias, mas durou até a morte dos pacientes que sucumbiram à covid-19.
PV/dpa/ots
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