Estudo defende uso de drogas não testadas contra ebola
22 de agosto de 2014Por encomenda da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma equipe de pesquisadores da Universidade de Oxford calculou a demanda de medicamentos para o combate à epidemia de ebola na África Ocidental. Segundo o estudo publicado na quarta-feira (20/08) pela revista Nature, no momento seriam necessárias 30 mil doses de vacina para conter o vírus efetivamente.
O dilema é que, até o momento, não há nenhuma vacina aprovada contra o ebola. "É eticamente apropriado empregar medicamentos não testados no combate ao ebola, contanto que determinadas condições sejam cumpridas", disse à DW Oliver Brady, chefe da comissão de pesquisadores responsável pelo estudo.
Cálculos cautelosos
Para chegar aos números atuais, Brady e os demais cientistas da Universidade de Oxford examinaram os dados relativos a outros surtos de ebola, deduzindo a partir deles os riscos de contaminação. Porém a demanda de doses de vacina pode crescer drasticamente. "O surto não mostra qualquer sinal de recuar, portanto não sabemos qual será a necessidade no futuro", diz.
Nessas estimativas, os pesquisadores partem do princípio que todos os pacientes, seus familiares, pessoal médico e funerário, e outros expostos a altos riscos sejam tratados profilaticamente.
"Calculamos também reservas de emergência de medicamentos; por exemplo, para países em que ainda não houve uma irrupção do ebola, mas onde é alto o risco de contaminação, por exemplo, por viajantes infectados", explica Brady.
Além disso, precisaria ser vacinado um círculo mais amplo de indivíduos, que estão ameaçados mesmo sem ter tido contato estreito com pacientes. Entre eles estão representantes das autoridades públicas ou funcionários de programas de prevenção médica.
Apelo a governos e fabricantes
O epidemiologista vê em seu estudo, acima de tudo, um alerta aos governos e empresas que financiam e realizam a pesquisa de remédios contra o ebola, no sentido de que aumentem seus esforços. Eles deveriam, enfatiza, se preparar para começar a tempo com a produção em massa das vacinas.
"Alguns fabricantes de medicamentos já têm os primeiros candidatos a vacina, assim como medicamentos para o tratamento ulterior que já estão sendo desenvolvidos", revela Oliver Brady.
A OMS também modificou as condições básicas para a utilização de novas drogas, que podem ser levadas aos locais mais necessitados sem a necessidade de laboriosos estudos de campo. "Acima de tudo, é preciso elevar rapidamente a produção. Isso não será relevante apenas para este surto, mas também para furtos futuros", afirma.
ZMapp não substitui vacina
Até o momento, o medicamento mais importante na terapia dos já inoculados com ebola é o ZMapp, um composto de três proteínas retiradas da planta do tabaco. As atuais reservas estão lentamente se esgotando. Porém, segundo reportagem do jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, o Instituto Fraunhofer de Biologia Molecular em Aachen e sua sucursal em Delaware, nos EUA, estariam em condições de produzir rapidamente grandes quantidades da substância, numa unidade industrial especial.
Para Brady, está claro que a eficácia das drogas e seus possíveis riscos só se verificará na prática. "É muito difícil testar a eficiência numa situação de emergência como esta, porque a doença é muito rara. Também por isso é difícil realizar um experimento de campo bem planejado", diz o epidemiologista.
"Precisamos de uma solução em que um grande número de doses de vacina seja produzido e também distribuído de forma mais rápida e justa do que vem sendo o caso com o ZMapp", completa.
Ao que tudo indica, é plenamente justificada a esperança de uma das vacinas desenvolvidas se prove eficiente na prática. Os pacientes que sobreviveram a uma infecção de ebola aparentemente também desenvolveram certa imunidade.